Inédita em palcos brasileiros, banda de Seattle prova que anos 90 continuam com apelo em alta
O Soundgarden foi fundado em Seattle em 1984, entrou no bonde do grunge puxado pelo sucesso colossal do Nirvana em 1991, teve um álbum liderando as paradas em 1994 e encerrou as atividades antes da virada do século, alegando diferenças irreconciliáveis. Retornaram ao trabalho em 2010, e desde então, lançaram um disco de inéditas e saíram em turnê mundial. E somente agora, três décadas depois de surgir, a banda fez um show no Brasil.
O longo período de espera não passou batido pelo vocalista/guitarrista Chris Cornell, que se lembrou do fato várias vezes ao longo da apresentação do Soundgarden no palco Onix do festival Lollapalooza, no início da noite de domingo, 6. “Obrigado por esperar tanto tempo”, ele agradeceu antes do sucesso “Spoonman”, a segunda música da noite. “Nunca é tarde demais”, ele insistiu antes de dar inicio a outro single catapultado pela MTV, “Outshined”.
O motivo para a ausência do país na rota do Soundgarden é um mistério. Cornell chegou a fazer alguns shows solo por aqui em que mostrou uma ou outra composição da banda – a última visita foi em 2013. A formação que se apresentou em São Paulo também não pode ser considerada 100% “clássica”: o baterista Matt Cameron não viajou com o grupo, alegando compromissos com a atual turnê do Pearl Jam, do qual faz parte desde 1998. No lugar dele, tocou Matt Chamberlain, que curiosamente chegou a fazer parte do mesmo Pearl Jam em 1991. O guitarrista e fundador Kim Thayil e o baixista Ben Shepherd completaram a formação.
Na condição de único grande nome do elenco do Lollapalooza realmente inédito em solo brasileiro, o Soundgarden jogou com a plateia ganha, mas não se arriscou. De posse de um punhado de sucessos de rádio, a banda conseguiu espalhá-los ao longo do repertório e ainda assim manter os ânimos em alta durante a 1h30 de apresentação. Cornell lembrou da comemoração de aniversário de 20 anos de Superunknown, único disco do Soundgarden a aparecer no topo da parada norte-americana, que ganhará uma edição remasterizada em junho. “Não importa em que ano escrevemos essa música – tudo faz parte da história do Soundgarden”, disse. Não por acaso, quase metade do setlist foi extraído do álbum, de hits como “Black Hole Sun”, “The Day I Tried to Live” e “Fell on Black Days”, a mais obscuras, como “Like Suicide”.
Engajado, Cornell fez questão de cativar o público brasileiro nos intervalos. Antes de “Jesus Christ Pose”, de Badmotorfinger (1991), comentou que “esta não poderia ficar de fora”. Ao apresentar “Been Away for Too Long”, única faixa do disco mais recente, King Animal (2012), falou: “Se você é fã, fizemos esse disco para você. Empreste, roube, baixe ilegalmente, mas não deixe de escutar”. Conhecido como o vocalista mais habilidoso da cena de Seattle, Cornell, beirando os 50, brilhou na maior parte do tempo. Mesmo entregando certa dificuldade com notas mais altas, ele impressionou pelo alcance em faixas exigentes como “Blow Up the Outside World” e “Beyond the Wheel”. Também foi impossível ignorar a presença intensa de Shepherd, imerso em linhas de baixo cavernosas e trejeitos agressivos.
Com temas soturnos, timbres ásperos e virtuosismo, a música do Soundgarden talvez seja a que melhor sintetiza a essência da difusa cena originada em Seattle no final dos anos 80. Felizmente ela envelheceu bem, e diante do público brasileiro, a banda veterana conseguiu a proeza de soar pouco anacrônica e ainda relevante. Aqueles 30 anos de espera, no fim das contas, compensaram.