Depois de álbuns de versões, bandas vão se reunir em show em São Paulo
No começo tudo não passava de brincadeira. As pretensões eram poucas quando, no início da década de 90, bandas no Recife começaram a se reunir em torno de um ideal comum. Também informalmente foi encarado o projeto Mundo Livre S.A. vs Nação Zumbi em um primeiro momento. “A princípio era só curtição”, lembra Fred Zeroquatro, vocalista do Mundo Livre. “Até porque a Deck colocou a ideia meio nessa vibe de farra, de tirar uma curtição como foi a coisa do Raimundos e do Ultraje”, diz o músico, em referência ao álbum Ultraje a Rigor vs Raimundos, lançado no ano passado.
“Isso nos foi sugerido e não tinha como negar. Mundo Livre S.A. é uma banda que a gente conhece, somos bandas primas. A gente viu todo o amadurecimento, toda a evolução deles, assim como eles viram toda a nossa caminhada”, diz Jorge du Peixe, vocalista da Nação Zumbi. Enquanto a ideia amadureceu, os músicos perceberam então que a proposta poderia render algo mais. “Aos poucos foi caindo a ficha”, continua Fred . “A gente tá numa data bem redonda, estamos às vésperas de comemorar 20 anos do primeiro disco de cada banda. Caiu a ficha de que era uma oportunidade também de reaproximar a galera, de celebrar a importância que essa cena teve para o Recife. Tudo foi conduzindo a uma reflexão de que valia a pena tentarmos investir mais nessa parada não apenas como farra, mas como uma coisa de celebração, de resgate, de reflexão.”
O fato de que as duas bandas nasceram não apenas no mesmo lugar como a partir das mesmas ideias acrescentou muito ao projeto, até porque, apesar de tudo, Mundo Livre e Nação Zumbi têm sonoridades distintas. “A versão tem essa liberdade de você poder pegar uma música de outro artista com o aval para isso. O artista tem uma relação com sua música, é você quem fez, você sabe para onde quis conduzir tudo aquilo”, explica du Peixe. “Mas foi divertido, como dizia Chico Science, acima de tudo é diversão levada a sério.” Além de clássicos como “A Cidade” e “Praiera”, o Mundo Livre escolheu também músicas mais recentes para recriar. “O Fred tinha feito uma resenha de nosso último disco, Fome de Tudo, e ressaltou bastante a faixa “No Olimpo”. E calhou que eles fizeram uma versão que surpreendeu muito, levaram para o que é a perspectiva musical deles.”
Já para Fred, que em 1992 escreveu o famoso Manifesto dos Caranguejos com Cérebro, o resultado trouxe de volta experiências antigas. “Eu me reconectei com o maloqueiro que vinte anos atrás era o principal animador de plateia dos shows da Nação”, lembra o músico. Durante todo o processo, nenhuma das bandas soube sequer quais seriam as músicas escolhidas pelo outro lado, o aumentou a ansiedade. “A gente, inclusive, perdeu uma noite inesquecível que seria se tivéssemos a chance de ouvir junto, marcar na casa de alguém, um bar, comprar umas cervejas e fazer uma festa da primeira audição coletiva. Seria uma noite daquelas”, lamenta o vocalista do Mundo Livre.
Se não aconteceu a “audição coletiva”, as duas bandas vão poder comemorar diante do público. Os músicos ainda não sabem precisar como será o funcionamento do show ao vivo, mas duas apresentações já estão marcadas para acontecer, dias 17 e 18 de setembro, no Sesc Pompeia, em São Paulo – e a partir daí, a ideia é passar também por outras cidades. Du Peixe, que concilia a agenda com a finalização de Baile Beatnik, primeiro disco do Afrobombas, previsto ainda para este ano, e o próximo disco da Nação Zumbi, que deve chegar aos fãs no ano que vem, tem confiança de que o encontro vai valer a pena: “Essa guerra vai ser boa no palco também”.
Nação Zumbi e Mundo Livre SA em São Paulo
Terça, 17, e quarta, 18, às 21h
Local: Sesc Pompeia - Rua Clélia, 93 – Perdizes
Ingressos: de R$ 6 a R$30
Bilheteria: De terça a sábado das 9 às 21 horas e domingos e feriados das 9 às 19 horas (ingressos à venda em todas as unidades do SESC).