Filme, que estreia nesta sexta, 28, traz ainda uma ótima performance de Joseph Gordon-Levitt
Não tem como negar o apelo inerente às tramas de viagem no tempo. Livros e filmes parecem encontrar um nicho especial logo de cara, só pelo fato de tratarem desse assunto – sejam essas obras boas ou não. As boas entraram para a história. Estão aí para provar a trilogia De Volta Para o Futuro e o livro A Máquina do Tempo, de H. G. Wells. Difícil dizer se esse é o caso de Looper: Assassinos do Futuro, que chega aos cinemas nesta sexta, 28, mas o filme certamente tem um conjunto todo seu de méritos.
Dirigido e escrito por Rian Johnson, de Vigaristas e A Ponta de um Crime, o filme é um thriller que carrega as melhores características do gênero. O enredo gira em torna de Joe (Joseph Gordon-Levitt), nome sugestivo, que em inglês integra diversas expressões cujos significados indicam alguém médio e descartável. Ele trabalha como “looper” – sua função consiste em ser uma espécie de lixeiro da máfia do futuro, um futuro em que já existe a possibilidade de se locomover pelo tempo, mas em que a atividade foi proibida por lei. Como todo ramo lucrativo e proibido, as viagens no tempo acabaram sendo dominadas por gângsters. Os bandidos usam a tecnologia para mandar seus inimigos ao passado, época em que eles podem ser mortos e depostos sem que sejam rastreados pelos chips que, segundo quase todos os filmes de ficção, teremos implantados em nós, no futuro.
A realidade muda para esses loopers, jovens bem pagos, festeiros, adeptos de drogas e prostitutas, quando a máfia começa e exigir que cada um deles mate seu “futuro eu”. Eles já sabiam que corriam esse risco, não é à toa que vivem uma vida imediatista e hedonista. Mas chegado o momento de lidar com o próprio futuro, que se materializa em carne e osso na frente deles, cada um tem um problema diferente. O do protagonista Joe é que seu “eu” 30 anos mais velho (interpretado por Bruce Willis) consegue fugir. E deixar o alvo escapar é a pior coisa que um looper pode fazer.
Está dada a largada para os chefes do jovem Joe o perseguirem, enquanto este corre para pegar sua versão mais velha, que por sua vez está atrás do homem que mandou matá-lo no futuro (ainda uma criança, nesta realidade). Trata-se do tipo de filme em que não se pode contar muito das reviravoltas da história, mas vale destacar que, no fim das contas, dentre todas as artimanhas típicas da ficção (tem ainda telecinese e veículos voadores), estética de distopia e clima de filme sobre crime, trata-se de uma lição levemente piegas de como o amor tem mais força para fazer uma máquina girar do que dinheiro, poder ou qualquer outra coisa.
Duas vagas lembranças percorrem a mente de forma inesperada em dados momentos: os toques de aspectos sobrenaturais à la M. Night Shyamalan e a intensidade típica de John McClane, personagem clássico de Willis na cinessérie Duro de Matar, nas cenas de ação do ator. No mais, destaque para o sempre ótimo Jeff Daniels, que faz o papel de Abe, uma espécie de representante dos mafiosos do futuro escalado para cuidar dos negócios no presente; e também para a atuação do cada vez melhor Gordon-Levitt. As sacadas dele de como reproduzir os trejeitos já tão conhecidos do veterano ator com quem dividiu o personagem foram essenciais. Não atrapalha na sensação de veracidade das coisas – embora possa causar uma certa distração –, que ele tenha recebido lentes de contato e maquiagem especial para que se parecesse mais com Willis.
A sensação, ao final, é que algumas coisas ficaram sem explicação. Não em termos de história: é que o próprio Joe se mostra confuso quanto ao funcionamento dessa mecânica toda de presente alterar futuro ou futuro alterar presente. Mas é aí que moram tanto a graça quanto o perigo das histórias de viagem no tempo, nenhuma sobrevive completamente ilesa à análise mais científica. Isso vale desde para obras mais sérias até para as cenas de Michael J. Fox desaparecendo enquanto toca guitarra, em De Volta Para o Futuro. Não significa que não é divertido entrar na piração.