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Lollapalooza 2013: “Se quiserem ‘I Will Survive’, nos avisem”, pede o líder do Cake

John McCrea vem ao Brasil embalado pelo disco que chegou ao improvável topo dos mais vendidos em 2011: “não somos uma banda que lidera as paradas”

Pedro Antunes Publicado em 28/03/2013, às 13h38 - Atualizado em 29/03/2013, às 12h33

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John McCrea (Cake) - Reprodução/ Facebook
John McCrea (Cake) - Reprodução/ Facebook

Em um papo com John McCrea, líder do Cake, é difícil discernir entrevistador e entrevistado. “Estava esperando a sua ligação”, diz o músico, do outro lado da linha, em Sacramento, Califórnia. “Imagino que você queira falar do festival que vamos tocar, certo?” Para ele, a presença da banda na versão brasileira do festival Lollapalooza, nesta sexta, 29, às 17h15, no palco Butantã, em São Paulo, é uma vitória para eles. “Achava que as pessoas tinham nos esquecido”, confessa. Os planos para uma passagem por aqui, segundo McCrea, datam desde antes da chegada do último disco deles, Showroom Compassion, lançado aqui pelo selo Oi Música, em agosto de 2011.

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“Acho que, às vezes, é difícil mobilizar os produtores locais. Não sei dizer o motivo de demoramos tanto para voltar ao Brasil. Mas acho que uma apresentação dentro de um festival é um bom jeito de voltar, há toda uma experiência diferente desta forma. Talvez algumas pessoas nos ouçam pela primeira vez”.

A música do Cake não possui fórmula, une funk, trompete, com rock e R&B, e uma voz desleixada de McCrea. Como parte dessa anarquia, eles fazem algumas covers, que é o caso do hit “I Will Survive”, escrita por Freddie Perren e Dino Fekaris, mas eternizada na poderosa voz Gloria Gaynor.

Eles fizeram a versão em 1996, para o disco Fashion Nugget, com pequenas e pontuais mudanças na letra. O verso "And you see me, somebody new" foi alterado para "And you see me with somebody new", por exemplo, o que dá um ar mais sacana para a canção que tratava de superar o amor perdido. A versão deles logo se espalhou e se popularizou, gerando certa estafa em McCrea e banda. “Ficamos um bom tempo sem tocá-la”, disse ele. “E não a tocamos todas as noites. Mas, se quiserem ‘I Will Survive’, nos avisem. Aproveite e peça para o público gritar bem alto, para que possamos entendê-los, ok?”, pede ele.

Topo das paradas

O discurso humilde é curioso vindo de uma banda que já está na estrada desde 1991, e lançou o álbum de estreia, Motorcade of Generosity, três anos depois. Principalmente depois que Showroom Compassion chegou ao topo da parada Billboard 200, da revista norte-americana, na semana de estreia. “Não somos esse tipo de grupo que lidera as paradas”, diz ele, honesto. Foram 44 mil cópias e, segundo as publicações da época, providas de dados da Nielsen SoundScan, foi o mais baixo número de vendas desde 1991, quando ela começou a operar. Um dado que escancara a profundidade da crise que assolava a indústria fonográfica na época. As coisas melhoraram desde então. Lançado na semana passada, The 20/20 Experience, de Justin Timberlake, vendeu 968 mil cópias, por exemplo.

“Me surpreendeu o fato de irmos tão bem sete anos depois do disco anterior”, diz ele, citando o álbum anterior Pressure Chief, lançado em 2004. Um próximo trabalho do Cake, então, deve demorar mais sete anos para chegar? Ele ri da lógica: “Eu não tenho a intenção, mas também não quero apressar nada”, diz. “Eu não gosto de gastar plástico com algo que eu não acredite. Prefiro não lançar nada até saber que está bom. Pode demorar um tempo, mas suponho que o novo disco saia em 2014. É o que eu quero, mas tenho muito trabalho pela frente”, diz.

DNA brasileiro

Combustível para este novo trabalho pode ser encontrado justamente no Brasil. “Vou me encontrar com o Tom Zé para terminarmos algumas músicas que começamos há alguns anos”, conta. Estes “alguns anos” são “três ou quatro”, McCrea não sabe ao certo. “Será ótimo voltar ao Brasil e reencontrá-lo. Estivemos muito ocupados com o lançamento do disco anterior, então vou reencontrar essas canções agora, no estúdio.”

Quando o nome do Tom Zé entra na entrevista, tudo se inverte. McCrea é um curioso e um fã de música brasileira e passa a comandar o bombardeio de perguntas. “Ainda não digeri completamente o disco dele”, diz, antes de pedir uma explicação sobre o conceito criado pelo músico baiano em Tropicália Lixo Lógico, de 2012. Depois, busca saber mais sobre a carreira solo de Marcelo Camelo, se ele e Mallu Magalhães estão colaborando juntos. “Ele deve estar se sentindo mais livre do que quando ele tinha a banda, não?”, questiona. Sobre Os Mutantes, McCrea fica intrigado com a história de amor vivida por Arnaldo Baptista e Rita Lee, o fim do relacionamento deles e a saída dela da banda. “Ele [Arnaldo] tinha muitas emoções, certo? É difícil ter todas essas emoções e convertê-las em músicas. Não é fácil, nada prático. Para alguns dos melhores músicos, infelizmente, as emoções são simplesmente grandes demais”.

McCrea usa o sarcasmo nas letras para disfarçar os próprios sentimentos. “É uma maneira de me proteger”, diz. “Esta é uma técnica de colocar seus próprios sentimentos em uma caixa, como se você pudesse controlá-los. Eu poderia ser facilmente como ele [Arnaldo]", diz ele, que volta ao papel de entrevistado até o fim do papo. "É difícil escrever boas melodias e ser um adulto funcional.”

Cake no Lollapalooza

Dia 29, sexta-feira, às 17h15

Palco Butantã