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Irreverência do grupo Rick Estrin and The Nightcats é destaque no Rio das Ostras Jazz & Blues Festival

O gaitista e a banda dele mostraram que boa música não precisa, necessariamente, ser séria

Antônio do Amaral Rocha Publicado em 11/08/2014, às 16h47 - Atualizado em 12/08/2014, às 00h29

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Rick Estrin - Cezar Fernandes/Divulgação
Rick Estrin - Cezar Fernandes/Divulgação

Pepeu Gomes saiu do palco Costazul às 5h, no último sábado, 9, completando a programação da primeira noite do festival e, logo às 14h, ocupou o palco da Lagoa do Iriry, onde teve a oportunidade de fazer um show mais longo e relaxado, com interação total com o público de 5 mil pessoas - apesar da chuva fria e insistente que teimava em ensopar os despreparados. Fez um set de 12 músicas, acompanhado pela banda familiar que inclui seu filho, Filipe Pactual, na guitarra, e Jorginho Gomes, na bateria, além de baixo, teclados e percussão. Ao final, Gomes comandou um longo bis que incluiu “Malacaxeta”, depois um solo choroso do Hino Nacional Brasileiro, deixando baixar algo de Hendrix neste momento, tocando de forma que lembrou o famoso final do cultuado Woodstock. Ainda mostrou “(I Can't Get No) Satisfaction” (Rolling Stones) e o frevo “Vassourinha”, clássico do carnaval pernambucano, que encerrou o show em grande estilo.

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O baixista Marcus Miller, o grande nome desta edição, também repetiu a apresentação da noite de sexta, 8, agora no palco da Praia da Tartaruga. No fim da tarde de sábado, 9, fez um show maior e mais informal para um público de admiradores que sabem o que querem ouvir. Aliás, vale ressaltar algumas peculiaridades de cada palco do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival. O principal, conhecido como Costazul, comporta 15 mil pessoas e é um lugar mais formal, com cadeiras, amplo espaço para circulação, é um programa quase que familiar e obrigatório nos dias em que a cidade é tomada pela música. Já os palcos da Lagoa de Iriry e da Praia da Tartaruga são abertos e reúnem um público mais exigente, que faz certo sacrifício para chegar o local. Por estas diferenças, os dois espaços menores da festa funcionam como uma compensação e permitem que o público tenha um contato mais direto com os músicos.

As novidades do sábado, 9:

A programação do palco Costazul surpreendeu mais uma vez com a apresentação da banda Afro Jazz na abertura, que teve o privilégio de tocar para um público de aproximadamente 15 mil pessoas. O grupo, que existe há dois anos e que até agora só era conhecido por um reduzido público formado por frequentadores de casas de shows do Rio de Janeiro, pode apresentar seu groove em arranjos com forte sotaque africano, calcados nos metais e na percussão, em uma interessante fusão de reggae, rock, afrobeat, batuque, rap e bossa. No repertório estavam faixas de destaque como “Coisas nº 4” de Moacir Santos e até o clássico tema do filme 2001 - Uma Odisseia no Espaço. Nos bastidores, após a apresentação, o trompetista Eduardo Santana afirmou ao site da revista Rolling Stone Brasil que eles estavam vivendo um momento de felicidade incalculável.

McCray, o segundo convidado da noite, acompanhado por órgão Hammond , baixo, bateria e guitarra, interpretou, com forte levada soul, temas próprios embalados pela guitarra, que esbanja técnica e virtuosismo da mesma linhagem de B.B. King e Albert King. Foi um show envolvente e, em alguns momentos, romântico. Além da excelência de McCray, também merece destaque a figura do baixista Cary Carter que não se poupou de gestos engraçados e até inusitados. Nos bastidores, o baixista esteve sempre em rodinhas e se envolvendo em sonoras gargalhadas, dizendo que estava se divertindo muito no Brasil. Depois da apresentação, em conversa com a reportagem da revista Rolling Stone Brasil, McCray se desculpou por um problema que teve com a guitarra durante a performance e se declarou muito feliz com a receptividade do público.

Raul Midón, cantor e multi-instrumentista cego, fez um show que despertou atenção do público, mesmo após uma bela atuação de McCray. Midón, sempre com a ajuda de um acompanhante e cuidador, é um artista completo que usa a voz não só para cantar, mas também para emitir sons onomatopaicos (no que lembra um pouco Al Jarreau). Ele também toca o violão de forma não convencional, usando muitas vezes as cordas como percussão, além da percussão propriamente, um conjunto de tambores que ele executa ao mesmo tempo em que o violão. O resultado é uma massa sonora em que se pode ouvir contrabaixo, solos e percussão, mistura que pode enganar os não atentos. Midón também imita o trompete e faz um gênero musical que não se fixa em nenhum deles, mas inclui todos, como o jazz, o blues, o R&B e o folk e deixa transparecer influências de Richie Havens, José Feliciano e até Steve Wonder. Em um dos grandes momentos da apresentação, Midón mostrou a envolvente “Mi Amigo Cubano”, cantada em espanhol, “Listen to the Rain”, ao teclado, e fez uma cover de uma canção de Charlie Parker. O silêncio absoluto da plateia e a textura sonora delicada tomou conta do espaço Costazul durante todo o tempo em que ele esteve no palco.

E como o Rio das Ostras Jazz & Blues Festival sempre termina em festa, o grupo Rick Estrin and The Nightcats (formado por Kid Andersen na guitarra, Lorenzo Farrel no baixo e órgão Hammond e J. Hansen na bateria) encerrou a segunda noite do evento. Rick Estrin, de bigodinho fino e cabelo em topete, vestindo terno prateado e sapato branco, lembra muito o personagem Dick Vigarista do desenho animado Corrida Maluca. O gaitista trouxe ao palco Costazul a essência do blues e do rockabilly, alternado os solos de gaita e a voz, cantando de uma maneira como se estivesse contando uma história para um amigo, de forma caricata e bem-humorada. O show, que pode ser descrito como incendiário em diversos momentos, deu bastante destaque à guitarra de Andersen, que roubou a cena sempre que pode, como quando ele usou o telefone celular para tirar sons inusitadas do instrumento. Em outro momento, Andersen simulou diversas performances típicas dos guitarristas, como o dos metaleiros, com total aprovação de Rick. O tecladista Farrel também ocupou com garra o tempo que teve para os solos dele e travou verdadeiros duelos com Andersen. Rick, mesmo quando se afastava ao fundo do palco para dar espaço aos seus músicos, passava o tempo todo regendo as estripulias dos colegas. Outro grande momento do show se deu quando Rick colocou quase toda a gaita dentro da boca e continuou tocando. Depois de uma hora e meia de performance amalucada, Rick agradeceu a receptividade, batendo no lado esquerdo do peito e dizendo “eu amo o Brasil e estou muito feliz aqui”. Às 3h10 da manhã uma fina garoa ameaçou cair, mas foi embora junto com o final da festa.

No domingo, 10, Rick Estrin repetiu o mesmo show no palco da Lagoa do Iriry e Raul Midón ocupou o palco da Praia da Tartaruga, dando por encerrada a primeira etapa desta edição do Rio das Ostras Jazz e Blues Festival, que terá a segunda semana nos dias 15, 16 e 17 de agosto.

Rio das Ostras Jazz & Blues Festival:

15, 16 e 17 de agosto

Cidade do Jazz - Rio das Ostras, Rio de Janeiro

Gratuito

Mais informações.