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Lollapalooza 2019: ao vivo, Greta Van Fleet escancara remake de Led Zeppelin - e é hora de parar com o mimimi

Com integrantes de 20 e poucos anos, banda mostra referências que vão além do óbvio e produzem show barulhento e potente no festival, neste domingo, 7

Pedro Antunes Publicado em 07/04/2019, às 19h24

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Greta Van Fleet toca no Lollapalooza 2019 (foto: Camila Cara)
Greta Van Fleet toca no Lollapalooza 2019 (foto: Camila Cara)

Vamos falar a verdade? Se o Greta Van Fleet ainda fosse uma bandinha de clube de esquina, ainda presa em Michigan, nos Estados Unidos, ninguém falaria sobre a semelhança do som deles com o Led Zeppelin. Mas os caras estouraram, ganharam o mundo, tocaram no Lollapalooza no mesmo horário nobre que, nos dias anteriores, se apresentaram Tribalistas e Lenny Kravitz, ambos cujo tempo de carreira talvez seja o que esses guris têm de vida.

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Mas não é o caso do Greta Van Fleet, novos queridinhos e odiados do rock mundial, com seus 20 e poucos anos de idade. O terceiro dia de festival, domingo, 7, ao início do show deles, viu o público vibrar como se fosse a classificação de um time de futebol para a final do campeonato estadual (como de fato ocorreu minutos antes da banda subir ao palco, no confronto entre os times São Paulo e Palmeiras).

O fato é que o sucesso incomoda. E escancara as referências. Obviamente os meninos do Greta Van Fleet se inspiraram em Led Zeppelin, tal qual em outros tantos grupos desse rock setentista clássico. A bateria é ácida, aguda, estourada, com as guitarras que berram, mas são incapazes de gritarem tão alto quanto o vocal de Josh Kiszka.

Se o Greta Van Fleet fosse mais indie, com referências mais obscuras como o Velvet Underground, o mundo não daria um pio. O rock de garagem foi reerguido graças à adoração de grupos como The Strokes ao experimentalismo dos grupos dos anos 1960.

De modo que a referência do Greta Van Fleet é escancarada, como tantos outros sucessos já tiveram. A questão é: e daí? Mexer com uma entidade endeusada como o Led Zeppelin incomoda os puristas.

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Bombardeados com críticas à cada entrevista ou resenha, os três irmãos Kiszka (Josh, Jake e Sam) e o baterista Danny Wagner recuaram, negaram as suas inspirações tão claras. Ninguém está fazendo uma cópia ali. É uma adaptação de linguagem, tal qual remakes da indústria de Hollywood receiam, a cada 30 anos, clássicos do cinema.

Não vi ninguém nas ruas protestando contra Nasce Uma Estrela, com Lady Gaga e Bradley Cooper, ser um remake. Não houve manifestações contrárias.

A música precisa entender o que outras formas de arte já entenderam. Nada se cria, tudo se copia. Isso pode se dar de forma furtiva ou escancarada.

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O espírito do Led Zeppelin corre pelo som do Greta Van Fleet. E a banda inglesa, convenhamos, tomou para si elementos do bluegrass e do blues que vinha do distante Mississipi. Ou seja, em maior ou menos escala, estamos todos no mesmo barco.

De qualquer forma, eles estão longe de beberem só é uma mesma. Ou seja, o Zeppelin esta diluído em um monte de outras referências. AC/DC, por exemplo, pode ser sentido na agressividade e velocidade deles também.

Berrar contra isso, como defensores do rock clássico, é esquecer que a música também é um negócio e se renova, se recria, se copia. A molecada que estava em frente ao palco Budweiser, neste domingo de Lollapalooza, último dia da edição de 2019, certamente irá para casa com a mesma energia renovada que os sessentões sentiam ao sair de uma apresentação do Zeppelin.

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Mais importante que isso é ouvir guitarras estridentes gritando, ao sabor do vento, em um festival extremamente forte como o Lollapalooza no Brasil. No mesmo domingo no qual se apresentaram tantas atrações distantes do rock tradicional, com os ótimos Interpol, IZA e, por fim, Kendrick Lamar, o reconhecimento do rock como expressão é exemplar.

Com somente um disco e dois EPs lançados, o Greta Van Fleet faz mais barulho que muita banda do festival. Agradam principalmente um público mais roqueiro e, principalmente mas não só, jovem. O primeiro disco deles, chamado Anthem of the Peaceful Army, só saiu em outubro de 2018. Seis meses depois, eles já estavam no Lollapalooza Brasil, estourando caixas de som com agudos estridentes.

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Preocupante, no caso, é a saúde da garganta do vocalista Josh, que recentemente cancelou shows para tratá-la. É preciso encontrar técnicas de soltar o gogó com a mesma intensidade, sem danificar tanto suas cordas vocais.

No repertório, eles vagam pelos três trabalhos já lançados, entre 2017 e 2018, todos com uma pegada construída como se fosse na mesma levada. Emendam, por exemplo, sem muito papo, “The Cold Wind”, “Safari Song” e “Black Smoke Rising”, logo no começo da apresentação, sem firulas.

Seus nuances estão na guitarra que por vezes extrapola, noutras se amansa, enquanto os vocais bastante gritados e agudos de Josh fazem os ouvidos temerem. Com “Highway Tune”, eles encerram uma hora e 5 minutos de show com vigor tão comum entre os jovens. Dão a impressão que poderiam passar mais duas horas sobre o palco.

Os gritos de “olê, olê, olá, Greta, Greta”, entre as músicas do Greta Van Fleet, mostram que o rock não morreu, está longe disso. Está sendo carregado por outras mãos já. É hora de se acostumar com isso.