Banda de Dave Grohl tocou para 55 mil pessoas, no Morumbi, nesta sexta, 23
Depois de passar por Porto Alegre, na última quarta, 21, o Foo Fighters parou em São Paulo, nesta sexta, 23, para tocar na cidade pela primeira vez fora de um festival (a apresentação anterior foi no Lollapalooza, em 2012). Com Sonic Highways (2014), mais recente álbum na bagagem, o grupo fez um show “inesquecível”, segundo o próprio vocalista, para um público de 55 mil pessoas no Estádio do Morumbi.
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A apresentação, contudo, demorou a pegar fogo. Logo na primeira faixa, “Something From Nothing”, Dave Grohl tomou um tombo enquanto corria de um lado ao outro do palco. Apesar de discreto, o “mico” só escancarou a falta de vigor do início – marcado por um som ainda baixo e impreciso, que deu margem para conversas distraídas por parte do público.
O show seguiu com dois hits: “The Pretender” e “Learn to Fly”, um convite à plateia para soltar a voz junto com Grohl. Durante “Arlandria”, entretanto, ele disse o que todo fã quer ouvir de um ídolo: “Não gastem suas vozes. Temos muitas músicas ainda”. A fala foi uma lembrança de que a apresentação seguiria ao longo de quase três horas e, principalmente, que o melhor ainda estava por vir.
O pedido do vocalista – como era de se esperar – foi desobedecido logo em seguida, quando a multidão pôs-se a cantar os versos de “My Hero”. “Parou de chover. Está bonito!”, pontuou Dave Grohl, notando que a apresentação começava a entrar nos eixos, com o som no devido volume e a reposta constante do público, como aconteceu com as canções seguintes, “Congregation” e “Walk”.
Sem forçar interações, Grohl manteve a naturalidade nos diálogos, só reforçando a fama de boa praça. Ele perguntou quem estava vendo o Foo Fighters pela primeira vez e surpreendeu-se com as poucas afirmativas. “Todo mundo já veio a um show do Foo Fighters. Onde você estava nesse tempo todo?”, brincou com um fã. “Vou fazer isso ser bom para você.”
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A promessa de tocar faixas de todos os oito discos da banda foi cumprida, ainda que sem muita contundência. Do primeiro álbum, autointitulado, apenas a apagada “I’ll Stick Around” foi lembrada – em detrimento de “Big Me”, “This Is a Call” ou até “For All the Cows” –, de Echoes, Silence, Patience & Grace (2007), só “The Pretender” ganhou vida, e até um single recente, como “Rope” (de Wasting Light, 2011), ficou fora do repertório.
Após uma divertida introdução dos integrantes, o show teve sequência com a voz rasgada de Taylor Hawkins, que cantou a charmosa “Cold Day in The Sun”. Ao vivo, as músicas do Foo Fighters são sempre prolongadas, com novos arranjos, viradas e, muitas vezes, jam sessions. Em alguns casos, as novidades são atrativos para além da faixa como ela foi gravada. Outras músicas, contudo, perdem a potência, como foi o caso de “Monkey Wrench”, recheada com solos às escuras.
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A reposta da plateia foi quase um pedido de atenção espontâneo: um bonito espetáculo de luzes com os celulares. E deu certo: Grohl esqueceu-se da guitarra por um momento e virou-se para o público: “Isso está bonito para caralho.”
E a dedicada plateia paulistana foi recompensada logo em seguida. Dave Grohl e o tecladista da banda, Rami Jaffee, caminharam até o fim da passarela para tocar “Skin and Bones” à voz, violão e acordeão. A parte acústica do set, aliás, foi um dos momentos mais genuínos do show, com o frontman se enrolando em uma bandeira do Brasil, conversando bobagem e interagindo com os fãs.
O momento mais tocante foi quando Vinícius (ou “Vesuvius”, como errava Grohl) pediu Mônica em casamento em frente ao público. Apesar de não ser novidade nos shows em geral, o pedido chega a ser inusitado por se tratar de uma apresentação do Foo Fighters. Em seguida, a singela “Wheels” ganhou contornos de emoção e levou às lágrimas boa parte da plateia.
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“Times Like These” começou com Grohl sozinho na guitarra, mas terminou com a banda surgindo no meio da passarela, em um pequeno palco montado – como se estivesse tocando em um pub, só que em frente à multidão. No palco secundário, não só a interação com a plateia se estreitou, como também a relação entre os próprios músicos, distribuindo sorrisos e bebendo champanhe. Lá, a banda reverenciou os ídolos, fazendo covers de “Detroit Rock City” (Kiss), “Stay With Me” (Faces), “Tie Your Mother Down” (Queen, com Grohl na bateria) e a mais catártica, “Under Pressure” (Queen), com os vocais divididos entre o frontman e Taylor Hawkins.
A volta ao palco principal, que não poderia ser mais acachapante, foi com a mais pesada canção do grupo ao vivo, “All My Life”. A esta altura, a reverência ao Foo Fighters era absoluta, e foi reforçada com “These Days” e “Outside” – uma das mais sólidas de Sonic Highways. O carinho do público foi novamente determinante em “Best Of You”, cantada em uníssono, e cujos gritos de “ôôô” foram repetidos diversas vezes após o fim da música.
Foi difícil para Grohl admitir, mas apresentação estava chegando ao fim. Ao longo das 2h45 em que esteve no palco, ele reforçou que iria “tocar até vocês estarem cansados”. “Tem alguns shows que eu sempre lembro e outros que esqueço” confessou ele ao microfone. “Tomei um tombo logo no começo, na frente de um estádio, nunca me esquecerei disso”. Ele seguiu lembrando do pedido de casamento, das intervenções da plateia e da pessoa que nunca tinha ido a um show do Foo Fighters: “Foi bom? Mais ou Menos?”.
No meio do discurso, o público ainda voltou a gritar “Best Of You”, quando o vocalista ameaçou cantar o primeiro verso da faixa novamente e, em seguida, pediu, em tom de brincadeira: “Parem de cantar ‘Best Of You’. A porra da música acabou!”. “Em vez de dizer tchau...”, tentou Grohl, sem sucesso, ensaiar uma despedida. “Vou dizer isso [começando o riff de ‘Everlong’]".
À despeito de todo o barulho acerca do novo disco, Sonic Highways teve presença apagada no show, com “Something From Nothing” e “Congregation” sendo recebidas com atenção quase burocrática. E ainda que a performance musical não tenha sido das mais arrojadas, os acontecimentos inusitados deram características únicas, “inesquecíveis”, ao show do Foo Fighters em São Paulo – o que é suficiente para uma apresentação ficar na memória por um longo tempo.
O Foo Fighters segue agora para o Rio de Janeiro, com show no próximo domingo, 25, no Maracanã, e depois vai a Belo Horizonte, na quarta, 28.