Sem Dentes: Banguela Records e a Turma de 94 tem direção do jornalista Ricardo Alexandre
No começo da década de 1990, uma renovação no rock nacional era engendrada por meio de uma rede informal de distribuição de fanzines e gravações demo que pululavam nas redações de jornais e revistas, que os recebiam com interesse e curiosidade. O material chegava também aos escritórios de grandes gravadoras, mas, ocupadas com a música sertaneja, elas não tinham a menor noção do que fazer com aquilo. Os selos independentes da época foram os grandes impulsionadores daquela nova cena. O documentário em Dentes: Banguela Records e a Turma de 94 retrata bem o período, mostrando o selo Banguela como um dos protagonistas da insurgência dos independentes. O filme estreou em julho no 7º Festival Internacional do Documentário Musical – In-Edit Brasil.
A direção ficou a cargo do jornalista Ricardo Alexandre, que, em seu livro mais recente, Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar – Causos e Memórias Memórias do Rock Brasileiro (1993-2008), também aborda o tema. “Só tive a dimensão exata da importância dos anos 1990 fazendo o documentário”, confidencia. “Concluí que foi o melhor período do rock brasileiro.”
Edição 100: Os 100 Maiores Momentos da Música Brasileira.
Sem Dentes traz mais de 1 dezena de depoimentos. De Dado Villa-Lobos e Pena Schmidt, que tinham selos na época (Rockit! e Tinnitus, respectivamente), até Samuel Rosa, do Skank. “O nível de intimidade com os artistas foi maior do que em qualquer trabalho que eu já tenha feito”, declara Alexandre. Nas entrevistas, a sinceridade por vezes beira a exposição de algumas rusgas, mas com muito humor. Como quando o ex-titã Charles Gavin tenta explicar o estouro no orçamento para gravar o Mundo Livre S/A ou o produtor e diretor artístico do Banguela, Carlos Eduardo Miranda, fala da rescisão do contrato com os Raimundos.
O selo que informalmente se desdobrou em central da cena underground teve pouco mais de um ano de vida, mas brilhou muito. Sem Dentes ainda especula as razões para o fim desse breve período de pequenos selos geniais. “O mais legal foi mexer com a estrutura e mostrar que poderia ser diferente”, conclui Miranda.