“Chega uma hora em que nós estamos tão velhos que nossos corpos começam a se despedaçar. Acho que seguirei você muito em breve”, escreveu o poeta
Cerca de quatro meses antes de morrer, Leonard Cohen escreveu uma emotiva carta a Marianne Ihlen. A norueguesa, que também morreu este ano, em 28 de julho, inspirou o poeta e cantor a compor as emblemáticas canções “So Long, Marianne” e “Bird on the Wire”. O texto veio à tona graças a Jan Christian Mollestad, amigo da musa de Cohen.
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De acordo com Mollestad, ele teria alertado o lendário músico de que a amiga morria de leucemia. Aproximadamente duas horas depois, Cohen teria respondido com uma “belíssima” carta, que foi entregue a tempo a Marianne.
“Ela dizia: ‘Marianne, chega uma hora em que nós estamos tão velhos que nossos corpos começam a se despedaçar. Acho que seguirei você muito em breve. Sei que estou tão perto de você, que se você esticasse sua mão, acho que ela alcançaria a minha'”, disse Mollestad à CBC sobre a carta do cantor.
“‘E você sabe que eu sempre te amei pela sua beleza e sabedoria, mas não preciso dizer mais nada sobre isso, porque você já sabe tudo. Agora, eu só gostaria de desejar a você uma boa viagem. Adeus, velha amiga. Amor sem fim, nos veremos em breve.”
Dois dias depois, a musa que inspirou o músico canadense “perdeu a consciência e escorregou para a morte”, conforme declarou Mollestad. O funeral foi realizado em Oslo, na Noruega, terra natal dela.
Cohen conheceu Marianne nos anos 1960 enquanto passava uma temporada na ilha grega de Hidra. Em seguida, ele a convidaria – junto do filho pequeno dela – para viver com ele em Montreal, Canadá. Os dois permaneceram juntos por sete anos. O relacionamento do casal inspirou as canções “So Long, Marianne”, “Hey, That’s no Way to Say Goodbye” e “Bird on the Wire”.
A conta do músico no Facebook homenageou Marianne com uma série de tributos escritos por amigos dela, biógrafos de Cohen, bem como uma carta de Mollestad informando ao autor de Songs From a Room sobre a morte da norueguesa.
“A sua carta chegou em um momento em que ela ainda podia falar e rir em plena consciência. Quando nós lemos em voz alta, ela sorriu do jeito que só ela poderia sorrir. Então estendeu a mão, quando você disse que estava logo ali, perto o suficiente para tocá-la. Saber que você estava ciente da condição dela, deu a Marianne uma profunda paz de espírito. A sua bênção pela jornada deu a ela força extra”, escreveu Mollestad.
“Na última hora de vida de Marianne, eu segurei a mão dela e murmurei versos de ‘Bird on a Wire’, enquanto ela respirava lentamente. Quando deixamos o quarto, assim que alma dela escapou pela janela em busca de novas aventuras, nós beijamos a cabeça dela e sussurramos as suas palavras perpétuas: ‘So long, Marianne’ [Adeus, Marianne]”.
Leonard Cohen morreu na última segunda, 7, aos 82 anos. A morte foi confirmada pela Sony Music Canada, selo do músico, por meio da página dele no Facebook.
"É com profunda tristeza que relatamos que morreu o lendário poeta, compositor e artista Leonard Cohen. Perdemos um dos mais venerados e prolíficos visionários da música. Uma missa ocorrerá em Los Angeles em uma data a ser divulgada. A família pede privacidade durante seu período de luto", diz o comunicado.
Cohen ascendeu nos anos 1960, em meio a uma cena de influentes cantores e compositores folk, como Bob Dylan, Paul Simon e Joni Mitchell. Com seu barítono reverberante, o canadense oriundo de Westmount, Québec, cantou sobre temas como amor, sexo, fé, espiritualidade, guerra, paz, êxtase e depressão. O último álbum de inéditas dele, You Want It Darker, foi lançado em 21 de outubro deste ano.