Irônica, maldosa, pop, eletro e anos 1980: conheça I Dont Know How But They Found Me e seu disco de estreia, Razzmatazz
I Dont Know How But They Found Me é uma banda nova com uma vibe de banda velha. Seu visual, seus efeitos sonoros, seu jeito de fazer música… Você já viu ou ouviu tudo isso durante anos 1980. Mas… Não, não ouviu exatamente isso. Eles são completamente atuais - e podem ser a banda favorita dos saudosistas de outrora, dos glams dos anos 1980, dos novos adolescentes da internet, daqueles mais pop, mais rock, Beatles ou Bowie ou Madonna ou Def Leppard. Sim, são um pouco disso tudo.
O supergrupo - formado por Dallon Weekes, ex-Panic! At The Disco e Ryan Seaman, ex-Falling in Reverse - lançou Razzmatazz, disco de estreia, pela Fearless Records. Depois de pequenos problemas técnicos, a estreia foi adiada para esta sexta, 23 - e chegou!
Das 12 faixas, quatro eram singles - “Leave me Alone” abre o disco. E seus primeiros 30 segundos já apresentam toda a proposta do IDKHow: nostalgia vintage musical. As batidas eletrônicas levam qualquer um para o disco dos anos 1970, mas também tem os efeitos eletrônicos dos anos 1980, e uma ou outra distorção que só viria anos depois. Mas não importa quanto soe: você sabe realmente que aquilo é totalmente 2020.
Pode ser o efeito da autenticidade temporal - você pode fingir que está no passado, mas não está, necessariamente. Mas IDKHow tenta! Usam ao máximo os “instrumentos orgânicos”, como descreveu Weekes em uma entrevista para Rolling Stone Brasil, e tentam com afinco voltar ao passado: gravam seus clipes em VHS. “Existe um aspecto muito especial em todos esses equipamentos que você não pode realmente replicar digitalmente. Quer dizer, até dá, existem filtros e tal, mas sempre dá para dizer quando é algo novo que foi feito para parecer antigo.”
A música modernizada, porém, é uma ótima ideia. Mesmo porque, se alguém quiser ouvir David Bowie ou Michael Jackson, é só ir lá e dar play na discografia empoeirada. Mas, se procuram um quê do conhecido com a ousadia do novo, cá está o duo norte-americano. “New Invention”, terceiro single de Razzmatazz, é uma boa mostra disso.
É bem difícil, porém, não notar uma ou outra semelhança com Panic! At the Disco. Nem tanto no som - mas no uso curioso de instrumentos, sons e samples. Panic não ligava muito para tendências e criou o próprio som nos anos 2000. Mas IDKHow liga ainda menos - e cria o próprio som em 2020 - mas sem o fator “vendável” para massas do grupo de Brendon Urie. (Uma mostra da irreverência é o lyric video de “Lights Go Down”, outro single do novo disco. A banda informou: “falaram para gente não colocar um solo de saxofone aqui. Mas colocamos mesmo assim").
Como mais de um comentário nas redes sociais diz, “ficamos feliz que o Dallon saiu do Panic! at the Disco, se não, nunca ouviríamos Razzmatazz.” O disco é uma coletânea feita pelo músico desde quando que saiu do grupo. Ele e Ryan tocam juntos. Mas, agora, finalmente da maneira que o músico queria: do jeito dele.
Leia abaixo a entrevista de Dallon Weekes, do I Dont Know How But They Found Me, para Rolling Stone Brasil:
Ei, Dallon, como você está?
Bem, sabe… Tentando ficar a salvo e não me estressar muito. Estou em casa, passando muito tempo com a família ultimamente, e acho que essa é a parte boa de toda essa quarentena. Tenho dois [filhos], uma menina de 12 e um menino de 10.
Oh, isso é legal. Sobre música: você e Ryan estão prestes a lançar o primeiro álbum com o IDKHow, Razzmatazz, mas se conhecem há muito tempo. Como você decidiu fazer uma banda, se reunir e fazer música?
Olha, tudo aconteceu bem organicamente. Eu tocava com o Panic! At The Disco há anos e toda a minha produção criativa era direcionada para eles. Mas, sabe, bandas mudam e evoluem com o tempo. Então, eventualmente, eles não precisaram mais de mim para escrever música. Comecei a fazer gravações por conta própria, sem nenhuma intenção ou propósito real por trás disso, só tirar isso da minha cabeça. Eu chamava Ryan para colocar bateria no que eu fazia. Daí, meio que começamos a passar o tempo juntos.
Nos conhecemos há muito, muito tempo. Então, enquanto gravávamos isso, tivemos a ideia de tocar ao vivo anonimamente. Reservávamos shows em segredo durante quase um ano. Íamos a casas aleatórias e tocávamos em salas cheias de estranhos que não sabiam e não se importavam em quais bandas estávamos. Estava ali apenas para ver se a música que eu fiz poderia se sustentar por conta própria.
Sim… Mas, olha, não sei se essa pergunta tem uma resposta, mas… Qual é seu estilo musical (ou estilos musicais)?
Bem, gosto muito de indie e algumas coisas indie pop e muitas músicas mais antigas, também. Tipo, eu sou um grande fã dos Beatles, David Bowie, Sparks, Queen, Oingo Boingo, T. Rex, esse tipo de coisa. Tem muita música… De coisa mais nova ouço Caroline Rose… Eu estou por todos os lados.
Pode me contar um pouco sobre seu processo de gravação? Como você escreve músicas, você e Ryan, como é no estúdio, quem grava o que…?
Por enquanto eu fiz todo o processo criativo, letras e tal, mas conforme avançamos no processo, acho que Ryan pode estar mais envolvido na composição, porque ele é um escritor muito talentoso. Basicamente, o que fizemos até agora são apenas coisas colecionadas por mim no passado, durante os últimos seis ou sete anos, aí Ryan vem e coloca a bateria - escreve todas as partes da bateria e grava. Mas, é, tem sido muito bom poder finalmente ter uma válvula de escape para tudo isso da minha cabeça.
Vocês usam muita música eletrônica, e atualmente muitas bandas, muitos artistas, gostam de ter todos os instrumentos eletrônicos - bateria, piano, tudo. Vocês fazem assim ou são oldschool? Gravam a faixa eletrônica depois?
Misturamos bem. Gosto de gravar no analógico sempre que posso, com pianos reais, guitarras reais, baterias reais. Mas, dependendo da situação de gravação em que você está, isso nem sempre faz sentido. Por exemplo, se você não tiver esse material disponível, usaremos samples ou algo eletrônico. Mas não há um conjunto real de regras quando se trata do que gravamos. Gosto de estar aberto para fazer. Qualquer coisa e tudo que possamos pensar, seja eletrônico e samples, um instrumento orgânico ou acústico, não há regras definidas.
Qual é a maior diferença entre estar no Panic! e estar com o Ryan, ter sua própria banda?
Não há ninguém entre a ideia original e o produto acabado. Quando você escreve para outro artista, precisa filtrar através de sua marca e através de suas lentes, então o pessoal da rádio chega, e seus gerentes entram, e todos eles têm ideias e as colocam em sua ideia. Na minha experiência, isso acaba transformando sua ideia inicial em outra coisa que pode dar muito certo, mas você não gosta tanto. Vindo da perspectiva dos escritores, é bom ser capaz de não ter nenhum filtro ou ter suas idéias diluídas, ou a mensagem e significado por trás delas mudados.
Bom, o IDKHow toca há alguns anos. Por que decidiram que agora era uma boa hora para um disco?
Queríamos lançar um álbum há muito tempo. Quando inicialmente gravamos nosso primeiro EP, a ideia era fazer um disco inteiro. Esse álbum que fizemos, Razzmatazz, sempre foi pensado para estar junto das músicas que estão no EP. Mas nossa linha do tempo ficou um pouco distorcida por causa de todas as oportunidades que surgiram. Nossa linha do tempo mudou e a gravação deste álbum foi suspensa para podermos sair em turnê e construir um pouco mais a banda
Qual sua música favorita do IDKHow?
Das que fizemos até agora, provavelmente é “Razzmatazz”, a faixa-título do disco. Tem uma outra que acho que ficou ótima no final, chama “From the Gallows.” É essa balada de old jazz e parece com um quarteto acappella e encaixa ali, mas de uma maneira estranha, meio espiral. Foi muito divertido fazer.
Na estética, vocês tem esses looks meio… Analógicos. Eu gostei muito, e quero saber como vocês gravaram - a tela verde, é tudo diferente? Vocês gravam seus clipes de uma maneira diferente?
Oh, fazemos um esforço extra para usar equipamentos autênticos de mais de 30 anos atrás, sabe, câmeras VHS e equipamentos de fita analógica. Existe um aspecto muito especial em todos esses equipamentos que você não pode realmente replicar digitalmente. Quer dizer, até dá, existem filtros e tal, mas sempre dá para dizer quando é algo novo que foi feito para parecer antigo em vez de algo que foi gravado em um equipamento vintage. Fazer assim é mais trabalhoso e mais complicado. Mas acho que o resultado vale o esforço extra.
Como vocês encontraram gente que ainda sabe trabalhar com câmeras de 40, 50 anos atrás?
Acho que sempre existe uma curva de aprendizado para diretores e pessoas que trabalham com isso, ou estão vagamente familiarizados com equipamentos mais antigos. Mas não é algo com que eles trabalhem regularmente. Mas descobri que sempre que temos uma pequena coleção de VHS antigos, quem quer que esteja nos ajudando a produzir o vídeo vai entregar esse equipamento [para os diretores] e eles entendem rapidinho.É só uma questão de encontrar pessoas que queiram dedicar um tempo para aprender e fazer isso da maneira certa.
Cara, muita gente que ouve IDKHow pela primeira vez vai nos comentários dizer como vocês são estranhos. Vocês também acham isso?
Olha, tenho esperança de ser estranho. Realmente gosto de coisas que estão um pouco fora do centro, sabe? Se você pensar 50 anos atrás, o que os Beatles faziam era considerado estranho na época, fazendo discos como Sgt. Pepper's, ou David Bowie fazendo Ziggy Stardust. Tudo era considerado estranho na época. Então, espero sempre nos esforçar para fazer algo um pouco inesperado ou um pouco estranho, porque acho que isso tem tendência a ter uma qualidade mais duradoura nesse mundo da música pop.
Depois da quarentena, vocês já falaram de turnês, shows…?
Queremos começar imediatamente. Realmente sentimos falta durante toda essa quarentena, e isso me fez perceber o quão importante é, para mim, estar no palco. É um tipo de liberação psicológica, é terapia, de certa forma. Você sobe no palco e se esquece de tudo por uma hora ou mais, e passa a existir em um único momento. Realmente sinto falta.
Lembra quando foi seu último show?
Na frente de outras pessoas? Não sei. Faz muito, muito tempo. Vários meses… Quer que eu procure a última? Não?
Tá tudo bem! Sobre as suas novas músicas… Qual delas você acha que vai ser mais legal, terá mais energia de palco?
Difícil dizer... Realmente acho “Razzmatazz” muito forte. Estivemos em um estúdio de gravação com alguns outros músicos há algumas semanas, gravando alguns sets ao vivo com músicos de verdade - pianos, guitarras e tal. Tocar “Razzmatazz” ao vivo com um grupo de músicos foi muito, muito bom. Mal posso esperar para tocá-la no palco para as pessoas.
Você visitou o Brasil com o Panic, né? Em 2009, 2010… Você tem alguma memória especial daqui?
Nossa, sim. Muitas boas memórias. Principalmente relacionadas a comida [risos]. A comida aí é incrível. As pessoas são ótimas. Os fãs são tão maravilhosos, e fazer shows por aí é quase como estar nos Beatles. É uma loucura. Os fãs são tão entusiasmados e incríveis. Realmente espero que tenhamos a chance de vir e tocar com vocês em breve.
Eu também! Nunca estive em um show do Panic, sempre estava em época de provas na escola! Mas acho que é isso… Quer dizer algo mais?
Só que realmente agradeço por você ter nos dado a oportunidade de falar com a galera do Brasil. Estou muito grato que haja fãs de IDKHow no Brasil, ouvindo o que fazemos e nos apoiando, estou muito grato por isso. Então, obrigado.
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