Fernando Trueba fala sobre seu novo trabalho, O Artista e a Modelo, e do documentário sobre jazz latino realizado por ele
O cineasta espanhol Fernando Trueba chamou a atenção do mundo ao garantir o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro a um longa espanhol em 1993. Com Sedução, o diretor ganhou o mundo. “Foi uma agradável surpresa”, diz Trueba em entrevista à Rolling Stone Brasil. Após a estatueta, a vida dele mudou. Segundo ele, para melhor.
“Tento sempre apenas fazer um bom filme, que você não esqueça logo que sair do cinema”, conta. “Prêmios ajudam a continuar com mais independência e liberdade, mas você deve prestar atenção para não se deixar manipular por eles ou perder sua personalidade por ter ganho algo”, diz o diretor.
“Quando você tem sucesso, ganha prêmios, e quer um sucesso ainda maior, com mais prêmios, você entra em uma dinâmica suicida. Penso que é melhor se purificar do sucesso fazendo algo que, somente graças a ele, você pode tentar”, reflete. É notável em O Artista e a Modelo, longa que veio divulgar no Brasil, a vontade de sempre colocar suas paixões a frente de projetos comerciais.
“Eu queria falar sobre essa intimidade quase sagrada que acontece no estúdio do artista quando ele trabalha”, conta. “De alguma forma, isso se torna uma metáfora de qualquer atividade artística. Poderia extrapolar isso no cinema, na literatura ou na música. Queria fazer minha versão. Muitos pintores o fizeram, Picasso fez muitas variações, Matisse e Rembrandt também, Edvard Munch. Muitos gostaram desse tema, mas eu queria fazer isso cinematograficamente”, revela.
Filmado em um belo preto e branco, o longa conta com o estreante Daniel Vilar como diretor de fotografia. “Queria fazer um filme com cara de 2012, atual, mesmo a história se passando nos anos 40. Procurei alguém jovem, que não filmasse com preconceitos ou fórmulas, disposto a se arriscar, tentar coisas novas”.
Na trama do longa, o veterano francês Jean Rochefort interpreta o artista que, no interior de seu estúdio, cria uma relação com Mercè, a modelo vivida pela bela Aida Folch. “Logo quando escrevi, em meados dos anos 90, já tinha os dois atores em mente”, conta o diretor.
Ainda que tenha trabalhado por um tempo como crítico de cinema, a vontade de se tornar um cineasta sempre acompanhou Trueba. “Desde os 16 anos eu sonhava em fazer cinema. O jornalismo que fiz era cinematográfico, então o cinema era sempre meu objetivo“, diz. A música, antes tida “em segundo plano”, vem despertando sua atenção cada vez mais, especialmente após o documentário Calle 54.
“O jazz latino precisava ser descoberto. O norte-americano já tinha muito estudo, livros e produções, mas o latino estava subestimado, não estava devidamente percebido e eu pensava que havia gênios tocando essa música, queria mostrá-los às pessoas”, conta Trueba, que também ingressou na carreira de produtor musical. “É muito bom se desintoxicar entre um filme e outro produzindo um disco, conta.
Embora sejam duas paixões constantemente atreladas, Trueba define sua relação com o cinema e a música de forma direta. “Às vezes digo, o cinema é minha mulher e a música é minha amante”, define o espanhol, que vive um momento peculiar em sua carreira.
No ano passado, ele colaborou com Javier Mariscal e Tono Errando na animação Chico & Rita, indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Agora, apresenta seu primeiro longa em preto e branco. “É uma progressão natural, sempre tentei fazer estas trocas muito fortes; penso que, se você tem um estilo pessoal, ele será visível mesmo que faça coisas radicalmente distintas”, diz.