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Lollapalooza 2013: “Seria terrível fazer parte do sistema e não ser ouvido”, diz líder do Passion Pit

Michael Angelakos traz a sua banda para uma segunda passagem pelo Brasil, desta vez mais confiante e com um novo disco, Gossamer, lançado em 2012

Pedro Antunes Publicado em 28/03/2013, às 17h30 - Atualizado às 17h38

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Michael Angelakos - Passion Pit - AP
Michael Angelakos - Passion Pit - AP

Michael Angelakos, criador do Passion Pit e diagnosticado com transtorno bipolar, tem dias bons e ruins. Naquela tarde de fevereiro, em Nova York, onde mora desde que saiu de Cambridge (Massachusetts), ele se sentia ótimo. Disposto e de bom humor, o vocalista que recentemente foi recomendado por médicos a diminuir o período de turnês, para evitar que sua doença se agravasse, avalia que, em dois anos, a banda evoluiu e amadureceu bastante.

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Neste intervalo de tempo entre as passagens da banda pelo Brasil, nos festivais Planeta Terra, no fim de 2011, e Lollapalooza 2013, no qual eles estão escalados para encerrar as atividades do palco Alternativo, nesta sexta-feira, 29, às 20h, muita água passou por baixo da ponte do Passion Pit. E o disco Gossamer, lançado em julho do ano passado, é a representação sonora de tudo isso.

Acontece que Michael já não é o menino de 19 anos cujo coração se quebrou e encontrou, na música, uma maneira de dar vazão aos seus sentimentos confusos e nebulosos. Quando Manners saiu, em maio de 2009, ele já tinha 21 anos e não se identificava mais com aquilo que cantava saía nas caixas de som. “A música, para mim, sempre foi algo muito pessoal e confessional. Íntimo, mesmo”, diz ele, por telefone. “[Antes do primeiro disco] Foi um período bastante confuso, questionador. Muito negro...”, a voz dele se perde por alguns segundos, como se memórias que ele julgava estar enterradas surgissem diante dos seus olhos, mas logo ele anima-se de novo. “Gostamos muito mais desse disco. É muito mais excitante tocá-lo, algo que vocês vão perceber neste show. Temos mais presença de palco”, disse ele.

Uma comparação entre shows que deverá ser feita para o fã que conseguir estar presente nas apresentações de 2011 e 2013, porque a memória de Michael o trai ao tentar lembrar da outra passagem por aqui. “Tente imaginar uma coisa: você faz shows seguidos, por dois anos, e todos ficam muito parecidos”, explica. “Lembro que tivemos alguns dias de folga, e que o palco era muito pequeno. Divertido, mas com um palco questionável”, completa. O palco do Lolla é dedicado para as grandes bandas indie – o Passion Pit é o headliner dele, encerrando a primeira noite. “Quando maior, melhor, eu acho. Público maiores são menos intimidantes. Melhor tocar para uma multidão do que para um grupo pequeno, bem próximo de você. Acho que a minha música funciona melhor nestes lugares grandes”.

Letras pessoais

O músico, hoje aos 25, olha para a obra musical do Passion Pit – que ainda toca no Circo Voador, no Rio de Janeiro, no dia seguinte - e percebe uma trajetória própria naquelas canções. “É possível traçar uma linha da minha vida com esses dois discos”, diz ele. “Ainda que eu não me considere um adulto propriamente dito, para dizer que foi a saída da adolescência e entrada na vida adulta. Eu não sou muito maduro, mas a música me ajudou a desenvolver uma linha narrativa da minha própria vida”.

Gossamer é um disco mais poderoso e completo do que seu antecessor. É fruto de um longo tempo de turnê – “foram dois anos seguidos, sem ver a minha noiva”, diz ele –, seguido por um curto período de férias. “Um disco não deveria demorar tanto para ser feito, de qualquer forma”, explica Michael. “Fiquei mais de um ano no estúdio. Sou muito autocrítico, é algo que deveria trabalhar mais. Ainda assim, algumas pessoas me perguntavam: ‘faz três anos que você lançou seu último disco, por que demorou tanto?’. Bom, acho que depois de dois anos de turnê, eu tenho direito a férias, certo?”

Michael trata a música como um trabalho – do qual ele se orgulha, é verdade -, mas nem sempre ele concorda com o que a gravadora, Sony Music, pede a ele. “‘Take a Walk’ não era sequer para entrar no disco. Mas não sou eu que escolho o single, não é meu trabalho, eu só gravo”, diz ele sobre o primeiro single e faixa que abre o segundo álbum. “É uma canção antiga essa. É um grande exemplo de como as músicas mudam a cada demo. Mas, basicamente, eu não acho ela uma boa música”.

Músicas em camadas

Para produzir este novo álbum, Michael gastou US$ 300 mil (segundo a Pitchfork), em equipamentos variados, de sintetizadores a baterias eletrônicas e pedais. Ele gravou tudo sozinho, contando apenas com a ajuda de Chris Zane, que assina como coprodutor do álbum. Entre equipamentos, ele é como uma criança em um playground. “Tudo começa com uma melodia básica, no piano ou no órgão, por exemplo, daí eu vou para a bateria eletrônica, depois vou criar um som novo no sintetizador e colocar uma guitarra em looping. No meio disso tudo, faço as letras. É um processo confuso, eu sei, mas é assim que as coisas funcionam para o Passion Pit”.

No meio deste tumulto que é gravar um disco, Michael compõe canções que devem ser absorvidas por nós de duas camadas diferentes. Na casca, primeiro, há sempre um sintetizador e uma batida vibrante, que coloca o ouvinte para bater os pés, invariavelmente. Quando se aprofunda nas letras da banda, chega-se a um ponto agridoce, amargo e doloroso. “Eu não quero ditar como as pessoas querem interpretar as minhas músicas”, diz ele, que também evita se aprofundar nos significados de cada canção. “Quero que interpretem as músicas da maneira que preferirem. E Deus sabe como algumas delas estão erradas. Mas isso é bom”, completa.

O fato de que as músicas são sombrias quando furada essa neblina de algodão doce e, ainda assim, rodarem o mundo, não intimida um normalmente tímido Michael. “Se eu tivesse qualquer sentimento de medo em me expressar por meio da música, não poderia ser um artista”, argumenta ele. “É por isso que assinei com a Sony. Queria alcançar as pessoas, queria que ouvissem o que eu fazia. Seria terrível fazer parte do sistema e não ser ouvido. Sou muito abençoado por estar conectado. Nada mais importa, se você consegue alcançar uma pessoa, é ótimo”, diz um agora otimista Michael. Ele definitivamente estava em um dos seus melhores dias.

Passion Pit no Lollapalooza

Dia 29, sexta-feira, às 20h.

Palco Alternativo