A cantora faz parte do line-up do Festival AFROMUSIC #2, que acontece entre os dias 9 e 11 de abril
Enquanto o Brasil entra no segundo ano de pandemia, a arte continua a se reinventar e propor reflexão. Durante o isolamento, a cultura ganha um diferente papel - e Jup do Bairro entende a importância da arte, sem ignorar os próprios sentimentos diante do isolamento social.
“Estou triste, melancólica, insegura. E isso é bom. Não por ter que passar por tudo isso, mas é preocupante quem não entende a gravidade desse cenário e se preocupa apenas com yoga e pão,” explicou Jup do Bairro em entrevista à Rolling Stone Brasil.
+++LEIA MAIS: Tuyo comenta discografia de Jup do Bairro, Jup comenta discografia de Tuyo
Diante das emoções devido à pandemia de Covid-19, a arte pode se transformar em um local de aconchego e de reflexão. Para a cantora, a cultura pode entreter, mas também ganha um significado maior.
“A arte é criação de imaginário, cultura. E a cultura é a melhor forma de se contar a história de um tempo, de um povo,” refletiu Jup do Bairro. Essa forma de entender a cultura está presente também no Festival AFROMUSIC #2, do qual a artista faz parte do line-up.
O evento virtual e gratuito acontece entre 09 e 11 de abril de 2021, e celebra a arte preta brasileira. Com um line-up exclusivamente formado por artistas, bandas e coletivos pretos da cena independente, o Festival AFROMUSIC #2 traz à tona a importância da coletividade, assim como da arte, para enfrentar tempos sombrios.
Jup do Bairro se apresenta no primeiro dia do festival que será transmitido diariamente, a partir das 19h, no canal do YouTube Universo Afromusic. Em entrevista à Rolling Stone Brasil, a cantora refletiu sobre papel da arte durante a pandemia e a importância do AFROMUSIC #2, um festival de protagonismo preto.
+++ LEIA MAIS: Jup do Bairro: Transgressão e Pretitude de um Corpo Sem Juízo
Rolling Stone: Como você está se sentindo durante a pandemia e com a entrada em um segundo ano pandêmico?
Jup do Bairro: Estou triste, melancólica, insegura. E isso é bom. Não por ter que passar por tudo isso, mas é preocupante quem não entende a gravidade desse cenário e se preocupa apenas com yoga e pão. Tenho entendido que está tudo bem, eu fico pessimista com essa situação, pois eu estou me fazendo presente, presente ao meu tempo. Ser pessimista não significa ser derrotista, e como disse Conceição Evaristo: “Enquanto um olho chora, o outro espia o tempo procurando a solução”.
RS: O que você tem feito durante este momento?
JB: Tenho escrito muito de alguns meses pra cá. Poesia, canções, me preparando para um possível desdobramento de um novo EP e principalmente me ouvindo mais. Ouvindo o que eu quero dizer, como quero dizer, revisitando memórias, compartilhando antigas informações, adquirindo novas informações. Acho que, na verdade, só não tenho feito pão e yoga.
RS: Qual você acha que é o papel de arte neste momento de isolamento?
JB: A arte é criação de imaginário, cultura. E a cultura é a melhor forma de se contar a história de um tempo, de um povo. É também uma maneira de nos entretermos, mas tomando cuidado com a distração. A felicidade instantânea de 15 segundos pode fazer nos questionarmos: mas só eu não estou feliz? E isso se sucumbe em uma tristeza que a princípio não se apresenta tão nociva, mas se desdobra em uma sensação de não pertencimento.
RS: Sobre o festival AFROMUSIC #2, por que é importante um evento gratuito que reúna artistas e bandas pretas da cena independente?
JB: O AFROMUSIC #2 e festivais de protagonismo preto são fundamentais, principalmente nesse momento em que entendemos a precariedade que vivem as produções independentes que dependem de lugares públicos como artistas da música, teatro, dança, cinema e seus fazedores. Desde 2019, uma guerra cultural foi instaurada onde a arte foi o principal sacrifício, desde então artistas e fazedoras de cultura usam a internet como a principal ferramenta aliada para exercermos nossos ofícios e nos aproximarmos do nosso público. Isso é ainda mais nítido para corpos dissidentes e pretos. É preciso criar imaginário, possibilidades, ir além da representação da representatividade. A representatividade pode ser muito importante para impulsionar outras pessoas a trilharem seus caminhos, mas o hackeamento não é o bastante, precisamos de equidade.
RS: Em tempos de isolamento, você acredita que o festival AFROMUSIC pode ser a tentativa de alcançar uma coletividade virtual, principalmente uma coletividade dos corpos pretos?
JB: É pensar em planos autossustentáveis, transformarmos nossas redes afetivas em redes efetivas e econômicas. A internet é uma das ferramentas mais importante de identificação que temos hoje, com isso podemos nutrir de informações à população branca, preta, indígena e quais forem sobre a diversidade até em seus semelhantes.
RS: Qual apresentação do evento você também indica?
JB: Confesso que estou muito feliz de estar nesse line up, estou muito empolgada para ver todas as apresentações e entrevistas, mas Biel Lima, Gê de Lima e Izzy Gordon estão me tirando o sono!
RS: Você pode dar um spoiler de como será o seu show no festival?
JB: Tenho feito muitas lives em casa, mas todas sozinha. Eu sendo minha DJ, minha técnica de luz, de som... e é um lugar muito solitário, introspectivo. Sem dúvidas essa performance que eu fiz para o Festival AFROMUSIC com minha parceira e DJ Lorrany foi uma das mais emocionantes e acho que isso ficará evidente. O teatro é lindo, a estrutura estava impecável. É mágico estar no palco novamente e sentir a música contagiando e emocionando as, mesmo que poucas, pessoas do set.
Além de Jup do Bairro, o festival contará com shows de artistas como Gê de Lima, Izzy Gordon, Renato Gama, Biel Lima, Fabriccio e outros nomes. O evento também terá pílulas de conteúdo com entrevistas e discussões sobre a construção do DNA musical afro-brasileiro.
O Festival AFROMUSIC será transmitido nos 09, 10 e 11 de Abril de 2021, sempre a partir das 19h, no canal de YouTube Universo Afromusic.
+++ KONAI: 'ESTAMOS EM PRESSÃO CONSTANTE PARA SER O QUE NÃO É NOSSO NATURAL' | ENTREVISTA