Ator, que já havia perdido os papéis de James Bond e de Edward Cullen (Crepúsculo), conquista a chance de ser visto pelo grande público em O Homem de Aço
Não é difícil bater os olhos em Henry Cavill e visualizá-lo com capa vermelha e o peito estampado pelo emblema do super-herói que ele encarnará nos cinemas a partir do dia 12 de julho, quando estreia O Homem de Aço. Alto, imponente – mas ao mesmo tempo doce e gentil –, ele tem todas as características do jovem tímido que só quer ajudar o próximo e, ao mesmo tempo, do herói forte que defende os valores dos Estados Unidos – exceto pelo fato de ser britânico.
Henry Cavill desiste de vir ao Brasil por conta de manifestações no país.
Mas a fase nacionalista do Superman já passou, e o novo intérprete faz parte de uma tendência de escalar atores de outros países para papéis de heróis profundamente norte-americanos: “Agora ele é um super-herói universal”, diz Cavill. “Em uma época em que podemos viajar para o outro lado do mundo em 24 horas, ele não está mais restrito à fronteira norte-americana.” Aos 30 anos, esse nativo das Ilhas do Canal, quarto filho de cinco (todos meninos), relembra que a infância passada majoritariamente em um internato não lhe permitiu ter tanto contato com histórias de heróis quanto as outras crianças. Assistia aos desenhos animados do personagem a quem dá vida agora, mas não havia lido as HQs até ser escalado. “Não é como se tivéssemos lojas de quadrinhos dentro da escola”, conta, rindo.
Depois de um papel em O Conde de Monte Cristo (2002), outro em um filme de Woody Allen (Tudo Pode Dar Certo, de 2009) e mais alguns papéis menores, Cavill se tornou um rosto mais reconhecível ao encarnar, na série inglesa Os Tudors, Charles Brandon, 1º Duque de Suffolk – um homem diferente de Clark Kent em todos os sentidos possíveis. “Um tipo cheio de defeitos, anti-herói, é divertido. É bom para colocar para fora as tentações da vida, se livrar dessas emoções”, diz. “Um personagem que está sempre tentando ser perfeito é mais difícil de tornar interessante.”
E é justamente com um dos tipos mais certinhos que Henry tem a chance de provar seu talento para o grande público. Há todo um conjunto de regras a se seguir quando tal personagem já foi encarnado, escrito e desenhado tantas vezes. “Super-heróis têm fãs dedicados, eles pensam muito intensamente a respeito de quem são esses personagens. Apesar de as ilustrações determinarem muitas coisas de forma imutável, as pessoas ainda têm uma imaginação e ideias próprias de como alguém deve soar ou se portar.” É por isso que o ator enxerga uma boa oportunidade de estar sob esse holofote, mesmo que isso tenha um potencial cruel. “Pode te dar muito sucesso, se fizer o papel bem o suficiente para que consiga incluir a visão de todo mundo – e ainda colocar a sua ali. Ao mesmo tempo, se você ou a sua equipe não acertam, isso pode estragar sua carreira. Porque ainda vão te ver como um super-herói, mas como um que falhou.” Não fosse Cavill um cavalheiro, poderia ter mencionado nominalmente Brandon Routh, que ficou com o papel de Clark Kent em Superman – O Retorno (2006), geralmente lembrado como um fracasso.
O conceito de falha, entretanto, é abstrato para o britânico. Ele esteve envolvido com a capa vermelha anteriormente, quando o projeto estava nas mãos do diretor McG, em 2004. Mas, quando o cineasta e a Warner Bros. desfizeram a parceria, Bryan Singer assumiu e “tinha sua própria visão”, conforme define Cavill, que foi excluído desses planos. Depois, ele ficou próximo de ser o novo James Bond, perdendo para Daniel Craig (“que fez um trabalho magnífico”); perdeu duplamente para Robert Pattinson: fez teste para viver Cedrico Diggory em Harry Potter e o Cálice de Fogo e, mesmo sendo favorito da autora Stephenie Meyer, não ficou com o papel de Edward Cullen na saga Crepúsculo.
Não foram grandes traumas. Henry Cavill seguiu conquistando espaço e figurando em listas e projeções que o apontam como um astro em ascensão. Um projeto pessoal desse egiptólogo fanático é o de filmar a história do faraó Ramsés, o Grande. Enquanto isso não se concretiza, ele é frequentemente cotado para o papel de Christian Grey, de Cinquenta Tons de Cinza, em previsões de quem vai encarar o papel mais cobiçado (e temido) das adaptações literárias atuais. De ícone comportado a personagem com cenas de sexo ousadas em uma tacada? “Eu acho que certamente é uma coisa a se pensar”, ele reflete a respeito do choque que isso poderia causar. Mas não demonstra ter ojeriza em relação à ideia de estar no filme, como muitos colegas. “Ainda não tem roteiro nem diretor, eu precisaria de ambos para discutir o caso. Há formas de se fazer esse filme que seriam absolutamente fascinantes.”