HOTLIST #21
A coluna semanal com os lançamentos mais quentes da música brasileira, escolhidos pela Rolling Stone Brasil
Pedro Antunes, editor-chefe | @poantunes
Publicado em 06/09/2020, às 11h00Jup do Bairro, Terno Rei, Papisa, Luiza Brina, As Bahias (que eram As Bahias e a Cozinha Mineira). A HOTLIST #21 chega com indie, com rap, com novidades do funk, com invenções pop. A música brasileira pulsa possibilidades. Versões acústicas, remixes, clipes com intervenções emocionantes. Ainda bem que estamos aqui, vendo tudo de perto.
Não é fácil dar conta de acompanhar tanto lançamento - e nem temos a pretensão de ter "a lista definitiva" de cada semana, porque esse é um trabalho impossível - mas é bonito ver tanta música boa chegando ao nosso radar desta maneira, em formatos como EPs, singles, discos. A arte vive. A música resiste.
A incrível Jup do Bairro já foi o abre da HOTLIST, na 9ª edição, com o EP Corpo Sem Juízo, e agora está aqui no alto de novo, dessa vez com o clipe emocionante de "Luta Por Mim", uma composição com o incrível produtor/artista Mulambo (anotem o nome dele, porque ele também vai brilhar muito ainda).
Além de Jup e os já citados Terno Rei, Papisa, Luiza Brina e As Baías, a HOTLIST #21 ainda tem Mulungu, FP do Trem Bala, Teto Preto, Edi Rock, Ana Frango Elétrico, Paulo Neto, Putz, Kill Moves, Heavy Baile, IMuNe, Kunumí MC, The Outs, Leo Fressato, Ella from the sea e Saulo Duarte.
Vamos lá?
Jup do Bairro e Mulambo - 'Luta Por Mim'
Grande nome da música de 2020, com o belíssimo EP Corpo Sem Juízo (destaque da HOTLIST #9), Jup do Bairro segue em excelência. Criada e gravada companhia do produtor Mulambo, "Luta Por Mim" se transforma em um vídeo estonteante e poderosa dirigido por Rodrigo de Carvalho e com participação da mãe de Jup, Dona Sueli.
O clipe de "Luta Por Mim" (música disponível nas plataformas digitais aqui) tem roteiro criado por Jup, o diretor Rodrigo de Carvalho e Felipa Damasco e é a última parte da trajetória visual de Corpo Sem Juízo.
Do lamento e dor de mães que perderam os filhos pela violência policial, ao vocal robótico e de grave bravíssimo de Jup e as rimas dilacerantes de Mulambo. Produzida por Pininga, a faixa é arrepiante. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Terno Rei - "São Paulo (Acústico)"
Banda indie mais cool e estilosa do Brasil hoje, Terno Rei vive o gozo de um disco que estoura bolhas, extrapola fronteiras e abre novas possibilidades. Com Violeta (lançamento da antenada Balaclava Records), o quarteto estabeleceu uma nova linguagem e reforçou a identidade própria.
No início de julho de 2020, o grupo recriou as canções do terceiro álbum e outras que marcaram os dois discos anteriores em formato desplugado em uma live. Agora, a ideia do Acústico ganha nova forma. Quatro músicas da banda e uma cover de "Eu Amo Você", de Cassiano e Silvio Rochael, mas que você certamente conhece na voz de Tim Maia, integram o novo EP do grupo que será lançado em breve.
A primeira parte do lançamento é a versão mais arejada de "São Paulo", música adoravelmente claustrofóbica na versão de Violeta. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Luiza Brina - 'Deriva'
Cantora, compositora, instrumentista e, agora, oficialmente, produtora. Luiza Brina coloca no mundo Deriva, o primeiro EP da carreira, criado a partir de parcerias e encontros artísticos à distância. Deriva é estar à deriva. É desvio. É fora da curva.
Luiza sempre foi fora de qualquer curva, inclusive o álbum mais recente dela, Tenho Saudade Mas Já Passou, é uma belezinha. Aqui, ela se experimenta como produtora, cria canções em parcerias Teago Olivera (em "Quando Isso Passar"), Josyara ("Oração 12", música de Luiza inspirada na força do violão de Josyara), Arthur Nogueira ("Súbita Canção), Julia Branco ("Butterfly", a única canção em inglês do EP) e Chico Bernardes ("Garrafa Ao Mar").
Um EP (disponível nas plataformas digitais aqui) criado em quarentena, quando o planeta parece estar à deriva, fora de rota. Cinco canções que dialogam com isso, mas também oferecem um abraço (a voz de Luiza, a cada faixa, se reinventa, se transforma com o sabor do novo vento criativo vindo da parte de quem colabora com ela na faixa. O EP ainda tem a direção artística da antenada e movimentadora Julianna Sá. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
As Baías e Rincon Sapiência - 'Respire'
Depois do EP Enquanto Estamos Distantes, feito durante o período de quarentena, e de ressignificar o nome do grupo, com a mudança de As Bahias e a Cozinha Mineira para As Baías, o trio deu uma nova forma sofisticada para "Respire", canção criada por Rincon Sapiência e Criolo.
Há uma candura na faixa (disponível nas plataformas digitais aqui), até mesmo quando o verso é: "Você não sabe de porr* nenhuma". A importância do amor, de sentir isso, de meditação, da reflexão. Mais um lançamento poderoso do trio para acalantar tempos tão enlouquecedores. A produção da canção foi realizada por Ruxell, Serginho Santos e Pablo Bispo. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Papisa - 'Semente' (remix de My Magical Glowing Lens)
Rita Oliva, que vive na melhor fase artística como a transcendental persona de Papisa, soltou o álbum Fenda em 2019. É dele que vem "Semente", a música reinterpretada pela produtora Gabriela Terra, da My Magical Glowing Lens.
Somam-se aos vocais de Papisa os beats e as fusões sonoras criadas a partir das colagens e instrumentações da estética instigante de My Magical Glowing Lens. A identidade de ambas está presente nesse remix, coexistindo de forma harmoniosa. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Mulungu - Deus Tempo
Se a vaga de nova banda indie preferida estiver vaga, não está mais. Já ouviu o som da Mulungu? Pois deveria, sem dúvida. Ainda sem um disco lançado (a álbum de estreia está previsto para novembro e tem o nome de O Que Há Lá), os rapazes já lançaram o segundo clipe e videoclipe para "Deus Tempo".
"Não se vá, Deus Tempo", pede o vocalista Jáder no refrão, de voz doce, nesta canção tão reflexiva. O mundo precisa de tempo, mas ele teima em ordinariamente seguir em frente, sempre em frente. "O Deus Tempo não vai esperar", diz o último verso da canção.
O trio formado por Jáder, Guilherme Assis e Ian Medeiros é instigante. "Deus Tempo" abre ainda mais as possibilidades sonoras da Mulungu além do que havia sido mostrado com o single de estreia, "No Ar". Voz meio cool, meio metalizada, guitarrinhas fritantes, bateria que quebra a cabeça. Uau! [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
FP do Trem Bala - 'Brotei'
Nome disputadíssimo do funk 150 BPM, FP do Trem Bala se transforma. O requisitado produtor agora também é cantor. Desacelerou os beats, chegou no microfone e prepara um EP para reafirmar a nova fase.
O novo trabalho, que levará o nome de Brotei – Da Favela Pro Mundo, flertará com rap e trap, ele promete. O EP será construído com singles lançados ao longo do mês de setembro e "Brotei" é o primeiro deles: a superação, a chegada. "Brotei". Poderoso. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Teto Preto - 'Tu Cuerpo Es una Armada'
Dono dos graves mais profundos da música brasileira dos últimos anos, estonteantes no palco, poderosíssimos nos estúdios, a incrível banda Teto Preto se aproxima de toda a América Latina com o single "Tu Cuerpo Es Una Armada".
Eletrônica e densa, a faixa tem as vozes entrelaçadas, em looping, em uma mensagem que responde à existência, ainda, de um padrão hétero, cis e normativo. "Seu corpo é um exército", cantam Teto Preto. É isso. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Edi Rock - 'Só Deus'
Não tem para ninguém quando o Edi Rock está sobre um boombap poderoso. A voz de trovão do rapper deita e detona em "Só Deus", faixa que integra o novo EP do artista, Origens - Parte 2, previsto para ser lançado em setembro de 2020.
"Só Deus" (disponível nas plataformas digitais aqui) apresenta Edi Rock no ataque, enquanto critica a fé de fachada, a fé da grana, acompanhado pelos vocais de Daniel Quirino, que derivam diretamente do gospel norte-americano, numa alusão ao tema central da faixa, escancarado no título e no refrão. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Ana Frango Elétrico - 'Escoliose: Paralelismo Miúdo'
Ana Frango Elétrico está lançando um livro com poemas, ilustrações e gravuras de nome Escoliose: Paralelismo Miúdo. Ela, eleita pelo júri da APCA (integrado por este que aqui escreve) como a revelação de 2019, faz aqui as conexões próprias que já conhecemos nos dois álbuns, Mormaço e Little Eletric Chicken Heart: a ideia da arte como uma linguagem múltipla, colorida, imagética, saborosa, sinestésica e mais.
O livro foi lançado pela Edições Garupa (e pode ser encontrado aqui) e tem uma apresentação assinada por Heloisa Buarque de Hollanda. "Trata-se de uma poesia
com outro DNA geracional", diz Heloisa. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Paulo Neto - Uma Canção pra Alguém como Você
Paulo Neto e Zé Ed criaram, durante o período de isolamento social, pandemia e fim dos shows, o projeto Adote o Artista (a conta de Instagram para conhecer o projeto está aqui), no qual eles se dispõem a dar presentes musicais por ligações de vídeo.
E Paulo me ligou um dia desses, meses atrás, e apresentou uma música inédita. Era "Uma Canção Pra Alguém Como Você". Choramos do lado de cá, eu e minha companheira. Bonita, entregue, a faixa é uma declaração intensa. Agora, a versão dessa música ganha o mundo. Versão desnuda, em voz e violão. "Eu estou aqui, inteiro para você", canta Paulo Neto. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Putz - 'fantasma-solidão'
O primeiro single do álbum de estreia da instigante banda Putz chega durante a pandemia, trata de questões que se afloraram justamente no período de isolamento social, embora tenha sido criada ainda antes da crise criada pelo novo coronavírus.
O primeiro disco da Putz, a ser lançado pelos selos Flecha Discos e Forever Vacation Records, começou a ser gravado antes do isolamento social em estúdio, mas finalizado já com cada um dos integrantes gravando à distância.
Densa, "fantasma-solidão" (disponível nas plataformas digitais aqui) evidencia as angústias do isolamento social, nesse caminhar atropelante pela linha que existe entre solidão e solitude, de questões pessoais que entram em erupção. O clipe foi pela vocalista e guitarrista Gi Zambianchi. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Kill Moves - 'Timeless Visions'
Em uma frutífera e constante transformação sonora, a Kill Moves flerta com a nostalgia para apresentar o próprio futuro. Com vozes e guitarras derretidas, acrescidas de violão de 12 cordas e flautas transversais, o grupo apresenta "Timeless Visions", single do novo EP deles, de nome Colorful Noises, a ser lançado pela Balaclava Records.
Sob a ideia dessas "visões eternas" do título, a canção (disponível nas plataformas de streaming aqui) evoca um tempo que não existe mais, dos anos 1990, do britpop que flertava com a psicodelia, de um mundo que, olhando a partir de hoje, desse louco 2020, parecia mais inocente até. Uma dica: não assista ao videoclipe com fome. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Heavy Baile - 'Noturno 150'
Cada vez mais poderoso, o Heavy Baile acabou de soltar o clipe do single "Noturno 150", o novo funk 150 BPM do grupo. No vídeo, dançarino Ronald Sheick faz uma visita virtual ao Metropolitan Museum of Art, de Nova York, o MET, enquanto dança ao som da batida praticamente inteira instrumental.
O clipe, dirigido por Daniel Venosa (da Cosmo Filmes), insere Sheick em obras de arte europeias, povoadas praticamente por pessoas brancas. E, lá, surge o dançarino, o passinho e flerte com outras danças, do samba ao frevo, e o funk, é claro. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
IMuNe - 'Podemos Fazer'
O festival IMuNe (nome criado a partir da ideia Instante da Música Negra) está funcionando à toda velocidade - os debates, chamados de "rolezinhos", ocorrem até o dia 19 de setembro. Para promover o festival, chega o segundo single da chamada Banda IMuNe, formada pelos ótimos Bia Nogueira, Cleópatra, Gui Ventura, Maíra Baldaia, Raphael Sales e Rodrigo Negão.
A mensagem da faixa, que sucede "Movimento É Poder" (ouça aqui) é importante, necessária e poderosa. "Reescrever a história por nós mesmos, estar onde quisermos, manter viva a prática do quilombo, unir, fortalecer, multiplicar e dividir", explica Gui Ventura em um comunicado enviado à imprensa. Para conhecer o Coletivo IMuNe, clique aqui. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Kunumí MC - 'Moradia de Deus'
A existência de Kunimí MC é cada vez mais urgente e importante. O rapper indígena, que vive na aldeia Krukutu, em São Paulo,lançou o single/clipe "Moradia de Deus", criada em parceria com o Programa Convida, do Instituto Moreira Sales.
A faixa (disponível nas plataformas digitais aqui) é quase inteira cantada em português, mas o refrão é cantado em guarani ("Jaikó, jarekó oó / Jaikó, jarekó tekó"). Esses versos significam: "Vivemos e temos casa / Vivemos e nossa cultura está viva".
O clipe, que pode ser assistido abaixo, foi dirigido pelo rapper, inclusive, e tem a ideia apresentar uma reconexão com a natureza, com os conceitos de lar, família e pertencimento. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
The Outs - 'Pra Onde Você For'
Com nova formação, a ótima há tempos The Outs entrega "Pra Onde Você For", como mais uma prévia do novo álbum da carreira, previsto para o primeiro semestre de 2021, com lançamento pelo selo Eu Te Amo Records.
Delirante e sucessora de "Toda Essa Bad" e "Ficar Bem", a música "Pra Onde Você For" explora ambientes sonoros mais oníricos, com cenas e sons liquefeitos. Uma belezinha de ouvir. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Leo Fressato - 'Vênus Com Jasmim'
Contra a frieza e a saudade, Leo Fressato lança "Vênus Com Jasmim" (disponível nas plataformas digitais aqui), novo single acompanhado de clipe colorido, efervescente e dançante. Para celebrar o amor, o cantor e compositor faz dessa canção de entrega um verdadeiro carnaval, mesmo que sozinho.
O clipe, concebido, dirigido e editado por Juliana Sanson, é reafirma a efervescência de um amor, mesmo à distância, na solidão, sem ninguém para farrear. Um sorriso inspirador de se ver durante a quarentena. [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Ella from the sea - 'The Moon'
Criado durante o período de quarentena, o EP 'The Moon', de Ella from the sea é conduzido por temas angustiantes e navega por temáticas e estéticas introspectivas ao longo de três canções e quase dez minutos de duração.
Com "I'll Wait", "To The Stars" e "Side By Side", ela surpreende com uma performance vocal que vai de um canto lírico aos vocais dilacerantes ou gentis. O título do EP, aliás, ofi criado a partir do estudo do tarô e, mais especificamente, da carta da lua. O álbum já está disponível nas plataformas digitais aqui (clique aqui). [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]
Saulo Duarte - 'Tapume'
Saulo Duarte, antes acompanhado da banda A Unidade, partiu para um disco solo (mesmo que feito sempre acompanhado), chamado Avante Delírio, lançado em 2018. Saulo é um artista que não corre às pressas com o mercado da música em transformação. Ele vive a música. Respira. Transpira.
Agora, ele lança o clipe de "Tapupe" (ouça nas plataformas digitais aqui), canção que abre o que seria o lado B do álbum Avante Delírio. Um violão inspirado em Moraes Moreira acompanha o poema de Giovani Baffô musicado por Saulo.
Uma canção que flerta com uma ideia de ficção científica, mas real. E o clipe leva Saulo para esse lugar. O vídeo é assinado pela multi-artista Paola Alfamor, que também lançou um álbum no dia 4 de setembro (ouça aqui) e apareceu na HOTLIST #17 na ocasião do lançamento do clipe/single 'Babylon" (leia aqui). [Texto: Pedro Antunes | @poantunes]