“Queríamos soar sujo, fazer rock and roll”, conta o tecladista Rob Lind
Após a separação, no fim dos anos 1960, o The Sonics passou décadas longe dos instrumentos. O vocalista Gerry Roslie abriu um negócio de pavimentação de ruas e o saxofonista Rob Lind virou piloto profissional de avião. Há oito anos, o grupo voltou a tocar e, desde então, vem emendando turnês ao redor do mundo. Nesta quinta, 5, pela primeira vez, eles passam pelo Brasil, com apresentação única em São Paulo.
Galeria: as 100 primeiras edições publicadas pela Rolling Stone Brasil.
“Eu ainda estava voando pela companhia aérea em 2007, quando voltamos a tocar”, conta o piloto e saxofonista Rob Lind, em entrevista à Rolling Stone Brasil. A reunião da banda aconteceu devido a um produtor de shows, que os convidou para serem atração principal de um festival em Nova York. “Dissemos: ‘Não, não’. Mas ele insistiu muito. Então combinamos: ‘Vamos voltar a tocar e ver se conseguimos ficar em forma’.”
“Fizemos um acordo”, segue Lind. “A reputação dos nossos dois primeiros discos é muito boa. Então, se não estivermos bons o suficiente, não podemos subir ao palco para ver as pessoas sentindo pena de nós. E nem soar patéticos, como algumas bandas quando voltam a tocar depois de um tempo.”
Os três integrantes originais que se reuniram na ocasião – e formam o Sonics hoje em dia –, Gerry Roslie, Larry Parypa (guitarra) e Lind, concordaram que tinham condições de voltar e fizeram os shows em Nova York. “Tem sido muito recompensador”, confessa o tecladista. “Parece que a plateia não mudou desde que tínhamos 18 anos de idade. Olhamos para baixo e são as mesmas crianças cantando as músicas!”
This Is The Sonics
“Tínhamos esse medo de ser considerado um grupo ‘retrô’ – vivendo do que gravamos nos anos 1960 e não fazer mais nada novo”, admite Lind. “Então fizemos uma série de canções e fomos tocar juntos para ver se elas eram boas. Uma coisa puxou a outra e quando vimos já estávamos gravando.”
As novas composições do quinteto estão no disco This Is The Sonics, o primeiro de inéditas do Sonics desde 1966, quando Boom chegou às lojas. O álbum tem lançamento agendado para o fim de março e já teve um single divulgado: a nervosa “Bad Betty”, que traz elementos da banda dos anos 1960, mas também revela uma sonoridade influenciada pelos artistas que ela mesmo influenciou.
“Estávamos todos na mesma sintonia – realmente sabíamos que deveríamos gravar um novo álbum”, diz Lind. “E, para nós, o que é mais surpreendente é que, provavelmente, vamos fazer outro disco. Já começamos a juntar canções.”
O som “sônico”
A tônica do Sonics sempre foi tocar qualquer música – cover ou autoral – de um jeito próprio, que dispensasse muita técnica ou elaboração, e prezasse, principalmente, pela potência. Foi assim que o quinteto se juntou, em 1963, na cidade norte-americana de Tacoma, em Washington, para desconstruir o cancioneiro de Little Richard e Jerry Lee Lewis, entre outros blueseiros da época.
“Sabemos a maneira que devemos soar, sabemos compor para nós mesmo e, se pegamos a música de alguém, conseguimos encaixar nos moldes do que gostamos”, conta Lind.
Contemporâneo de Beatles e Rolling Stones, o Sonics baseava o som do grupo no blues, assim como os ingleses. Os norte-americanos, entretanto, carregavam uma dose de selvageria e rusticidade que foi de influência incalculável para artistas e movimentos que surgiram nos anos seguintes (do punk nova-iorquino ao grunge de Seattle).
“Some folks like water/ Some folks like wine/ But I like the taste/ Of straight strychnine” (“Algumas pessoas gostam de água/ Algumas pessoas como o vinho/ Mas eu gosto do sabor/ De pura estricnina”), canta Gerry Roslie em “Strychnine”, uma das faixas características da banda – ouça abaixo.
“De onde nós viemos, o noroeste dos Estados Unidos, havia muitas bandas boas”, diz o tecladista. “Mas eles queriam tocar bem, tocar bonito, tocar essas coisas de jazz. Nós só queríamos agitar. Queríamos copiar Little Richard – qualquer pessoa que estivesse fazendo rock”.
Além de Boom (1966), o Sonics lançou Here Are The Sonics, de 1965, sendo estes os dois únicos discos de inéditas do quinteto, que possui diversas coletâneas e alguns álbuns ao vivo.
Definindo o som “sônico” da banda, Lind acrescenta, brincando: “Queríamos ser sujos – e estou falando do som e não de algo que seja nojento”. “Várias pessoas perguntam como conseguíamos aquele som naquela época. A verdade é que nós não pensamos nisso. Só queríamos agitar mais e mais. Queríamos fazer rock and roll. E aquilo foi o que saiu.”
The Sonics em São Paulo
5 de março (quinta-feira), às 23h30
Audio Club, av. Francisco Matarazzo, 694, São Paulo (SP)
Ingressos: R$ 140 (há meia-entrada)