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The Voice Brasil acerta em privilegiar a melhor voz

Mesmo que a estreia do programa dê pouco espaço para as histórias pessoais, a música é celebrada por surpreendentes participantes

Pedro Antunes Publicado em 23/09/2012, às 16h43 - Atualizado às 18h16

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<i>The Voice Brasil</i> - Rede Globo / Alex Carvalho
<i>The Voice Brasil</i> - Rede Globo / Alex Carvalho

Foi com os versos pessimistas de Lulu Santos na canção pop “Assim Caminha a Humanidade” (“com passos de formiga, sem vontade”, diz a letra em dado momento), que teve início o primeiro episódio do reality show musical The Voice Brasil, neste domingo, 23, transmitido pela TV Globo.

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Os quatro treinadores da versão brasileira, Lulu, Carlinhos Brown, Daniel e Claudia Leitte, juntos, no palco, abriram a nova atração vespertina, cantando a música que marcou uma geração na abertura da novela teen Malhação, da mesma emissora. Mas, nesse pouco mais de uma hora de duração, The Voice Brasil esteve longe de transpirar pessimismo ou desilusão.

Pelo contrário. Como já acontece com os irmãos estrangeiros da franquia, o programa prega a alegria de estar no palco cantando. Mesmo os participantes não selecionados – poucos neste primeiro dia – receberam elogios carinhosos do quarteto de músicos que comanda a atração.

A primeira etapa do programa funciona de forma simples. Os quatro treinadores devem escolher 12 participantes que formarão sua equipe. Sentados de costas, eles devem ouvir a voz e, se gostarem, apertam o botão a sua frente. Caso mais de uma pessoa o escolha, é o candidato quem definirá qual será o seu tutor.

É aí que o programa ganha seu maior qualidade na estreia: o embate entre os próprios músicos famosos. Claudia Leitte e Carlinhos disputaram pela escolha de uma voz mais de uma vez. Piadista, o músico baiano fez vários gracejos pedindo para que fosse escolhido. Ele e Lulu, aliás, mostraram boa desenvoltura em frente às câmeras. Daniel foi o mais sóbrio dentre os quatro, levando bastante à sério a ideia da montagem de um time. Nas versões estrangeiras, a disputa entre os treinadores é tão importante quanto o vencedor em si. Aqui, tudo é mais camarada.

Como não há calouros, nem vozes desastrosas, o programa foge do apelo popular, da palhaçada, mas se mantém fiel à música, seja nacional ou internacional. Foi surpreendente a quantidade de bons cantores que surgiram cantando em inglês. “Moves Like Jagger”, do Maroon 5, foi executada numa versão cadenciada em voz e violão; “Someone Like You”, da britânica de vozeirão Adele, foi brilhantemente interpretada por uma americana casada com um brasileiro (ei, isso vale?); e um garotão de olhos claros fez Claudia se derreter com “Viva La Vida”, do Coldplay, mas, no fim, decidiu ter Lulu como tutor.

A atração, neste primeiro momento, dá pouco espaço para as histórias dos candidatos – é a voz acima de tudo, lembra-se? Deste modo, coloca o público no próprio papel dos quatro treinadores, que desconhecem os cantores. Como produto transmitido na TV aberta, a humanização dos personagens cria um laço forte entre público e programa. A escolha, contudo, é compreensível dado o enorme número de candidatos selecionados nesta primeira fase: são 105 disputando 48 vagas. Nas fases seguintes, em que se iniciarão as batalhas entre eles, o envolvimento deve crescer.

O momento mais tocante foi exatamente com um candidato não escolhido pelos treinadores. Um índio decidiu pelo estilo sertanejo e não agradou a ponto de valer um lugar em algum dos quatro times. Mas, quando Lulu, Daniel, Carlinhos e Claudia se viraram e o viram, mostraram arrependimento e foram todos abraçá-lo. “Eu queria ter escolhido o índio”, já havia confidenciado Carlinhos em uma coletiva de imprensa, no Rio de Janeiro, na última terça-feira. Ora, a ideia não era escolher uma voz, e somente ela, pura e sem interferências?

O formato, por enquanto, ainda não deu o devido espaço para Thiago Leifert, até então apresentador do programa esportivo Globo Esporte, mostrar sua descontração na frente das câmeras, com entrevistas com os candidatos. A atriz Daniela Suzuki, responsável por mostrar o clima no backstage, fez uma pequena aparição nesta estreia. Em ambos os casos, eles deverão ganhar mais espaço nas fases seguintes.

Sem apresentador no palco para comandar a atração, The Voice Brasil ganha pela certa anarquia no palco, já que tudo é decidido pelos quatro treinadores. O opção cega pela voz priva o público de algumas risadas e evita o surgimento de um novo vídeo divertido na internet, mas coloca o programa como o mais musical do gênero na televisão brasileira.

O The Voice Brasil vai ao ar todos os domingos, às 14h15, na TV Globo, até o dia 16 de novembro, quando será decidido o vencedor desta primeira temporada.