Quarteto de Nova York – que fez dois shows em São Paulo pelo Art of Heineken, este mês – mantém as guitarras em alto volume enquanto sobrevive alheio às tendências e às redes sociais
Não é todo dia que o público brasileiro tem a chance de assistir a uma banda como o Parquet Courts em solo nacional. Desde 2011, o barulhento e prolífico quarteto de Nova York lançou oito álbuns, entre discos de estúdio, ao vivo e EPs, e depois do criticamente aclamado Human Performance (2016), eles reivindicaram um lugar na “elite” do indie rock – segundo o próprio vocalista, Andrew Savage –, com agenda lotada e posições de destaque nos festivais do hemisfério norte.
Em uma época que o rock anda cada vez menos glamoroso, contudo, ainda são poucas as turnês de bandas bem sucedidas que incluem a América do Sul em suas rotas. A vinda aconteceu graças à exposição The Art of Heineken, que levou ao topo do MAC-USP, em São Paulo, eventos com shows de Warpaint, Liniker, Emicida, Metá Metá, Far From Alaska, entre muitos outros. O Parquet Courts se apresentou no sábado, 4, e no domingo, 5, abrindo para a atração principal, o Peter Bjorn and John.
Entre os dois shows no Brasil, no meio da tarde de domingo, os integrantes – o também guitarrista e vocalista Austin Brown, o baterista Max Savage e o baixista Sean Yeaton completam a formação – receberam a reportagem da Rolling Stone Brasil para falar sobre Human Performance, o estado do rock no mundo, a música brasileira e a importância das redes sociais no meio artístico.
Caminhando pelo amplo hall do hotel de luxo em que eles ficaram hospedados, na região da Avenida Paulista, os quatro membros do Parquet Courts pareciam em mundos diferentes. Enquanto Andrew usava boné, camisa abotoada e óculos, remetendo a uma espécie de nerd desvirtuado, Brown deixava os longos e loiros cabelos soltos, carregando um copo de bebida. Com a aparência que mais se aproxima do estereótipo de um roqueiro clássico, Yeaton chegou atrasado para a entrevista e o pouco expressivo Max sequer deu dicas de que comemorava o aniversário naquele dia.
Em cima do palco, o Parquet Courts é ainda mais particular do que no saguão do hotel. Andrew abusa dos gritos e canta para expurgar demônios, enquanto Brown exala cinismo e uma expressão delicadamente forjada para contemplar sua poesia. Com as guitarras, os dois mantém um diálogo que soa mais como o Sonic Youth, mas remete ao entrosamento dos agudos do Strokes nos primeiros discos. Mais energético, Yeaton só para de balançar a cabeça lateralmente para dar um gole de cerveja e Max é tão concentrado e elegante que mais parece estar cozinhando a janta do que distribuindo pancadas nos tambores ao seu redor.
Todos eles carregam uma firmeza tão ressaltada quanto o interesse que demonstram em praticamente todo assunto levantado na entrevista. Há também um ar de autossabotagem. Enquanto Andrew tenta ser ponderado e escolher as palavras mais adequadas em cada reposta, Brown parece só querer expor aquilo que lhe cruzou a mente. Em ambos os casos, não há a preocupação de contradizer o companheiro ou ser politicamente correto com todos envolvidos no assunto. Assim como as canções mais desleixadas do Parquet Courts, as respostas são exatamente o que são, bobas ou viajadas, diretas ou muito divagadas.
Abaixo, veja a íntegra da conversa de menos de meia hora com o Parquet Courts.
Tiveram a chance de passear em São Paulo?
Andrew Savage: Saímos para dançar. Fomos a um lugar chamado Lourdes. Foi legal. Foi uma noite dançante, com EDM.
Como foi o show de ontem? Dá para sentir alguma diferença em tocar para brasileiros?
Andrew Savage: As pessoas não são tão diferentes, o que foi diferente é que foi um show meio esquisito. Meio no rooftop, patrocinado. Não é um show comum para o Parquet Courts. Mas a plateia estava ótima. Se alguma coisa atrapalhou nossa performance foi termos chegado no Brasil no sábado às 7h e meio que não dormimos por uma noite. Isso ou o fato de não termos feito uma passagem de som completa. Eu não conseguia ouvir direito sua guitarra ontem.
Austin Brown: Ela estava ligada.
A.S.: Eu sei.
Por que tocar na América do Sul é tão difícil para uma banda como vocês?
Max Savage: Honestamente, foi a primeira vez que nos chamaram. Definitivamente teríamos vindo antes, mas essa foi a primeira oferta oficial.
A.B.: Até recebemos ofertas antes, mas não rolou por causa de timing ou alguma razão qualquer. É só meio longe e é difícil ir para lugares mais distantes.
A.S.: Pelo que as pessoas têm me dito, é difícil conseguir discos do Parquet Courts no Brasil, você tem que importá-los. Então talvez isso tenha a ver. Talvez as pessoas ainda estejam ouvindo falar de nós.
Sean Yeaton: Eu diria que é o sistema rodoviário precário do país [risos].
Vocês penssam em como uma pessoa, por exemplo, no Brasil, se relaciona com o tipo de som que vocês fazem?
A.B.: Acho que não pensamos muito nisso. Fazemos músicas que façam sentido para nós e que tenham algum tipo de energia colocada ali. Acho que as pessoas vão se relacionar com aquilo naturalmente.
S.Y. Não pensamos nisso, mas ontem havia diversas pessoas que são fãs há algum tempo e acompanham. Então acho que não é a distância entre Nova York e São Paulo que impediria as pessoas de gostarem ou apreciarem isso do mesmo jeito que alguém em qualquer outra parte do mundo.
Vocês conhecem algo de música de brasileira?
A.S.: Ouço algumas bandas brasileiras, sim. Os Mutantes
S.Y. Não sei se falo por todos aqui, mas aquilo disco Getz/Gilberto [de Stan Getz e João Gilberto, 1964] é um dos meus favoritos de todos os tempos.
A.S.: É um clássico da bossa nova.
É curioso, porque muitas das pessoas que entrevisto não conhecem absolutamente nada. Nem mesmo o Sepultura
A.S.: Eu ouvia Sepultura quando era criança. As pessoas conhecem o Sepultura. Pessoas que gostam de heavy metal conhecem o Sepultura.
Vamos falar sobre Human Performance. Houve alguma mudança no processo de feitura deste disco ou vocês sempre seguem uma dinâmica de criação?
A.S.: Ah, todo álbum do Parquet Courts soa diferente porque eles sempre são uma representação de como estamos em determinado período de tempo nas nossas vidas. Só por causa disso eles já são diferentes. Mas nenhum disco do Parquet Courts é gravado ou criado do mesmo jeito. Como todo mundo está ligado nesses aspectos de variedade, é diferente. Então, certamente Human Performance é diferente de Monastic Living, que foi o disco que saiu antes e já era completamente diferente de todos os álbuns do Parquet Courts. Sabe, Sunbathing Animal e Content Nausea saíram no mesmo ano, mas eu os qualificaria como álbuns bastante diferentes. Human Performance, contudo, tem um aspecto crucial: foi o que demorou mais para fazermos. Foi a primeira vez que ficamos em estúdio por tipo duas semanas trabalhando em um álbum.
Então vocês costumam resolver tudo em dois ou três dias?
A.S.: Bom, para Light Up Gold [de 2012] foram três dias. Mas eles são todos diferentes. Em Sunbathing Animal foram duas sessões diferentes, mas no espaço total de um mês. Content Nausea foi tipo uma semana?
S.Y. Umas três semanas da concepção até o produto final. Esse disco foi o processo mais louco, não estávamos necessariamente todos juntos. Já em Human Performance nós estávamos todos super juntos.
A.S.: Estávamos até meio que morando juntos.
E por que foi mais demorado que os outros?
A.S.: Porque podíamos. Se pudéssemos ter passado duas semanas fazendo Light Up Gold, com certeza teríamos. Mas naquela época tínhamos empregos e estávamos gravando um cômodo minúsculo. Então, não foi tipo: “Beleza, temos esse disco conceitual e vamos fazê-lo em três dias”. Foi mais: “Temos três dias para gravar esse disco, vamos fazer essa merda”. E em Human Performance foi meio: “Temos duas semanas para fazer esse álbum, vamos fazê-lo” [risos].
S.Y. Ao mesmo tempo, estávamos no meio de turnês e tentando achar tempo para gravar. Era essa coisa de gravar, sair em turnê, gravar, tocar ao vivo. Aquele ano foi muito tipo tentando achar tempo e ir fazendo isso conforme conseguimos. Foi um ano todo espremido, muito complicado de achar tempo. Não é como se tivéssemos tirando um ano para gravar, tipo: “Beleza, esse ano só vamos fazer o disco”. Só estávamos tentando achar o melhor jeito de usar o tempo que tínhamos, mesmo que estivéssemos na estrada e tocando músicas inacabadas que poderiam entrar no álbum. A mente ficava em muitos lugares.
Foi o disco mais demorado de vocês, mas certamente não foi feito como um álbum do Radiohead
S.Y. Ainda bem. Se eu ficar sabendo que eles fizeram um disco assim, vou ficar chateado.
Considero Human Performance um disco mais refinado, em termos de som e também de letras. Tem a ver com ficar mais tempo produzindo?
A.B.: Ah. Hum. Sim. Acho que tem a ver com a banda estar crescendo, estarmos crescendo juntos e tentarmos abrir novos caminhos, pessoalmente ou coletivamente. Quisemos fazer algo que fosse novo para a banda, mas que também acrescentasse na música como um todo. Que nossos elementos fossem relevantes não só para nós mesmos, mas para as pessoas os ouvindo. Não são coisas fáceis de fazer, mas acho que fomos determinados e até obtivemos sucesso em ficarmos melhores ou pelo menos aprender com esse processo.
Muita gente falou desse LP como um “disco cabeça” ou “inteligente”. Vocês concordam? E, se sim, estavam cientes disso enquanto faziam o álbum?
A.S.: Espero que todos os nossos discos sejam inteligentes, não só esse.
A.B.: Eu entendo o que você está dizendo, mas não acho que “inteligente” seja a palavra certa. Esse processo de passar muito e de estar compondo em sessões divididas durante o ano – como Sean estava dizendo, em meio a turnês – nos deu um pouco mais de perspectiva. Então deu a oportunidade de pegar as canções que estávamos fazendo por um ano e poder pensar um pouco mais a fundo nas coisas. Estávamos um pouco mais determinados a fazer algo... diferente! É nosso quinto disco e, apesar de todos os álbuns do Parquet Courts serem diferentes, quando você chega no quinto, você já esgotou muitas possibilidades. Então exigiu mais para atingirmos isso. Acho “inteligente” um elogio, mas acho que “reflexivo” seria melhor.
A.S.: É difícil para bandas pensarem sobre o que faz um disco ser diferente do outro, pois estamos muito envolvidos centralmente nisso. Então, muitas vezes esses tipos de pensamentos são mais facilmente articulados por uma pessoa de fora, como você. Você pode ter a capacidade de nos dizer coisas que são diferentes em relação aos nossos discos que talvez nós não temos. Não reconhecemos porque estamos muito ligados àquilo.
A.B.: Até Human Performance, nunca tínhamos passado um ano sem lançar pelo menos um (às vezes dois) disco. Então, se você passa, como passamos, um ano entre sessões, é possível se distanciar um pouco mais dos trabalhos anteriores. E daí até ter uma perspectiva mais exterior, como Andrew disse.
Pode ter a ver com crescimento? Quando você envelhece um ano, você é um ano diferente da pessoa que você era
A.B.: Sim! Estávamos de um a dois anos distantes da última vez que gravamos um álbum. E nesse meio tempo tocamos muito shows antes de parar para começar a compor de novo. Sabe, eu gostaria de tirar uma folga, mas o processo foi todo parte de nós tentarmos fazer algo que não tínhamos feito antes. Fazer um álbum de um jeito que não tínhamos feito antes. Então, tomou mais tempo para conseguir isso. E mudando o processo, você muda o resultado.
O rock and roll há alguns anos está longe dos charts e, mesmo com bons discos sendo lançados, não são unanimidade na crítica. O público geral não ouve e encara o rock como ouvia dez ou 20 anos atrás. Se você pegar todas as listas de melhores do ano, vai ver muito R&B contemporâneo e hip-hop, e no meio de tudo um Parquet Courts ou um Car Seat Headrest. Vocês acham que é mais difícil fazer algo novo – como vocês disseram querer fazer – no rock and roll?
A.S.: Ele não ocupa o mesmo espaço na cultura que ocupava, mas está tudo bem. Talvez ele melhore... sei lá. Se você pensar na era de ouro ou nos últimos, sei lá, 20 anos do rock alternativo, tiveram muitas bandas boas, mas muitas bandas merda também. Quando algo é tão pesado culturalmente – colocado nesse pedestal de expressão pop legítima –, corre um risco muito grande de ficar extremamente chato, sabe? Quando as coisas ficam muito saturadas ou muito mainstream. Então, não vejo como falha. Tem toda essa coisa dos charts e da cultura de massa, mas acho que se isso for gerar alguma coisa, vai ser deixar [o rock] mais interessante.
S.Y. Eu acho muito interessante que a música esteja meio que virando essa cratera nostálgica e julgadora. Tipo, se alguma coisa é de alguma época ou sei lá, cai nessa regra em que as pessoas já sabem o que as coisas são, tipo os charts... Para mim, meio que em 20 anos as pessoas vão estar: “Não é estranho que a Beyoncé não esteja mais nas paradas?” Será que vão sentir saudades dessa época? Algumas partes da arte e da expressão estão realmente abraçando essa ideia de nostalgia, só que a música é criticada de um jeito que é basicamente impossível de escapar. Tipo [muda a voz]: “Os Beatles já fizeram isso!”. E, sabe, cara, só estamos tentando fazer a porra de algo que gostamos de fazer e que nos deixa realizado. Não estamos tentando...
A.B.: É que se nós formos falar só de charts...
Não me refiro só às paradas. Existem menos discos de rock que são empolgantes...
A.S.: De acordo com quem?
A opinião do público mais interessado por música e da crítica. Hoje, se você vai ouvir um disco qualquer de rock, fica a sensação de que já ouviu antes tudo que está ali. Em outros gêneros, parece haver mais soluções criativas que são realmente inovadoras. Quando escuto um álbum do Parquet Courts, é um alívio. Por que se trata de um álbum de rock estimulante – e isso parece ser cada vez mais raro.
S.Y. Parece que se um cineasta hoje em dia é descrito como o Stanley Kubrick da nova geração é um elogio. Mas se uma banda é o Pavement desta geração, é um insulto.
A.S.: Essa foi boa [risos].
S.Y.: Parece ser insultante ser comparado com a música do passado. Mas se é um cineasta ou fotógrafo, parece que eles podem ou deveriam estar “roubando” do passado. Mas na música, é inescapavelmente... Essa cratera que existe e faz com que as pessoas compitam umas com as outras sempre acaba com algo do tipo [muda novamente a voz]: “Oh, é igualzinho ao Guided by Voices” Mas não é! Somos uma banda diferente do Guided by Voices. Não é justo, sabe?
A.S.: A música muda, as gravadoras mudam. Você tem mais selos de rock “faça-você-mesmo” do que em todos os tempos. E muitos álbuns incríveis saem assim. E talvez as pessoas não estejam ouvindo porque não está em uma lista de “melhores do ano”. Mas, tipo, tem muitas bandas boas lançando grandes discos neste exato momento. E se eles tiverem poucas centenas de fãs aficcionados, não vão ser grandes para a Rolling Stone, mas, para o meu dinheiro, um disco como o primeiro do Hank Wood & The Hammerheads – um grupo DIY que surgiu em Nova York – vale a pena. É um puta disco! Não vai entrar em uma dessas listas de fim de ano, mas... Essas coisas estão mudando. Quando você tem coisas como o Spotify e outros sites apostando em música pop, fica mais difícil de achar algo bom no rock. Não vai chegar até você. Você tem que ir atrás daquilo.
Talvez acabe na lista da Rolling Stone. O Car Seat Headrest fez isso e até o mais recente álbum, ele só tinha lançado trabalhos caseiros.
A.S.: Mas, ainda assim, existe um todo um mundo de rock ainda mais underground que o Car Seat Headrest e que está cada vez mais interessante. É isso que está mudando. É disso que estou falando. Tem uma banda chamada Country Teasers – da qual eu gosto muito – e eles têm uma faixa [“Please Ban Music/Gegen Alles”] que diz: “Please, ban music and drive it underground”. E eu meio que concordo com isso, porque quanto mais marginalizada a música fica, mais interessante ela fica. Quanto mais celebrada e mais recebe apelo de massa ela recebe, mais visada e mais entediante fica.
Até por estarem tão ligados no que acontece no underground, é interessante o fato de serem avessos às redes sociais para divulgar o trabalho de vocês. E, levando em conta tudo que falamos, como é ser uma banda de rock em 2017?
A.B.: É bom pra caralho! [Risos]
S.Y.: Como você acha que é? [Mais risos de todos] Eu amo. Sempre quis estar em uma banda de rock, desde que tenho 8 anos, então está ótimo.
A.B.: Se alguém acha que é mais difícil ter uma banda de rock porque você não está no Twitter, então vocês estão se boicotando, cara. Eu estou bebendo desde quando? Sei lá, estou bebendo desde 13h em São Paulo, Brasil, e estou passando muito bem. Além de não ter que me preocupar em postar porra nenhuma na internet.
A.S.: Quando você entrou nas redes sociais?
Eu? Cara, provavelmente há uns dez anos.
A.S.: E quando você começou a gostar de rock?
Bem antes disso.
A.S.: Todos nós também.
M.S.: Toda banda antes de 2005 ou 2004 existia sem redes sociais, então...
A.B.: Tipo, eu entendo como essa questão [das redes sociais] chega até nós. Na cultura de massa, as pessoas usam o Facebook ou qualquer coisa como o principal feed de notícias e, tipo, se você não está postando no jornal que todo mundo lê, as pessoas vão deixar de saber de você. Mas eu não sei se... Nós sempre pensamos em dar espaço para as pessoas, para os fãs, nos acharem de uma maneira mais orgânica. Acho que eles provavelmente não gostariam de nós se tivéssemos surgido no meio do Facebook deles ou, sei lá, estivéssemos “anunciando” para eles o tempo todo. Tipo, isso realmente faz diferença? Estamos querendo ter mais cliques ou usuários sabendo sobre o nosso site? Nós estamos tentando fazer músicas melhores e acho que se um disco nosso não vai bem, de acordo com nossos padrões, aí estamos perdendo alguma coisa. Não estar nas redes sociais não é perder alguma coisa. Não é perder espaço. Podemos perder espaço por algum disco, mas não acho que tenhamos perdido...
Mas vocês não acham que são uma “boa exceção”?
A.S.: Não...
A.B.: Acho que poderíamos tranquilamente ter uma página no Facebook, só não acho que isso vai fazer alguma diferença e seria mais a merda de uma coisa para termos que nos preocupar. Tipo, qualquer coisa além de compor e fazer shows seria...
S.Y.: E já falaram: “Vocês podem ter alguém para fazer vocês!” Mas aí não somos nós. Aí você acaba virando algo que não é você.
A.B.: Meio que não acrescenta em nada para mim. Assim, podemos estar completamente errados, mas tudo bem. Como eu disse, estou bebendo desde o meio dia em São Paulo. Ser uma banda sem Twitter é massa pra caralho. E se não for, beleza.
S.Y.: E não nos importa que outras bandas tenham Twitter. Está tudo bem.
Falando de bandas que nunca vão acabar em nenhuma lista da Rolling Stone – ou de nenhum outro lugar –, as redes sociais não podem ser a plataforma principal para eles irem atrás do próprio público?
A.S.: Acho que vocês está nos enxergando por outro ângulo. Estamos nesse universo de bandas indie maiores ou de bandas mais populares ou sei lá o que. Mas não é dele que viemos. E mesmo que nunca tivéssemos “acontecido”, continuaríamos fazendo shows em Nova York. Não é como se fossem nos perguntar se temos Twitter ou Facebook. As pessoas só esperam isso de nós agora porque estamos em algum de tipo de “elite” do indie rock ou...
Desculpe interromper, mas o ângulo pelo qual encaro vocês parte da perspectiva de alguém que está no Brasil e que tem poucas chances de conhecer novas bandas de Nova York sem ser por veículos de imprensa ou pelas redes sociais. Afinal, é bastante raro que consigamos frequentar shows ou ter contato presencial com a cena de rock de Nova York.
A.B.: Mas nós lançamos música, você vai nos conhecer pela nossa música, não pelo nosso almoço que postamos no Twitter. Isso [as redes sociais] só te ajuda a conhecer uma persona online digital que está nos representando.
A.S.: Por exemplo, sobre este nosso encontro: a Rolling Stone vai tuitar sobre isso, a Rough Trade Records vai tuitar sobre isso. A esta altura, não faz diferença, você vai sabe sobre isso de todo jeito, porque a Rolling Stone está te contando isso. Não importa, para nós, te contar sobre isso, porque estaríamos ecoando a mesma coisa. Então, como Austin disse, nós nos concentramos na música e deixamos quem faz isso cuidar disso. Somos músicos. É isso que fazemos. Não somos marqueteiros.