Evento teve shows de Garage Fuzz, Dead Fish, Emicida e a apresentação relâmpago de Mano Brown
Alterada em 15/04, às 12h34
Com shows de Garage Fuzz, Dead Fish, Emicida, Mano Brown e dos integrantes remanescentes do Charlie Brown Jr., o festival Tamo Aí Na Atividade levou à Estância Alto da Serra, em São Paulo, antigos fãs da banda de Santos buscando reviver a memória de Chorão e Champignon, que morreram no ano passado, e dos 22 anos de carreira de uma das bandas mais veneradas do rock brasileiro. Não à toa, a sensação de uma “festa em família” foi a tônica na tarde/noite desse domingo, 13.
Camisetas com os dizeres “É Tudo Nosso”, “La Família 013”, “Tamo Aí Na Atividade”, algumas frases do ex-cantor Chorão desfilavam na Estância Alto da Serra, localizada na Estrada Velha de Santos, em São Bernardo do Campo, quando o evento abriu as portas. A venda de ingressos na entrada denunciava que o festival dificilmente teria casa cheia, tendo em vista a concorrência com a final do campeonato paulista (ônibus com torcedores santistas passavam no sentido contrário da rodovia, em direção ao Pacaembu, onde o Santos enfrentaria o Ituano), mas isso não importava para quem estava ali para celebrar o legado do Charlie Brown Jr.
As várias opções de comida (dos taco e chili mexicanos aos orientais temaki e yakissoba), assim como a pista de skate, serviam como distração ao público que ainda se acomodava no local. O show do Garage Fuzz, que deu início ao dia de festival foi pouco assistido, enquanto o Dead Fish chamou a atenção do público. A banda capixaba foi recebida com a saudação tradicional entre os fãs, os gritos de “Ei, Dead Fish, vai tomar no...”. Músicas do hardcore autêntico do grupo, como “Bem Vindo ao Clube”, do disco Zero e Um, que completa 10 anos, incendiaram a plateia pequena e fiel às 15h40 da tarde.
O show do Dead Fish terminou antes do horário marcado, e antes das 17h o DJ que acompanha Emicida já soltava as primeiras batidas do show. O rapper cantou as rimas recheadas de críticas sociais e “músicas do gueto”, como ele define, fazendo referências a Queen, Nação Zumbi, Adoniran Barbosa e Sabotage e ressaltando a importância de Chorão para o rap nacional.
E apesar de o rap ter sido influência marcante nas músicas do Charlie Brown Jr., o maior espelho de Chorão, o vocalista Mike Muir, se apresentou em seguida com sua banda, a norte-americana Suicidal Tendencies. Não por acaso, o som pesado e o jeito de se vestir do frontman do grupo lembram Chorão – mais tarde o guitarrista Thiago chegou a dizer “o Chorão queria ser esse cara”. O show do “ST”, como é conhecida a banda, foi marcado por rodas de pogo violentas, em que algumas pessoas saíram sangrando e outras entraram em conflito com os seguranças do local. Além disso, a apresentação ficou paralisada por cerca de 10 minutos por problemas de som e a banda chamou o público ao palco duas vezes, causando um misto de caos e euforia.
Às 20h55, Mano Brown subiu ao palco vestido de laranja e preto, com uma bengala das mesmas cores (que representam a comunidade Vila Fundão), e homenageou o guerrilheiro baiano Carlos Marighella com a canção dos Racionais MC’s “Mil Faces de um Homem Leal”. Por menos de 25 minutos em cena, o rapper não se colocou como protagonista da apresentação, apesar de distribuir sorrisos.
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CBJr. e Convidados
Com atraso de quase uma hora – e após três anúncios do organizador do evento e filho de Chorão, Alexandre Abrão – Marcão, Thiago, Graveto e Heitor entraram em cena em meio aos gritos da plateia. O vocalista Egypcio, da banda Tihuana, foi o primeiro convidado da noite, fazendo tremer a Estância com três hits do grupo de Santos. O tom foi familiar, como prometido pelo organizador, afinal, músicos menos conhecidos, como Márcio Mello, subiram ao palco para lembrar a amizade com Chorão e Champignon.
Supla, que correu muito de um lado ao outro, gritando “come on, come on”, cantou “Hoje Eu Acordei Feliz” e “Rubão, o Dono do Mundo”, levando um papel com as letras da música. Marcelo Nova – com topete e óculos escuros destoando da vestimenta skatista predominante no festival – estranhou a velocidade da música “Hoje” e mais fez gestos e expressões do que cantou. Muitos dos cantores, da mesma forma, deixaram o público fazer o serviço em volume extremamente alto.
A organização enfrentou muitos problemas de som durante todo o evento, provando que o festival, muito mais que um evento comercial, que visa lucros, era uma festa singela, feita com muito suor e pouco conhecimento do ofício. Os microfones que ligavam e desligavam a todo momento, assim como os problemas com a guitarra de Thiago (“capitão” da banda, que entrava e saía do palco repetidas vezes), quebraram por vezes o clima do show, visto que a demora entre uma música e outra era muito grande.
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“Céu Azul”, cantada com simplicidade por Alexandre Carlo, do Natiruts, trouxe lágrimas aos olhos de muitas pessoas, assim como “Só os Loucos Sabem”, na voz de Di Ferrero, do NX Zero. A virtuosa baixista Lena Papini (que tocou com o A Banca) exibiu como um troféu o característico chapéu de Champignon, e fez jus ao legado do baixista tocando “Como Tudo Deve Ser”. A música contou com a participação e um rap improvisado contundente de Emicida. Marcelo Mancini, do Strike, visivelmente emocionado, foi o que chegou mais próximo do carisma de Chorão em cima do palco, com “Papo Reto”, “Não É Sério” e um mosh na plateia.
Músicos mais veteranos como João Gordo, Andreas Kisser e Fernando Deluqui (RPM) pareceram um pouco deslocados da devoção e emoção emanada ali. Mike Muir ainda voltou para cantar com o Charlie Brown e Alexandre Abrão encerrou a apresentação cantando o verso “Então vamos viver e um dia a gente se encontra”, gritando enquanto a garganta permitia.
O clima de celebração exaltado pelo filho de Chorão foi quebrado quando ele mesmo, após ostentar um sorriso satisfeito durante todas as aparições, caiu em choro. As memórias de Chorão e Champignon foram trazidas à tona de maneira humilde, em um local afastado, e com as pessoas que ajudaram a dupla a construir essa trajetória relevante na música brasileira. Nas duas horas de espetáculo, os fãs órfãos do Charlie Brown Jr. tiveram seu momento de êxtase desencadeado em carência, na ocasião mais intensa envolvendo a banda desde a morte de seus dois principais integrantes.