Potencial do estúdio vai muito além de piadas e tramas repetitivas
O ano era 2008 e a indústria do cinema estava prestes a mudar, porque teve o lançamento de Homem de Ferro, responsável por dar o pontapé inicial no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). Além disso, o longa ajudou a popularizar os filmes de super heróis e até mesmo reerguer a carreira de Robert Downey Jr. Então, a editora lançaria mais 22 filmes no mesmo universo até hoje e faria um enorme sucesso.
No entanto, grande parte desses 23 filmes possuem a famosa Fórmula Marvel, que traz muitas piadas no diálogos, vilões sem profundidade e com objetivo simples, tom otimista, entre outros. E mesmo com boa parte desses fatores sendo algo, de certa forma, ruim para as produções, os filmes do MCU ainda arrecadam milhões - em alguns casos, bilhões - na bilheteria.
Mas, se for parar para pensar com mais calma, os melhores filmes, e únicos realmente bons de verdade, são aqueles "sérios", como Capitão América 2: Soldado Invernal, Vingadores: Guerra Infinita, Pantera Negra e o próprio Homem de Ferro.
Se for analisar a estrutura do primeiro filme solo dos heróis, é possível notar muita semelhança entre eles, através da Fórmula Marvel.
A fórmula funciona, basicamente com os longas começando com o protagonista em uma situação a qual já está acostumado. Então, o vilão do filme surge de uma relação próxima do personagem, seja membro da família, equipe de trabalho, amizade antiga, entre outros. Lembre-se que o traje usado pelo inimigo é idêntico a roupa do herói, só muda a cor.
Depois de entender a ameaça, o protagonistra enfrenta o antagonista pela primeira vez, e perde. Depois de uma recuperação e redenção, o vilão é derrotado. Boa parte dessa estrutura acontece em Homem de Ferro, Pantera Negra, Homem-Formiga, Capitã Marvel, O Incrível Hulk e Doutor Estranho.
Nesses casos, a Fórmula Marvel torna os filmes mais previsíveis e sem coração, já que diversos outros filmes do MCU seguiram a mesma estratégia de narrativa.
Não se engane, os filmes repleto de piadinhas da Marvel, com algumas exceções, não são ruins, mas eles simplesmente perdem todo potencial que teriam se algo fosse explorado com mais profundidade, como roteiro, vilão e falta de consequência.
Pode-se dizer que isso aconteceu com Doutor Estranho, no qual alguns momentos de humor acabam por não encaixar com o momento, além do antagonista Kaecilius ser superficial e parecer ser uma grande ameaça, mas acaba derrotado com facilidade. Vale lembrar que Dan Harmon, criador de Community e Rick and Morty, foi contratado para escrever diálogos adicionais, muito possivelmente de comédia.
Outro filme que poderia ter ido além foi Homem-Formiga. Inicialmente, o genial Edgar Wright ocuparia o cargo de diretor, mas saiu e foi substituído por Peyton Reed. No final, o público viu mais um filme que estava acostumado a ver: um vilão genérico, várias piadinhas e um roteiro simples. Porém, isso não torna o filme ruim, ele é bastante divertido.
Por fim, temos Thor: Ragnarok, um filme que, particularmente, me decepcionou muito em vários aspectos. O principal ponto negativo foi o próprio Ragnarok - evento profético que representa o fim do mundo, de acordo com a mitologia nórdica -, abordado pelos personagens através de piadas e sem profundidade, mas o fim do mundo deveria ser tratado como coisa séria. Não se tem uma noção aproprioada do significado desse aconteceimento.
Além disso, Thor presencia a morte e destruição de tudo e todos. Mesmo com o pai Odin e o irmão Loki morrendo e a destruição do Mjölnir, martelo dele, isso não parece abalar o protagonista e o emocional infantil dele continua o mesmo.
Em Guerra Infinita, Thor é representado perfeitamente na tela, porque dá para ver que ele usa do humor como vávula de escape e segue atormentado pelos erros e perdas. Infelizmente, isso não acontece em Ragnarok.
No entanto, os únicos dois filmes do MCU conhecidos por ter bastante da Fórmula Marvel que são realmente bons e se destacam são Os Vingadores e Guardiões da Galáxia.
Em contramão de tudo visto pela fórmula, por incrível que pareça, a Marvel se arrisca com filmes mais sérios, complexos e imprevisíveis, porque foi assim que começou, com Homem de Ferro, que tinha a Fórmula Marvel, mas foi inovador. As produções abaixo, não à toa, fazem parte da lista de maior bilheteria do cinema mundial.
Só em 2014 que a Marvel Studios lançou Capitão América 2: O Soldado Invernal, talvez o melhor filme do MCU. Cheio de tramas - e reviravoltas - políticas, o longa também traz sequências de ação muito bem executadas e os acontecimentos trouxeram consequências reais ao mundo dos Vingadores.
Em 2018, com Pantera Negra, os cinemas viram algo inédito: um filme de super-heróis com uma equipe predominantemente negra. O resultado não poderia ter sido outro, o longa foi um enorme sucesso e rendeu alguns Oscars.
Pantera Negra trouxe um debate sore rascismo e uma reflexão de vida muito grande. Michael B. Jordan, intérprete de Erik Killmonger, deu vida ao melhor vilão do MCU e foi um dos maiores destaques do filme.
No mesmo ano, foi lançado Vingadores: Guerra Infinita, responsável por trazer Thanos, um vilão cheio de humanidade, complexidade e emoção. Pode-se dizer que esse filme foi o mais imprevisível de todo o MCU, cujo final tirou o fôlego de todo mundo, e disputa o primeiro lugar de melhor filme da Marvel com Soldado Invernal.
Finalmente, em 2019, foi lançado Vingadores: Ultimato, que fechou todo o arco do MCU desde 2008. Mesmo que seja inferior ao antecessor, toda trajetória dos Vingadores originais do cinema, Thor, Homem de Ferro, Capitão América, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro, foi digno de fazer qualquer um chorar.
Ou seja, esses filmes "sérios" são, de fato, os melhores da Marvel, mas isso não significa que o brilho dos outros, mais simples e menos originais, seja apagado.
Hoje em dia, o segmento de filmes de super-heróis deve muito aos filmes da Marvel, que tiraram o gênero do nicho e o introduziu para um público amplo.
+++ DELACRUZ | MELHORES DE TODOS OS TEMPOS EM 1 MINUTO