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Gravidade, de Alfonso Cuarón, proporciona 90 minutos de agonia - e é ótimo

Depois de arrecadar US$ 55 milhões em bilheteria, nos Estados Unidos, filme com Sandra Bullock e George Clooney chega ao Brasil nesta sexta-feira, 11

Pedro Antunes Publicado em 11/10/2013, às 08h51 - Atualizado às 10h17

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Gravidade - Divulgação
Gravidade - Divulgação

O grande acerto de Alfonso Cuarón em Gravidade, filme que estreia nesta sexta-feira, 11, no Brasil, é conseguir levar o público para dentro da tela. O ar parece fugir dos pulmões durante 90 minutos, como se todo o cinema também estivesse no espaço, a 600 Km de distância da Terra, ao lado de Sandra Bullock e George Clooney, protagonistas do longa.

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Graças a técnicas de filmagem e tecnologia criada especialmente para a produção, Cuarón faz com que a sensação de claustrofobia, diante do infinito espacial, seja partilhada entre nós e eles, os doutores Ryan Stone (Bullock) e Matt Kowalski (Clooney). Funciona como uma instalação artística de dar inveja, pela força da conexão entre as pessoas e o que está diante delas, na telona. E não é preciso estar em uma sala de 4D, a imersão funciona naturalmente.

Não parece ser por acaso que o longa teve uma estreia considerada ótima nas bilheterias norte-americanas, arrecadando US$ 55 milhões, e tem sido apontado como um dos favoritos ao Oscar em 2014.

Este, porém, é também o maior problema de Gravidade. Enquanto respirar parece ser difícil ao assistir ao filme, toda a trama fica exprimida nesta luta pela sobrevivência, sejas dos personagens, seja do público. É, sim, uma ficção científica, mas o roteiro, assinado pelo mesmo Cuarón, aborda uma temática ainda mais ampla e igualmente profunda: a escolha entre viver e morrer. Um tema universal, que funcionaria debaixo d’água, no deserto, em uma densa floresta, mas que perde impacto diante das sensações e sentimentos claustrofóbicos que o filme proporciona.

O longa é montado sobre duas bases: efeitos de tirar o fôlego e diálogos entre Bullock e Clooney. E o primeiro leva a melhor. Até mesmo o bonachão Matt Kowalski, personagem de Clooney, brinca com a vista, ao pedir para que a companheira de missão Ryan Stone assista ao pôr-do-sol visto lá de cima. É difícil competir com a beleza grandiosa diante dos olhos.

Os dois astronautas estão em uma missão rotineira de reparo do telescópio Hubble e, a cada pequeno deslize, como um parafuso que se solta e vaga pelo vácuo, o fôlego vai embora, como um reflexo de uma tensão pós-trailers. A ação, contudo, não demora a aparecer. A equipe é avisada de que destroços de um satélite russo vagam pela órbita terrestre e podem colidir com eles. Após uma série de desastres que parecem não ter fim – e devem durar uns intermináveis cinco minutos -, Dra. Stone vaga pelo espaço, solta de qualquer estrutura. A câmera se afasta, mostrando a miudeza dela diante do negrume espacial.

A voz consciente vem de Clooney, que interpreta o piloto Kowalski, um experiente astronauta que faz o último voo pelo espaço antes da aposentadoria. É o contraponto de Dra. Stone (Bullock), como um piadista , à vontade no uniforme de astronauta, vagando pelo espaço com uma mochila propulsora. Sua participação funciona também como a consciência da outra protagonista. “Você precisa voltar”, diz ele.

Os dilemas são vividos pela Dra. Stone, uma cientista que perdeu tudo o que tinha aqui na Terra quando a filha morreu e agora leva a vida como na cena em que se solta da espaçonave, vagando sem rumo, objetivo e direção. É ela que comanda a ação no filme, uma espécie de marinheira espacial de primeira viagem.

Cuarón brinca com precisão entre planos fechados e abertos. Imensidão e a claustrofobia são divididas por uma linha tão tênue que se misturam em uma só agonia. Ele ainda usa câmeras em primeira pessoa, colocando o público dentro do capacete dos astronautas, para mostrar a visão limitada através das viseiras.

A gravidade é a grande personagem do longa. Tudo gira, ironicamente, em volta da dela – ou da falta dela, no caso. E como isso pode ser assustador! Quando James Cameron (Titanic e Avatar) disse a Cuarón que este era “o melhor filme espacial da história do cinema”, não era um grande exagero. Apesar da camaradagem entre os dois grandes diretores contemporâneos, o longa estabelece, sim, novos parâmetros para este tipo de temática – e que nos perdoem, Stanley Kubrick, George Lucas, Ron Howard, Ridley Scott, entre outros que já embarcaram em viagens para fora da Terra.

Na visão do diretor, o espaço pode ser tão belo quanto assustador – e talvez o pêndulo aponte mais para a segunda opção. E não se preocupe se, após os 90 minutos de Gravidade, ainda sinta certa dificuldade para respirar. Isso vai passar.