Público enfrentou muita fila e confusão do lado de fora do Parque da Independência, mas quem conseguiu entrar foi ressarcido com variadas apresentações no 16º Cultura Inglesa Festival
O sol castigou quem chegou cedo para conseguir entrar no Parque da Independência, em São Paulo, onde foi realizada a 16ª edição do Cultura Inglesa Festival, neste domingo, 27. E somente estes puderam acompanhar tranquilamente os shows do evento, porque havia muita gente na quilométrica fila que dava a volta na Praça do Monumento. De acordo com informações do portal Terra, na tentativa de conter um eventual tumulto, a polícia fechou os portões para organizar a fila (às 18h05, de acordo com o Twitter do festival), fazendo com que muitas pessoas tentassem forçar sua entrada.
O jornal Folha de S. Paulo noticiou que houve confronto entre a polícia e o público e que os policiais usaram spray de pimenta e bombas de efeito moral para impedir que pessoas furassem a fila.
Em comunicado, a organização do festival lamentou "que tantos outros fãs legítimos não tenham conseguido chegar a tempo de garantir uma boa posição na fila e, consequentemente, uma boa posição no parque. (...) A estes fãs, a organização do 16º CIF estende sua solidariedade e garante que continuará trabalhando para que, na próxima edição, todos tenham igualdade e isonomia para desfrutar as atrações do evento".
Os que conseguiram entrar tiveram a espera e o calor recompensados com grandes shows e uma apresentação devastadora dos escoceses do Franz Ferdinand. Saiba abaixo como foram as principais performances.
Franz Ferdinand
A longa espera, o sol quente da tarde e o aperto cada vez maior na pista só valorizaram o show do Franz Ferdinand, que subiu ao palco com 15 minutos de atraso, às 18h45, para um Parque da Independência tomado por fãs do grupo – muitos, inclusive, com camisetas, bonés e outros adereços da banda escocesa. Embora a apresentação tenha sido enxuta – menos de 1h30 – os maiores hits dos três álbuns foram entoados com vigor pelo público, sensibilizado pela entrega dos músicos. Alex Kapranos, por sua vez, elogiou o local escolhido para o evento: “Vocês têm sorte em ter um lugar como este”, disse o vocalista.
Comemorando dez anos de carreira, a banda mostrou desde sucessos do passado até músicas ainda não gravadas, que devem integrar o próximo álbum.
“Darts of Pleasure”, primeiro hit, de 2003, abriu já colocando todo mundo para pular e provar o sucesso do Franz Ferdinand por aqui – carinho aparentemente correspondido, dada a intensidade dos integrantes no palco. A viagem pelo tempo continuou com a dançante “Tell Her Tonight”, que provou que mesmo após tanto tempo em pé o público ainda estava cheio de disposição.
Quem ficou de fora se espremia para ver a performance nas brechas entre os muros que cercam o parque, e os mais exaltados batiam nas grades de proteção no ritmo da música. Alheios à confusão que começava a marcar a noite, banda e público se divertiram também ao som do álbum Tonight, de 2009. “No You Girls” foi a primeira apresentada do trabalho mais recente da banda e estremeceu o local. A plateia descansou logo após com a comovente “Walk Away”, canção do segundo álbum, You Could Have It So Much Better (2005), interpretada aos sussurros por Kapranos.
As inéditas “Brief Encounters”, “Fresh Strawberries” e “Tree & Animals”, que o Franz apresentou pela primeira vez em um show na Irlanda, na semana passada, voltaram a aparecer no set list. A banda também repetiu a homenagem a Donna Summer, morta recentemente, com a cover de “I Feel Love”.
Em meio a escolha variada de repertório, Kapranos provou ter controle do público ao comandar o corinho de “40 ft”. Quem também foi celebrado no palco foi o guitarrista Nick McCarthy que, além de colecionar bem-sucedidos riffs, também foi ao teclado algumas vezes.
Mas o grande momento do 16º Cultura Inglesa Festival foi a sequência de “Take Me Out”, canção mais festejada e marca registrada do Franz, e “Ulysses”, faixa de abertura de Tonight. O quarteto deixou o palco após “Michael”, mas não havia como se despedir antes de “incendiar” o Parque da Independência. O público já cantava “This Fire” antes mesmo de eles voltarem para o bis. “Jaqueline” preparou o terreno, antecedendo o grand finale com uma versão muito mais acelerada do que a original. Sob adequadas luzes vermelhas, a banda se despediu de um público convencido de que poucas bandas de rock atuais conseguem colecionar tamanha quantidade de hits como o Franz Ferdinand.
The Horrors
Distante, o Horrors não conseguiu a atenção do público que já aguardava ansiosamente o grande show da noite. A escolha por canções dos últimos dois discos da banda, o premiado Primary Color, de 2007, e principalmente de Skying, de 2011, deixou de fora a sonoridade do início do grupo, gravada em Strange House, de 2007. Não foi, entretanto, por falta de esforço que o quinteto inglês decepcionou. O vocalista Faris Rotter pulou bastante e correu todo o palco enquanto o guitarrista Joshua Hayward foi colocando mais peso à sua guitarra ao anoitecer. Mas saíram de cena, às 18h, pouco aplaudidos pelos presentes que já pensavam muito mais em Alex Kapranos e sua trupe.
We Have Band
Exatamente às 15h30 o trio de We Have Band subiu ao palco para a mais surpreendente apresentação do Festival. Carismáticos, conquistaram o público não só com simpatia, mas com uma performance dedicada, na fronteira entre a música eletrônica e o britpop. Darren Bancroft comandou o sampler ao lado do casal Dede WP, a vocalista, e Thomas WP, guitarrista, e conversou bastante com o público, sendo muito solicitado após o show para fotos e autógrafos. A apresentação foi performática, teatral, e os músicos pareceram bastante à vontade para experimentar ao vivo, brincando com a microfonia e com os diversos instrumentos de percussão que tinham ao alcance. Fecharam a performance com o hit “Oh”, de 2008, tema desta edição do festival.
Garotas Suecas
A influência do Rolling Stones na sonoridade do Garotas Suecas fica escondida por trás dos tambores latinos e dos teclados de Irina Bertolucci, mas com repertório exclusivamente do grupo de Mick Jagger, eles mostraram as suas raízes. “Pouca gente sabe, mas começamos há seis anos fazendo cover dos Stones”, explicou o vocalista Guilherme Saldanha. A banda paulistana teve apenas uma hora para explorar a vasta obra dos ingleses, mas “Honky Tonk Women”, “Under My Thumb”, e principalmente “The Last Time” foram bem recebidas pelo público. “Sympathy for The Devil” abriu o show, que ficou devendo “(I Can’t Get No) Satisfaction”, para a decepção de muitos presentes, que ficaram pedindo a música após o encerramento.
Banda UÓ
A pista ainda era povoada por poucas pessoas, que haviam entrado antes das 13h para ver a irreverência da Banda UÓ transformando completamente a obra do Smiths. Mateus Carrilho, Davi Sabbag e Mel Gonçalves, acompanhados pelo DJ e produtor Rodrigo Gorky, ficaram por meia hora no palco, mas cumpriram perfeitamente a missão de reinventar músicas com três décadas de existência e adaptá-las para as batidas eletrônicas e até mesmo para o português. “Hand in Glove” foi traduzida literalmente para “Mão na Luva”, “Ask Me” foi comicamente cantada como “Whiskey” e “Vicar in a Tutu” se transformou em “Pistoleiro Bruto” – “uma homenagem aos homens de nossa terra”, brincaram os goianos. A apresentação, segundo Gorky, foi exclusiva: “Vamos fazer só esses três shows e nunca mais”, garantiu ele, em referência às apresentações que também serão feitas em Campinas, no dia 2 de junho, e em Santos, no dia 3, ambas pelo mesmo Festival.