Artista inglês voltou ao País depois de dois anos para encerrar a turnê do seu terceiro disco, ÷
Ed Sheeran tinha 18 anos quando compôs uma canção sobre uma garota “que vendia seu amor para outro homem”, densa e sombria, sobre uma juventude perdida, mas leve graças à simpática feição do ruivo de Halifax, na Inglaterra. “Eu tocava essa musica [chamada “The Team A"] em Londres, em pubs, com três ou quatro pessoas, no máximo”, ele admite.
Desta vez, contudo, está diante de 41 mil fãs, na noite desta quarta-feira, 13, no Allianz Parque, em São Paulo, barulhentos o bastante para mal se ouvir o que o rapaz diz entre uma canção e outra.
É a terceira passagem de Sheeran pelo Brasil. E ele nunca esteve tão grande, artisticamente falando - idem em popularidade, obviamente. Veio em 2017, quando ÷ (ou Divided), seu terceiro disco cheio, explodia no mundo todo. Mas veio 2018. E a turnê de mesmo nome do disco se tornou a mais rentável daquele ano. O garoto inglês vendeu 4,4 milhões de ingressos e arrecadou mais de US$ 384 milhões naquele ano.
Pontual, o inglês deu início à apresentação às 21h. E só saiu brevemente antes de voltar para o bis e, então, se despedir, poucos minutos antes das 23h.
Tudo se tornou ainda mais superlativo para Sheeran. Até mesmo o show do rapaz nascido em 1991 tem sido cada vez maior. Desta vez, chegaram 16 carretas de equipamento e produção para que a experiência em terras brasileiras seja a mesma daquela vista mundo afora.
“Sabem, eu toquei a primeira vez no Brasil em 2015. E lembro como vocês eram barulhentos”, diz ele, sorridente, ao ser ovacionado. “Voltei em 2017. E aqui estou de novo. Esse público parece ser mais barulhento. Acho que vocês mergulharam mais no disco (÷)”, elogiou.
“É o primeiro show que faço em uns três meses”, ele anunciou. “Estou animado! Estamos nos despedindo dessa turnê. Espero que vocês se divirtam.”
O que nos leva de volta a “The Team A”. A mesma balada agridoce e desiludida agora, entoada por aquelas milhares de vozes, soa como uma ficção. O passado sombrio de Sheeran, dos abusos dele com álcool e droga, inclusive, não condiz mais com o que se vê no palco.
Agora, ele não toca para uma plateia mais interessadas nas cervejas que jorram para as canecas do que suas canções. Os fãs agora formam comunidades para transformar cada apresentação única para Sheeran. Na primeira apresentação em São Paulo (data, aliás, acrescentada na turnê devido à alta procura pelo então único show anunciado na cidade, marcado para quinta, 14), o público se organizou para criar um espetáculo de luzes verdes e amarelas com as lanternas dos respectivos celulares.
Ed Sheeran está completamente dentro da engrenagem da música pop. Seu disco, ÷, expandiu sua fama com canções mais intricadas e de melodias mais complexas do que os anteriores. Ainda mantêm o tom agridoce, contudo, com versos sobre corações despedaçados pelo caminho.
Acertou em cheio ao lançar, no início de 2017, dois singles de uma vez. "Shape of You" e "Castle on the Hill" ficaram, respectivamente, em 1º e 2º na Inglaterra - feito jamais realizado por um artista com um par de músicas novas.
Números todos superlativos (com vídeos no YouTube que superaram a barreira de 1 bilhão de visualizações, por exemplo), telões de alta definição desenhando as mais diferentes formas vibrantes no palco atrás de si, tudo contrasta com a presença única de Ed Sheeran ali. Ele, seu violão e pedais com os quais grava as bases, coloca-as em looping, e assim segue, camada por camada, até erguer uma muralha de sons de violões e vozes para suas músicas.
É uma batalha de um rapaz contra milhares. Em qualquer outro ambiente, seria insano pensar na vitória do soldado solitário. Qual outro astro pop se coloca a lidar sozinho com o público por turnês extensas e intensas, sem qualquer outro auxílio que não venha das suas pedaleiras? Quem teria coragem? Quem seria tão bem-sucedido?
Ed Sheeran, entre músicas, decide falar com aquele 2% do público, estima ele, que não está ali por vontade própria. “Os namorados e os super-pais (e mães)”, detalha ele, “que vêm acompanhar seus pares e filhos”.
“Vocês devem estar pensando: ‘Ele foi tão mal em [sua participação na série] Game of Thrones, o que ele está fazendo aqui?’ E eu entendo vocês. A minha promessa é que se vocês se permitirem curtir, vão fazer as pessoas que estão com vocês muito felizes. Vamos nos divertir juntos?”
Sozinho, ele pode transformar sua apresentação como bem entender. Cria vácuos dentro das canções para que o público cante com ele, ou sozinho. Também conecta uma música na seguinte.
Livre, ele faz o que sempre soube fazer. Derramar lágrimas em canções de amor. Canta sobre vivê-los, caso do sucesso “Thinking Out Loud”, com a qual ganhou dois prêmios Grammy (música do ano e melhor performance pop), em 2016.
Também canta sobre como o amor machuca. A melancólica “Photograph” está aí para servir como chicotadas nos corações ainda em cicatrização. “O amor pode doer”, ele canta.
Assim, Sheeran estapeia com uma mão enquanto a outra dá carinho e afago. Cria, com seu violão, essa montanha russa de sentimentos, dos beijos mais apaixonados ao fundo do poço emocional, salpicados por interações sempre simpáticas direcionadas à plateia.
Com isso, passeia pelos seus três discos, x, + e ÷, com destaque para o último deles, é claro. (Sim, todos eles são símbolos de equações matemáticas.) Do começo com “Castle On The Hill” e a extremamente autobiográfica “Eraser”, ambas de ÷, até a sessão de x, com as ótimas e já citadas “Thinking Out Loud”, “Photograph”, seguidas de “Perfect”, outro sucesso recente.
A libidinosa e envolvente “Shape of You”, foi reservada para o bis, com o músico já vestindo a com a camiseta da seleção brasileira de futebol.
Sheeran promete entretenimento. Não tem a pretensão de ser uma espécie de violão-hero, nem sair do seu ambiente estético e melódico. Faz canções para se sentir na pele. De palavras simples para descrever sentimentos complexos. Ele se aproveita dessa complexidade para encontrar espaços e ir mais fundo. Fala sobre o amor, afinal. Simples assim. Tão simples quanto a fórmula: um rapaz + seu violão + seu coração partido.
Ed Sheeran toca mais uma vez em São Paulo. Na quinta, 14, novamente no Allianz Parque. Depois, ele segue para Porto Alegre, na Arena Grêmio, no domingo, 17.