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Lollapalooza 2018: David Byrne faz show "cabeça" e movimentado

Ex-líder do Talking Heads relembrou a antiga banda e mostrou disco novo

Paulo Cavalcanti Publicado em 24/03/2018, às 20h00 - Atualizado em 28/03/2018, às 18h07

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David Byrne no Lollapalooza 2018 - Andréia Takaishi
David Byrne no Lollapalooza 2018 - Andréia Takaishi

Com o enorme interesse que há atualmente por tudo o que foi feito na década de 1980, um show como o de David Byrne não tem como não agradar. Já que o lado mais leve daquela década vem sendo consumido avidamente, é bom que o público mais jovem se interesse também pelo aspecto mais "cerebral" daquele período, especialmente no que diz respeito à música. Poucos representam isso tão bem quanto David Byrne. Quando liderou o Talking Heads, o artista juntou new wave, funk, punk, art rock e world music. Além disso, sempre demonstrou interesse dele na música brasileira, o que levou ao redescobrimento da musica de Tom Zé. Teve um pouco de tudo isso no show dele no Lollapalooza.

Byrne foi atração do palco Onix a partir das 17h20. Ele está lançando o álbum American Utopia, o primeiro disco solo que faz em 15 anos, e naturalmente o cantor fez uma seleção de faixas deste trabalho. Mas para a alegria dos presentes, ele não se esqueceu do Talking Heads, recordando várias faixas da banda que liderou nos anos 1980.

O show, altamente teatral, começou com Byrne sozinho no palco, meditativo, sentado à mesa e segurando um cérebro de borracha enquanto entoava a climática "Here", faixa do disco novo. Ficava claro que ele iria reviver o espírito performático do Talking Heads da época de Stop Making Sense (1984), o célebre concerto que chegou as telas sob a direção de Jonathan Demme. Os músicos virtuosos de Byrne não têm instrumentos fixos. Tudo era móvel, então eles não ficavam confinados em canto algum e interagiam livremente com o dono do show, executando coreografias bizarras, marchando pra lá e pra cá e celebrando a vida com passos de dança amalucados. Parecia uma mistura de banda de metais de Nova Orleans com um grupo de percussão de música baiana.

Por uma hora, Byrne e os comandados traçaram uma envolvente rota sonora com uma boa seleção de faixas do Talking Heads ("I Zimbra", "Once in a Lifetime" e "Burning Down the House", que encerrou o show) e faixas do excelente novo disco ("Everybody is Coming To My House", "Everyday is a Miracle"). Um dos destaques foi "Toe Jam", um cajun de Nova Orleans que acabou virando forró, com direito até a um trecho em português.

Mesmo que o publicou não estivesse familiarizado com todo o repertório que foi apresentado ali, Byrne ganhou a tarde. O entusiasmo e a energia dele e de sua trupe foram suficientes para contagiar. Era impossível tirar os olhos do palco. Juntando ideias ambiciosas, sofisticação e um vasto conhecimento musical, David Byrne elevou o nível do festival, ultrapassando o mero entretenimento e mostrando que não está interessado em viagem de nostalgia.

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