Mesmo com excelente aparato técnico, banda de Perry Farrell, criador do festival, não conseguiu segurar a atenção da plateia
Perry Farrell é um ótimo frontman, mas nem o carisma do cantor foi capaz de segurar o público diante do palco Butantã, fechado pelo Jane’s Addiction na noite de domingo, 8, no Lollapalooza.
A banda tem quatro discos na bagagem, teve uma extrema importância no início dos anos 90 ao misturar metal, funk e outros estilos, e conta com um grande guitarrista, Dave Navarro, mas nunca foi exatamente um sucesso no Brasil. Portanto, talvez não fosse a melhor escolha para ser headliner de um dos palcos do festival. Mas não há o que se discutir, já que Farrell é o criador e organizador do evento (e tem um importante papel na escolha do line-up).
O público (estimado no segundo dia de evento em 60 mil pessoas; no primeiro foram 75 mil) foi ao decorrer da apresentação esvaziando o local – duas outras atrações de peso começariam após o show do Jane’s Addiction, Racionais MC’s, no palco Perry, e o principal grupo da noite, Arctic Monkeys, no palco Cidade Jardim.
O set list foi bem diferente da edição chilena do Lollapalooza. Enquanto lá o show começou com “Whores”, aqui a escolhida foi “Underground”, do mais recente disco do grupo, The Great Escape Artist, de 2011. “Jane Says”, apresentada em versão acústica, fechou o show no Chile; aqui foi apresentada na segunda metade da performance, bem antes do final (que ficou a cargo de “Ocean Size”).
Navarro, sempre com um ar um tanto blasé, esbanjou confiança nos solos e riffs de músicas como “Mountain Song” e “Been Caught Steeling”, as duas recebidas com mais entusiasmo. Farrell, por sua vez, investiu na simpatia, sorrindo muito, falando com o público (“Estou tão orgulhoso de trazer meu grupo aqui, direto de Los Angeles, Califórnia"), bebendo vinho e fazendo suas costumeiras poses.
Visualmente, o Jane’s Addiction tem o show mais elaborado do festival. O aparato que tem feito parte da atual turnê da banda foi mantido, com estátuas de duas mulheres nuas ao fundo palco, dois telões próximos à banda e a participação de duas dançarinas (uma delas é Etty, esposa de Farrell). Logo no início, duas mulheres são alçadas ao topo em vestidos brancos (nesse momento, não deu para ver se era Etty); há também um robô feminino que passeou em certo momento pelo palco e um artista inteiro vestido de branco, que depois de enforcar uma boneca, enforca a si mesmo. Mesmo com o capricho visual, o Jane’s Addiction não conseguiu segurar a plateia, que ficou bem mais dispersa que na estreia do quarteto por aqui, em 2009, no festival Maquinaria.