Duo francês fez set-list de sua turnê mundial com competência, em SP, inaugurando temporada de grandes shows deste semestre
Quando o Justice entrou no palco principal do Skol Beats alguns minutos depois da hora marcada, 23h, na noite deste sábado, foi inaugurada a temporada de festivais e grandes shows no Brasil. E foi encerrada a turnê mundial do duo francês, que abriu seu show paulistano com "Genesis", primeira faixa do disco Cross.
Separados espacialmente pela tradicional cruz instalada à frente de sua mesa de som, Gaspard Augé, de bigode, não parou de balançar a cabeça, feito um metaleiro, enquanto Xavier de Rosnay fumou um cigarro atrás do outro. Com essa postura, os parceiros fizeram um show correto, que teve punch na abertura, auge no meio e um clima de despedida nos últimos 20 minutos.
Depois da bem marcada "Genesis", a dupla tocou a relaxada "D.A.N.C.E", o sucesso das pistas em 2007, em versão acelerada, para, na seqüência, reduzir a velocidade e mandar a mixagem original. A platéia cantou em coro, meio desajeitada, mas muito excitada pelas batidas plenas dos franceses.
Embora o festival pudesse ter pelo menos o dobro de pessoas - no ano passado foram 40 mil pagantes, contra 16 mil deste ano -, muita gente parou para ver o Justice. "DVNO" deixou a platéia e o duo mais soltos. Mais gente pulou e cantou. A iluminação, que até então apresentava azuis e roxos, passou a ser branca e amarela, estourando mais contra a platéia.
O duo passou então a uma segunda parte de sua apresentação, em que misturou músicas de outros artistas a algumas de suas composições próprias. Augé e Rosnay aceleraram com uma breve batida de rap, passaram por uma versão leve da sua "Stress" (que ficou famosa por conta de um videoclipe polêmico) e chegaram ao remix que fizeram de "Never Be Alone", do Simian Mobile Disco - ponto em que a platéia mais se divertiu. Todos pularam e cantaram junto. Na mesma canção, o duo introduziu trechos de "Atlantis to Interzone", do Klaxons, e "Just One Fix", do Ministry.
Daí pra frente, o show tomou ares de reta final, e o público passou só a assistir. A dupla se despediu sem alarde, encerrando a apresentação com "One Minute to Midnight", uma viagem espacial ao estilo Daft Punk.
Os outros
Mais cedo, o duo cearense de eletro rock Montage abusou do volume das mais de quarenta caixas de som montadas no palco principal. Foi o show mais alto do Skol Beats, visto por pouco mais de 1.500 pessoas. Daniel Peixoto esbanjou energia enquanto cantava, gemia, dançava funk e realizava suas notórias performances sexuais. Nos sintetizadores, Leco Jucá não economizou nas misturas das batidas eletrônicas com pancadões cariocas e rock.
Após o bolo que deram nos brasileiros no Tim Festival no ano passado, o Digitalism entrou às 3h30, com meia hora de atraso. O som da dupla alemã revela influência do pós-punk do Joy Division, confirmada pela camiseta de Jens Moelle, que ainda arriscou uns berros. A outra metade do duo, Ismail Tuefekci, estava mais interessada em batidas matemáticas, como as do Kraftwerk. Além de sintetizador, tocou bateria. A dupla chegou a se balançar um pouco atrás de sua enorme mesa de som, mas o público não se entregou.
Os australianos do Pendulum fizeram o show mais destoante do festival. Tocaram uma mistura de drum 'n bass com nu metal, ao estilo Limp Bizkit e Korn. A platéia, vinda do aquecimento do tradicional DJ Marky, encarou o sexteto como diversão. As pessoas pularam e dançaram animadas, sem, de fato, dar atenção ao palco.
Os mash-ups do casal Iggor Cavalera e Laima Leyton, a dupla MixHell, foram competentes, optando pela combinação de músicas desconhecidas, ao invés do pastiche pop criado por artistas como Girl Talk e Soulwax. No entanto, a maior sensação do show - Iggor acompanhando na bateria - aconteceu em uma única canção. O ex-baterista do Sepultura deu apenas alguns toques no bumbo e muitos outros nos pratos, todos modificados por efeitos eletrônicos. Depois, voltou às pick-ups, onde seguiu comportado até o fim da apresentação.
Armin Van Buuren, o "melhor DJ do mundo", foi virtuoso. Em um set de mais de duas horas, levou a audiência para o espaço com suas batidas progressivas. O público ficou fora do ar por tempo demais, quando o holandês passou a tocar sons mais minimalistas. Poucos dançaram, mas muitos entraram em transe com a música etérea do DJ.
De óculos escuros e acompanhado de mais três músicos, Gui Boratto apareceu animado no palco, já com dia claro. Mais de duas mil pessoas esperavam para ver a nova estrela da música eletrônica brasileira, que atrasou quinze minutos para começar sua apresentação. Competente, o paulistano fez a platéia ganhar nova vida na pista, tocando batidas pesadas, revezando-se entre guitarra, baixo e o computador que emitia suas programações. O quarteto estava afinado e tocou até as 8h30. Se Gui Boratto ficasse mais, a platéia, conquistada especialmente pela canção "Beautiful Life", seguiria ali.