Ainda na segunda temporada na NBA, o garoto de dezenove anos já era considerado o próximo Michael Jordan
Shaquille O’Nealestava na quadra, mas ninguém prestava muita atenção nele. Era o primeiro jogo dos Lakers na pré-temporada de 1996-97, a primeira oportunidade para os fãs verem o que ‘Shaq’ e o contrato dele de US$ 120 milhões fariam. Mas ele estava sozinho, olhando para todos os repórteres cercando o novato de 18 anos dos Lakers, Kobe Bryant.
Era assim que Bryant sempre imaginara as coisas - exceto pelo gigante perto dele - e ele estava gostando do espetáculo. Fazia apenas alguns anos desde que Bryantestava no nono ano do ensino médio, com a noção de que iria pular da escola direto para a NBA.
Desde aquela época, o garoto da High Merion High School, da Filadélfia, havia obliterado (com mais de 500 pontos) todos os recordes de pontuação do ensino médio de Wilt Chamberlain, no sudeste da Pensilvânia, além de ter levado a equipe pela qual jogava ao campeonato estadual e ser nomeado jogador do ensino médio do USA Today no ano.
Ele também assinou um contrato de três anos e US$ 3,5 milhões com o Lakers; filmou um comercial de tênis; apareceu no The Tonight Show, no Rosie O’Donnell Show e nas comédias de auditório Moesha, Arliss e Sister, Sister. Tudo sem jogar um minuto na NBA ou de basquete universitário.
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Do outro lado do auditório, ShaquillleO’Neal deu um sorriso. Depois de alguns minutos, ele respondeu às perguntas sobre o restante da equipe ter ressentimentos com o tanto de atenção que o novato Bryant recebia. O’Neal olhou para o garoto que havia apelidado de ‘Showboat’ e disse: “Atenção é como dinheiro - tem o suficiente para todos no time.”
E com isso, O'Neal empurrou a multidão. Segundos depois, começou a cantar (ele é um cantor, afinal) ao som de "Greatest Love of All": "Eu acredito que Showboat é o futuro / Chame a jogada e deixe o filho da p*** jogar". ‘Shaq’ sorriu, voltou-se para o armário com um floreio e cantou mais alto: "Acredito que o Showboat é o futuro ...".
Quando criança, Kobe Bryant não tinha as mesmas preocupações que os outros. Na verdade, ele tinha apenas duas: o quão famoso seria e em quanto tempo chegaria lá. Então, quando disse que gostaria de visitar um centro para crianças vítimas de abuso ("Quando criança, eu via muitos jogadores da NBA indo às instalações", disse ele. "Eu penso que, se tiver a oportunidade, vou tentar ajudar ”), é óbvio que ele sempre se enxergou mais como um atleta famoso em um comercial da United Way do que como um cidadão.
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A fama sempre foi a constante na equação da vida de Bryant. Dos seis aos quatorze anos, ele morou na Itália, onde o pai, Joe “Jelly Bean” Bryant (que jogou oito temporadas na NBA, principalmente no Philadelphia 76ers), foi uma grande estrela na Liga Italiana de Basquete Profissional. "Ele jogava com tanto carisma", disse Bryant sobre o pai. "Ele me ensinou a gostar do jogo."
Mas, apesar de toda a habilidade de Joe Bryant, logo ficou claro que Kobe levaria um dia os negócios da família a um novo nível. Ele cresceu rápido, tinha um primeiro passo explosivo e capacidade de saltar. Com charme e o estilo de jogo chamativo de pai, Kobe Bryant sempre soube que tinha a chance de ser uma estrela dentro e fora da quadra. E então ele começou a trabalhar. Em ambos. "Foi o basquete", diz Bryant. "Minha namorada era o basquete."
"No ensino médio a gente relaxava no tempo livre, talvez assistíamos a um filme, para depois parar e jogar basquete um contra um", diz Matt Matkov, um dos melhores amigos de Bryant. “Quando eu estava na farra, ele estava jogando basquete. Quando eu estava me levantando, Kobe estava jogando basquete antes da aula. ”
Dentre todas as habilidades no basquete, foi o carisma fora de quadra de Bryant - uma desenvoltura que contagia sem ofender - que conquistou instantaneamente as multidões do Fórum de Los Angeles, mesmo antes de ele começar a jogar mais de alguns minutos por jogo. Ele é inteligente e charmoso demais para alguém da idade dele.
Aos dezenove anos, já entra no tipo de "falsa intimidade" que celebridades como Michael Jordan ou TomCruise desenvolveram ao longo de muitos anos no centro das atenções. Bryant pode dar um sorriso que faria um malandro ficar sem jeito. A mãe de Matkov costumava provocar Bryant, dizendo que ele falava melhor com os repórteres do que com qualquer outra pessoa.
"O Kobe é assim", diz Matkov. "Quando ele está conversando com os repórteres, é uma gramática adequada, dizendo o que eles querem ouvir. Entrar nesse modo famoso é algo que ele precisa fazer, porque vai atrair mais fãs para ele."
A mãe de Kobe, Pam Bryant, oferece uma história para colocar as coisas em perspectiva: logo depois que Kobe tirou carteira de motorista, a mãe dele lhe disse que, se ele iria dirigir a BMW do pai, deveria garantir que sempre levasse a licença e registro, porque, como jovem negro, ele poderia sempre ser parado sem motivo.
"E quer saber?", Pergunta a mãe. “Duas semanas depois, ele foi parado. O policial disse a ele: 'Você parece jovem demais para dirigir um carro como esse'. E então ele olhou para a carteira, viu que era Kobe e logo depois ele queria um autógrafo. ”Kobe era respeitoso. Quando chegou em casa, ele riu. "Não há nada de errado em estar preparado para essas coisas", disse Kobe.
Esse texto foi publicado em 11 de Junho de 1998, na Rolling Stone EUA.
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