Líder do Joy Division preferiu morte a estrelato; Control estréia nesta quinta
Ian Curtis (aqui, Sam Riley) caminha em direção a uma agência de empregos. De frente para a câmera, camisa e gravata; de costas, um "hate" (ódio) em letras garrafais escrito no sobretudo. Mas ele não é um porra-loca. Na agência, já sem o casaco, senta-se do lado de dentro do balcão - e atende os clientes com delicadeza e cuidado.
Ian se casou aos 19 anos (depois de um "Você é irrecuperavelmente minha" declamado à namorada Deborah, interpretada por Samantha Morton) e mora com a mulher na inerte Macclesfield, nos arredores de Manchester. É por ali que nasce o Joy Division (à época Warsaw), depois de Curtis se oferecer a Bernard Sumner, Peter Hook e Stephen Morris (os posteriores New Order) para ser o vocalista da nova banda. O acerto acontece na saída de um show dos Sex Pistols, em 1976.
Em Control, filme de Anton Corbijn, os fãs de Joy Division podem sentir alguma falta do processo criativo da banda pós-punk autora do hino "Love Will Tear Us Apart" (tocado na cena cume do filme, quando Ian admite que não ama mais a mulher), mas não é exatamente a arte o que importa aqui.
Baseada no livro autobiográfico Touching from a Distance, escrito pela viúva de Curtis, a história contada por Corbijn é a de Ian. Vale notar que o diretor é contemporâneo do biografado - fez diversas fotos do Joy Division nos 18 meses de evidência da banda, no fim dos anos 70. Agora, na tela, mostra um menino que precisa tomar meia dúzia de drogas diferentes contra a epilepsia (recomendável - e obviamente impossível - não beber e dormir bem), que se desespera ao se apaixonar por uma fã enquanto sua mulher está grávida e que rejeita o pacote rock star inerente à função de vocalista de uma banda em ascensão. A representação do desespero - contido - de Ian é garantida pela atuação do novato Riley e pela exposição em preto-e-branco.
Ao contrário da inovação impressa por Todd Haynes ao retrato de Bob Dylan em I'm Not There, Corbijn conta a história do vocalista do Joy Division segundo sua cronologia, traduzida no crescimento de seus problemas: o divórcio e a culpa que sente pelo novo amor, os ataques epilépticos cada vez mais constantes e a concretização do sucesso em forma de turnê pelos Estados Unidos (que não chegou a acontecer).
Tudo está fora de controle. E a escapatória nós já conhecemos. Ian se matou dentro de sua pacata casa, sem alarde, em 1980, aos 23 anos.