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Lollapalooza 2014: “Tudo o que fazemos é um pouco esquisito”, diz integrante do Arcade Fire

A banda promete surpresa com uma música brasileira quando encerrar o festival no próximo domingo, 6

Pedro Antunes Publicado em 29/03/2014, às 14h01 - Atualizado às 16h57

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Arcade Fire - Divulgação
Arcade Fire - Divulgação

Mesmo que por apenas alguns shows, o Arcade Fire deixou de ser a banda indie mais mainstream do planeta – sim, eles caminham por essa linha tênue entre pop e alternativo desde que estrearam com o álbum Funeral, em 2004, e cresceram muito desde então. Eles assumiram a identidade The Reflektors e, embora muitos tenham presumido logo que se tratava de uma manobra mercadológica para chamar atenção para o vindouro disco Reflektor, a experiência de "ser" uma banda pequena foi boa para os integrantes do grupo canadense. “Eu, particularmente, achava que deveríamos fazer isso”, diz o multi-instrumentista Richard Reed Parry, em entrevista à Rolling Stone Brasil.

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O Arcade deixou de tocar para milhares e passou a encarar centenas, em palcos pequenos demais para comportar todos os integrantes do grupo, ainda composto por Win Butler, Régine Chassagne, William Butler, Tim Kingsbury e Jeremy Gara, em um mesmo espaço. Nesse período, as canções de Reflektor foram gestadas para serem executadas ao vivo, como o público brasileiro terá a oportunidade de assistir durante os shows no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira, 4, e no festival paulistano Lollapalooza, na noite de domingo, 6, já com a banda reassumindo a forma de Arcade Fire.

“Foi muito divertido”, diz Parry sobre a experiência de ser um integrante do Reflektors. “Sentíamos que as músicas teriam uma energia diferente no palco.” Para ele, ao vivo, “Here Comes The Night Time” cresce ainda mais do que na versão de estúdio, principalmente porque a música é dividida em duas no álbum duplo. “Bom, eu não ouço o disco”, diz ele, rindo. “Essa música traz algo que nunca fizemos, é fruto de um momento em que tentamos fazer algo diferente. É um desafio muito legal. E, no palco, ela tem uma energia que funciona muito bem.”

Assim como aconteceu com “Here Comes The Night Time”, a banda precisava aprender a lidar com a nova safra ao vivo, “sem precisar lembrar como tocávamos as músicas antigas”, conforme brinca Parry. “Só poderíamos nos reinventar se tocássemos elas ao vivo, sem precisar mostrar uma música antiga para deixar o público feliz”. Em um show recente, no México, na última sexta-feira, 28, eles mostraram “Reflektor”, “Flashbulb Eyes”, “Joan of Arc”, “Afterlife”, “It’s Never Over (Oh, Orpheus)”, “Normal Person” e “Here Comes The Night Time” – as faixas do novo álbum foram maioria na performance.

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No México, o grupo repetiu a surpresa popularesca de executar uma canção de um artista local, assim como fez na turnê norte-americana, na qual o Arcade Fire fez covers de Prince e Stevie Wonder – prática aprovada pelo público brasileiro durante a turnê de Bruce Springsteen por aqui. Teremos uma surpresa no Brasil? “Talvez”, diz Parry. “Eu não poderia falar ou não seria uma surpresa”. O multi-instrumentista, contudo, dá algumas pistas do que poderá ser visto por aqui ao citar algumas influências brasileiras da multifacetada sonoridade do Arcade Fire. “Amamos Os Mutantes, obviamente”, revela. “Mas gosto também de Alceu Valença, naquele lance de rock psicodélico dos anos 70, com guitarras. E tem, é claro, Caetano Veloso”.

Será a segunda passagem do grupo pelo Brasil. A primeira foi em 2005 e pode ser comparada à mini-turnê do The Reflektors: a banda tinha apenas um disco lançado e atraiu mais olhares curiosos do que fãs ao Tim Festival realizado em São Paulo, quando foi atração ao lado de Kings of Leon e The Strokes, duas bandas que, na época, eram mais populares do que a trupe canadense.

Neste meio tempo, o grupo lançou Neon Bible (2007), sucessor sombrio de Funeral, e o premiado pelo Grammy como Melhor Disco do Ano The Suburbs (2010). “Desculpe por não termos voltado antes”, diz Parry, com aparente sinceridade, antes de derreter-se em elogios ao público brasileiro. “Lembro muito bem da nossa primeira passagem por aí. Foi demais, muitíssimo divertido”.

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“Aquela era uma época curiosa porque tínhamos um nível interessante de popularidade. Acho que algumas pessoas conheciam a gente, dava para ver que algumas delas cantavam as nossas músicas, mas não era todo mundo”, relembra. “Era uma resposta pura que vinha do público, bastante autêntica. E, de repente, estávamos no Brasil, com o melhor público que há. Vocês ficam muito emocionados com a música, são musicais, sabe?”

Enquanto em 2005 o Arcade Fire era a atração menor, o Strokes de Julian Casablancas era a maior banda indie do mundo. “Lembro de me misturar na plateia para assistir àquele show. Pensava em como as pessoas estavam felizes. Elas seguravam as mãos uns dos outros, abraçavam-se, cantavam juntos, pulavam. Estavam felizes. Foi uma linda experiência”.

Em 2014, contudo, o mundo da música parece ter girado e invertido as posições. Enquanto o Arcade é headliner do segundo dia de festival, Casablancas, em carreira solo, toca em um horário razoavelmente ingrato no sábado, 5. Parry faz ainda uma pequena crítica sobre a programação do festival, ao ser questionado sobre o fato de Arcade Fire e New Order terem sido escalados para tocar no mesmo horário, no domingo. “É estranho, mas...”, diz ele. “É um pouco esquisito, pensando no festival, na curadoria. Porque, às vezes, os festivais nos colocam para tocar junto com gente como Snoop Dogg, que é incrível, mas não tem o mesmo público que o nosso.”

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Mas nem mesmo a posição de destaque em festivais no Brasil e mundo afora, ou o Grammy, tiram do Arcade Fire o experimentalismo indie que pode ser ouvido em Reflektor, um álbum com sabores pop, cheio de harmonias pomposas e temáticas duras e melancólicas. É como se Parry e companhia se equilibrassem sobre uma corda, pendendo ora para o mainstream, ora para o alternativo, sem cair em nenhum dos lados. “Fazemos músicas grandiosas, mas nada muito polido, entende?”, diz o músico. “Tentamos sempre testar algumas coisas, sair um pouco do nosso lugar comum, passar dos nossos limites. Em partes, é por isso que nos mantemos indie”, completa. “Não pensamos em fazer uma música perfeita para tocar no rádio, ou de que todo mundo irá gostar. Talvez algumas pessoas não gostem de ‘Here Comes The Night Time’, mas é uma grande música e sabemos disso. Também é um pouco estranha”, analisa o músico. “Mas tudo o que fazemos é um pouco esquisito.”