Terceira aventura de Keanu Reeves como o assassino de aluguel amplia as coreografias de luta e parece mais um jogo de videogame do que experiência cinematográfica
Vamos logo falar sobre o elefante sentado no meio da sala, por favor? John Wick é a maior franquia de ação do novo século - divertida, non sense quando precisa ser, veloz, clichê na medida certa, com grandes coreografias de luta, tiroteios eletrizantes. A série liderada por Keanu Reeves também já vive de retroalimentação, não precisa de uma nova fonte de energia, sustenta-se sozinha. E isso é péssimo.
John Wick 3: Parabellum, em cartaz nos cinemas do Brasil, sofre demais desse mal. Entrega um fiapo de história - a terceira parte deriva diretamente da segunda, chamada Um Novo Dia Para Matar, de 2014, que por sua vez se passava quatro dias após os acontecimentos de De Volta Ao Jogo, o primeiro da franquia.
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Depois de tanta ação em uma semana muito azarada na vida de Wick, o personagem já sofre com a falta de originalidade naquilo que conduz sua história. Parabellum entrega um Wick tentando sobreviver depois que mata um assassino como ele no Hotel Continental, o que é terminantemente proibido. E só.
E lembra quando eu escrevi, lá em cima, que isso era péssimo? Isso também é ótimo. Porque livre de explicar o universo dos assassinos da mitologia criada em John Wick, o diretor Chad Stahelski pode se dedicar àquilo que ele mais sabe. Ação, pancadaria, violência e sangue falso.
Parabellum tem coisas inimagináveis e, por isso, divertidas. John usa um cavalo como arma (dá um tapinha no animal para provocá-lo a, com um coice, derrubar um inimigo), usa o mesmo animal em uma perseguição em Nova York, troca tiros debaixo d'água, é atropelado por três carros na sequência, foge até o Marrocos só para voltar momentos depois.
Impressiona o fôlego de Keanu Reeves aos 54 anos também. Seu John Wick é de poucas palavras, muita ação. Luta pela vida a todo momento e, embora a gente saiba que ele não vai levar um tiro na cabeça aos 50 minutos de filme, ainda é capaz de fazer o lado de cá prender o ar em excitação com o perigo iminente.
Falta em John Wick 3 a capacidade de trazer novidades além disso, contudo. As cenas de ação já são um jogo ganho, mas não serão para sempre. É como uma jogada ensaiada de ataque de um time de futebol: funciona na primeira vez, quando o adversário não está preparado, uma segunda, talvez uma terceira, mas a média de acerto vai cair drasticamente a partir daí.
A adição de Halle Berry como a assassina Sofia acrescenta algo - e dois cães a mais na tela -, mas sua personagem tem uma participação curta demais para deixar uma marca mais profunda na franquia.
Se De Volta ao Jogo, o primeiro da franquia, havia o êxtase de tanta novidade, com a apresentação do submundo de assassinos, moedas douradas, médicos escondidos, matadores disfarçados de cozinheiros, um código de conduta e regras curiosas, o segundo filme da franquia, Um Novo Dia Para Morrer acrescentou novidades, embora sem o mesmo peso e surpresa.
Parabellum entrega migalhas nesse sentido. É ação pura - ou seja, ótimo, porque é disso que a franquia vive, mas péssimo, porque se não criar novidades o bastante para sustentar uma muito provável continuação.
Vou explicar com termos de videogame, caso algum gamer chegue até aqui. De Volta ao Jogo é aquele game de mundo aberto que entrega uma nova sociedade de assassino, com missões principais e secundárias que todos os veículos especializados se derretem.
O segundo ainda gera interesse, mas já não é a mesma coisa. Parabellum, por sua vez, é um DLC, um conteúdo baixável com mais algumas missões, uma história pequena e muito daquilo que os gamers mais gostavam (de troca de tiros a lutas com espadas, facas e outros objetos afiados).
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