Em meio a furos no roteiro, Robert Downey Jr. retorna ao papel de Tony Stark mais vulnerável e piadista do que nunca
Tony Stark toma a dianteira no terceiro longa da franquia Homem de Ferro, que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira, 26. Ele o faz de tal forma que o próprio título da produção deveria conter o nome do multimilionário filantropo e não do herói criado por ele graças a sua inteligência imensamente acima da média. Não que a armadura que o torna imbatível não esteja presente – o que não falta nesta terceira aventura são as famosas Mark, nome dado por ele aos trajes –, mas o homem por trás daquele ferro todo está vulnerável como nunca, ainda que engraçado como sempre.
"Nada será igual depois de Nova York", anuncia Tony Stark, vivido mais uma vez pelo impecável Robert Downey Jr., referindo-se aos eventos que destroçaram a Big Apple em Os Vingadores, produção batedora de recordes de bilheteria de 2012. Depois de lutar ao lado de um soldado (Capitão América), um deus (Thor), dois exímios assassinos (Gavião Arqueiro e Viúva Negra) e, bom, o Hulk, ele se vê frágil: um simples mecânico que precisou lidar com um exército alienígena. Entrar no buraco da minhoca, como ele chama o portão dimensional de onde chegavam hordas de aliens selvagens no filme do supergrupo de heróis, e estar à beira da morte transformou a maneira como Tony Stark se enxerga no(s) mundo(s).
A fragilidade chega sob duas formas: a obsessão em criar novas armaduras e ataques de ansiedade. É Tony que está diante de nós, na telona, não uma roupa ultratecnológica e indestrutível. Ele, aliás, aprende que pode ser tão vulnerável como um bebê diante dos poderosos inimigos desta nova aventura, como já pode ser visto nos trailers, que exibiam cenas da destruição da mansão do herói, em Malibu.
Em Homem de Ferro, de 2008, a editora Marvel dava início ao seu ambicioso projeto que culminou em três filmes próprios e Os Vingadores. O longa-metragem de 2012 foi o fim de um ciclo, enquanto Homem de Ferro 3 dá o pontapé para essa nova saga – Thor: O Mundo Sombrio estreia em novembro, enquanto Capitão América 2: O Retorno do Primeiro Vingador chega aos cinemas em maio de 2014, seguido por Guardiões da Galáxia, previsto para agosto.
Como responsável por iniciar essa nova fase que resultará em Os Vingadores 2 , que chega aos cinemas em maio de 2015, Homem de Ferro 3 deixa a desejar. A trama funciona mais como um epílogo da primeira parte do universo cinematográfico do que uma introdução do que está por vir – nem mesmo a cena pós-créditos é suficiente para isso.
Shane Black, roteirista dos quatro Máquina Mortífera, recebeu a missão de seguir com o projeto iniciado por Jon Favreau, que assina a direção dos dois primeiros filmes, e as mudanças estruturais são enormes. O próprio roteiro, escrito por Black e Drew Pearce, apresenta furos e escapa ao conceito trançado criado pela Marvel.
Em meio a esses problemas, Tony Stark precisa lidar com um novo inimigo, o Mandarin, incrivelmente interpretado por Ben Kingsley. O vilão foge da história das HQs, mas é o personagem mais interessante desta terceira aventura. Personifica o ódio do mundo aos Estados Unidos ao mesmo tempo em que satiriza a vilania midiática criada em torno dos terroristas atualmente. Ele invade as transmissões de TV para justificar seus atos (explosões inexplicáveis por todo o globo), mas só consegue a atenção de Stark quando um dos atingidos é o segurança Happy (Favreau). Até aquele momento, o governo norte-americano contava apenas com o Patriota de Ferro, armadura usada por James Rhodes (Don Cheadle). No momento em que Happy vai para o hospital, Stark declara uma guerra pessoal contra Mandarin.
O longa também apresenta a Extremis, biotecnologia capaz de transformar humanos em seres cuspidores de fogo, superfortes e com capacidade de regeneração. Diante desse exército, o Homem de Ferro e suas 40 e tantas armaduras parecem feitos de brinquedo. Com essa nova tecnologia, dois personagens dos quadrinhos, Maya Hansen (Rebecca Hall) e Aldrich Killian (Guy Pearce), são apresentados como cria das ações inconsequentes de Stark no passado. Já Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) finalmente ganha mais espaço na trama, deixando de ser uma mocinha indefesa para realmente funcionar como um contraponto racional ao próprio Tony Stark.
Homem de Ferro 3 funciona para encerrar a trilogia do herói, como um filme divertido e de encher os olhos, mas em nenhum momento melhor do que o primeiro longa baseado no personagem – rivaliza com a segunda produção, de 2010. Humaniza, sim, o homem por trás daquela armadura, ao passo que o posiciona como uma caricatura daquele personagem sarcástico e irônico que trouxe Robert Downey Jr. de volta aos holofotes em 2008. Se Stark diz que nada será igual depois de Nova York, a franquia do personagem também deveria levar isso em conta: principalmente após o ápice de Os Vingadores.