Projeto de Max e Iggor, Cavalera Conspiracy tocou pela primeira vez em São Paulo para plateia fria e nostálgica
Max Cavalera não tocava na capital paulistana desde 1998, quando veio à cidade com o Soulfly. Já ao lado do irmão, o baterista Iggor Cavalera, o vocalista não se apresentava em São Paulo desde 1996 - quando ainda faziam parte do Sepultura. Deveria, portanto, haver uma expectativa especial sobre o show do Cavalera Conspiracy no último sábado, 26, em abertura para o Iron Maiden (leia aqui como foi).
As atenções do público que tomou o Estádio do Morumbi, porém, estavam majoritariamente concentradas na performance do mítico sexteto britânico. Quando o número de abertura tomou o palco, pontualmente às 19h30, a reação geral foi visivelmente morna. "Warlord", do novo disco do Cavalera Conspiracy, Blunt Force Trauma, surgiu de forma embolada nos falantes, inspirando poucas e tímidas rodas de pogo no gramado. O carisma de Max permanece intocado entre os velhos fãs: posicionado como um totem no palco, cercado pelos companheiros de grupo, ele se assemelhava a um pastor do apocalipse raivoso, pregando versos ríspidos com urros primais e incitando a baderna generalizada. Vestindo o tradicional casaco camuflado e esboçando longos dreadlocks descoloridos, Max magnetizou a plateia com sua figura impressionante. A voz talvez já não soe como antigamente, mas se mostrou eficiente nas composições mais cruas do Conspiracy, como "Inflikted", "Killing Inside"e "Torture".
"O Max tá de volta!", se exaltava um fã sem camisa, praticamente solitário em sua adulação nostálgica. Mesmo durante faixas mais rápidas, como "Sanctuary" e "Terrorize" (ambas de Inflikted, primeiro álbum do Cavalera, de 2008), a maior parte da plateia se mantinha em neutra timidez. Entre uma música e outra, Max cuspia frases curtas e palavrões em português. "Quero ver todas as mãos pra cima!", convidou, da forma bruta que lhe é característica. A performance do frontman em cena é notável: em diversos momentos, Max mal se dava ao trabalho de tocar sua guitarra de quatro cordas (decorada com a bandeira do Brasil), segurando o microfone com uma das mãos, berrando refrãos de olhos cerrados. Ao seu lado, discretos, o guitarrista Marc Rizzo preenchia espaços de maneira estridente, enquanto o baixista Johny Chow mantinha a gravidade sonora constante. Vestindo uma camiseta do Palmeiras e parecendo mais concentrado do que de costume, Iggor combatia sua bateria com a fúria que lhe é peculiar, sem dar muito espaço para grandes interações com quem o observava.
O clima do show mudou na segunda metade, quando o Cavalera Conspiracy deu espaço às músicas do Sepultura no curto repertório de 13 faixas. "Vamo detoná essa porra!", frase que já virou mantra do vocalista, antecedeu "Refuse/Resist", seguida por "Territory". As faixas, ambas de Chaos A.D. (1993), foram recebidas com entusiasmo ainda contido, mas renderam os principais momentos de troca entre a banda e o público. Para muitos dos presentes no Morumbi, era provavelmente a primeira vez que presenciavam a dupla de irmãos tocar as músicas que determinaram a popularidade do thrash metal do Sepultura em território brasileiro.
"Roots Bloody Roots", maior hit da história do Sepultura, encerrou um show atípico, pesado mas carregado de melancolia. Talvez a plateia devota ao Iron Maiden não fosse a audiência mais adequada a receber a presença rara e histórica do Cavalera Conspiracy em um palco nacional (o outro show do grupo no Brasil foi em outubro passado, no festival SWU - saiba como foi). Se a apresentação teve méritos, foi o de promover mais um passo na reaproximação de Max Cavalera com o público brasileiro, ainda tão órfão de ídolos musicais desse porte.
Setlist:
"Warlord" (Cavalera Conspiracy)
"Inflikted" (Cavalera Conspiracy)
"Killing Inside" (Cavalera Conspiracy)
"Torture" (Cavalera Conspiracy)
"Thrasher" (Cavalera Conspiracy)
"Sanctuary" (Cavalera Conspiracy)
"Terrorize" (Cavalera Conspiracy)
"Refuse/Resist" (Sepultura)
"Territory" (Sepultura)
"Washing Away" (Nailbomb)
"The Doom of All Fire" (Cavalera Conspiracy)
"Troops of Doom" (Sepultura)
"Roots Bloody Roots" (Sepultura)