A penúltima temporada da série, que chegou ao fim no último domingo, 27, percorreu lugares e pessoas e foi de reuniões aguardadas a conflagrações temidas
Quando a Muralha cai e os créditos finais aparecem, 81 minutos já se passaram. Embora tenha sido o episódio mais longo de Game of Thrones, o colossal final da temporada – “The Dragon and the Wolf” – vai direto ao ponto, amarrando trama atrás de trama com uma eficiência impiedosa. Forja e rompe alianças, une e separa casais, recompensa alguns mentirosos e pune outros e, o mais importante, aumenta nossas esperanças por uma grande aliança contra a escuridão, e então as derruba. No meio do caminho, o final da temporada mostra momentos de felicidade e horror extraídos dos maiores sonhos dos nerds por GoT.
A maior parte do tempo de tela vai para Cersei Lannister, como não poderia deixar de ser. O encontro cuidadosamente arranjado entre a artificial Rainha dos Sete Reinos e seus muitos inimigos acontece nas ruínas arenosas do Dragonpit, uma estrutura construída pela Casa Targaryen para proteger o mundo externo de suas armas vivas – e vice-versa. O local nada familiar dá às prolongadas negociações uma sensação de imprevisibilidade e novidade, como se algo novo realmente pudesse ser forjado aqui a partir das cinzas de antigos regimes.
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Entretanto, Cersei está no comando... então, sem chance. Assim que sentar no Trono de Ferro, pretende ficar ali, e nem as mãos de um zumbi agressivo a farão desistir de seu plano. O fato de ter aceitado se reunir com os monarcas rivais Daenerys Targaryen e Jon Snow, de que primeiro Euron Greyjoy, depois ela mesma, saem do encontro, sua discussão amarga com o irmão Tyrion sobre os muitos membros da família assassinados, sua anuência final a uma trégua: tudo é enganação.
No que depender de Cersei, ela pode esperar pelo inverno e deixar os diversos dragões, demônios, zumbis e Dothraki matarem uns aos outros e, então, enfrentar os sobreviventes como quiser. Nem mesmo Jaime – seu irmão, amante e pai do bebê que espera – concorda com o plano. Como ele rapidamente indica, isso é loucura estratégica e moral, considerando o que todos estão enfrentando, mas finalmente entende que sua irmã pirou de vez, depois de uma vida de paranoia, abuso e vinganças. No final, cavalga sozinho rumo ao norte, um homem tentando ao máximo fazer o que sua consciência manda (até o plebeu Theon Greyjoy tem mais apoio quando lança uma missão para resgatar a irmã Yara de seu malvado tio – mas, considerando a força silenciosa da atuação de Alfie Allen no papel, nós também o seguiríamos).
No Norte, as coisas correm de forma muito diferente para outro esquematizador no comando. Sansa e Arya Stark conseguiram enganar magistralmente o enganador, convencendo Mindinho de que seu plano para jogar uma contra a outra estava dando certo. Em vez disso, ele se vê acusado de traição no lugar da irmã caçula (Aiden Gillen, Sophie Turner, Isaac Hempsted Wright e Maisie Williams têm um desempenho maravilhoso neste drama de tribunal medieval). Sansa lista as acusações em uma voz que treme de raiva. Bran joga bombas psíquicas de conhecimento que desmontam completamente o acusado. O próprio Lorde Baelish busca freneticamente as palavras certas para fugir, mudando de emoção para emoção como um robô falhando. Arya assiste a tudo satisfeita até o momento em que corta a garganta dele; afinal, já viu coisa pior. Assim termina a saga de um dos personagens superados apenas por Joffrey Baratheon e Ramsay Bolton na escala “amo odiá-lo”.
No entanto, a ação mais importante de todas, não surpreendentemente, envolve gelo e fogo. No sentido metafórico, Bran e Samwell Tarly usam seus respectivos dons mentais para entender a verdade de uma vez por todas sobre os pais de Jon Snow. Ele é Aegon Targaryen, filho legítimo de Rhaegar Targaryen e Lyanna Stark – o Dragão e a Loba do título do episódio. Enquanto todos ouvimos isso, vemos o Rei no Norte e Khaleesi, sua tia, fazerem amor pela primeira vez (os dragões fazem as coisas de um jeito diferente, ok?). É uma cena que os fãs há muito tempo queriam, apesar de saberem da relação familiar dos dois; ela une o poder da profecia com romance e luxúria. Por mais bizarro que seja, o destino do mundo depende disso. Eles não têm escolha sobre isso, nem sobre se apaixonarem.
Enfim, chegamos ao final do episódio, e com ele o fim de Westeros como conhecemos. Enquanto Tormund Giantsbane e Beric Dondarrion assistem paralisados de horror, os White Walkers e seu exército de mortos chegam a Eastwatch, a fortificação mais remota da Muralha. Ali, o Rei da Noite lança a fúria de seu dragão zumbi, que destrói a imensa barreira antiga com um jato de chama azul. Em uma cena impressionante, os roteiristas e cocriadores David Benioff e Dan Weiss, junto ao diretor Jeremy Podeswa, capturam zumbis olhando, com olhos azuis e vazios, para seu mestre e o monstro dele. Apesar da passividade apática, há um ar de expectativa obscena neles naquele momento, como se soubessem que este é o último obstáculo antes de realizarem o trabalho de destruir toda a vida no planeta.
A penúltima temporada de Game of Thrones percorreu lugares e pessoas e foi de reuniões aguardadas a conflagrações temidas em todos os seus sete episódios. Esse ritmo desestabilizou alguns espectadores, mas, nesses momentos finais, o propósito está claro: esta história, este mundo, tem caminhado para um ponto sem volta. Chegamos a esse ponto. As mentiras, traições, jogos de poder e assassinatos que vemos há sete anos e que ainda continuam neste episódio são uma distração. Estamos nessa juntos e é melhor percebermos isso o quanto antes. Há uma mensagem mais urgente para todos nós prestarmos atenção atualmente?