Trio cuiabano faz campanha para dar versão física ao melhor disco nacional de 2008, pioneiro em lançamentos digitais
Em 2008, o álbum Artista Igual Pedreiro, do trio cuiabano Macaco Bong, foi eleito o melhor disco nacional do ano, pela Rolling Stone Brasil. Na história da versão brasileira da revista, ele é o único trabalho instrumental a conseguir alcançar tal feito. Por este, entre outros motivos, a banda planeja relançar o disco pela primeira vez em versão física, em vinil de edição limitada.
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“O Artista Igual Pedreiro, em vinil, nunca existiu”, conta o líder do grupo, Bruno Kayapy. “Na época, o lançamento digital era bem pioneiro ainda. E nós apostamos totalmente na versão digital. Agora, já vai fazer alguns anos que foi lançado e não tem uma versão física para encontrar. Então eu pensei: ‘Em vez de refazer em CD, vou fazer uma edição limitada em LP’.”
Assim surgiu o projeto de financiamento coletivo (acesse aqui) para viabilizar o relançamento do trabalho de estreia do Macaco Bong. O crowdfunding já está disponível no Kickante, onde fica online até o próximo dia 24 de outubro, quando Kayapy espera atingir a meta de R$ 50.392. As recompensas são poucas e variam entre apenas um dos LPs (Artista Igual Pedreiro é um álbum duplo), por R$ 130, ou colocar uma logomarca no disco, site e YouTube da banda, por R$ 30 mil.
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“Hoje em dia, com a quantidade de coisas que tem, é meio difícil alguém parar para ouvir esse disco, eu acho”, comenta o guitarrista – atualmente tocando também baixo – do trio. “Posso estar bem equivocado, mas são 300 discos, e eu pensei: ‘Pô, 300 malucos, para ter esse vinil na mão?’ Acho que vale a pena”. No total, se viabilizado, o projeto renderá 900 cópias, sendo 300 do LP 1, 300 do LP 2 e mais 300 do álbum duplo, completo, com os dois LPs.
A reedição em vinil de Artista Igual Pedreiro, entretanto, não traz apenas as faixas originais – lançadas na internet – prensadas no acetato. “Mudei um pouco a ordem das músicas”, explica Kayapy, único remanescente da formação original. “Também peguei trechos de sessões gravadas – meio à surdina – com a formação original da banda, em 2011, quando já estávamos mais maduros na execução das músicas, e misturei com as [fitas] master originais do disco.”
Resenha: Macaco Bong – Macumba Afrocimética (2015).
Gravado com Ynaiã Benthroldo (baterista, atualmente o dono das baquetas no Boogarins) e Ney Hugo (baixo), Artista Igual Pedreiro foi lançado em 2008 pela extinta gravadora Trama, no serviço ÁlbumVirtual, que já havia disponibilizado os álbuns Danc-Êh-Sá Ao Vivo, de Tom Zé, e Donkey, do Cansei de Ser Sexy. O ÁlbumVirtual funcionava oferecendo downloads gratuitos dos discos inteiros – prática que ainda engatinhava na época, mas que hoje é praticamente uma regra entre artistas fora do maisntream.
“Naquele momento, o Macaco Bong estava numa fase em que não era só a questão do som [que importava]”, confessa o líder da banda. “Acho que estávamos no lugar certo e no momento certo, sabe? Estava tudo apontando para a questão digital, mas todo mundo falava: ‘Não, mas dar música de graça é furada’. Mas a gente veio com a ideia de que é ‘tudo free, mano’, vamos soltar na internet. Daí a Trama se interessou, fez a proposta.”
Resenha: Macaco Bong – Artista Igual Pedreiro
Com faixas longas e sonoridade não convencional, Artista Igual Pedreiro não só alavancou a carreira do Macaco Bong, como se tornou um marco para a música independente – e instrumental – brasileira. Muito disso, também, graças ao emblemático título do trabalho, quase uma premonição do funcionamento da indústria fonográfica atual, em que as gravadoras perderam espaço, e os artistas, além de criar, têm de trabalhar na gravação e distribuição do produto.
“Esse título foi criado pela galera lá em Cuiabá”, lembra Kayapy. “Tínhamos uma produtora e volta e meia tínhamos que fazer obra, por que é caro pagar pedreiro [risos]. Era uma zuação e resolvemos colocar ‘Artista Igual Pedreiro’. No dia a gente ficou pensando no que colocar, e nos acabamos de rir. Não foi uma coisa muito pensada, foi um negócio mais irônico.”
Posted by Macaco Bong on Sábado, 18 de abril de 2015
“Toda a associação do nome, com o estilo da banda, todo o ‘rala’, o fato de ser instrumental, era a gente indo para um outro lado” Kayapy analisa. “Enquanto o pessoal investia pesado em estrutura e coisa do tipo, nós estávamos enxugando as coisas. Isso na época foi um pouco provocativo, ver a gente saindo de Cuiabá e tocando pelo Brasil todo. Não que o Macaco Bong propriamente tenha desbravado algo novo, só acho que talvez o Artista Igual Pedreiro mostrou que não é preciso ter um estilo de música específico para ter público.”
Com Ynaiã na bateria, o Macaco Bong lançou mais um disco, This Is Rolê, em 2012 (com Gabriel Murilo assumindo o baixo). Depois, Bruno Kayapy ainda soltou um single, “Black Marroca”, em 2013, já com uma nova formação e, este ano, refez o grupo novamente para o terceiro álbum completo, Macumba Afrocimética. No novo disco, Kayapy abandona a guitarra e toca baixo, transformando a escalação do trio em baixo, baixo e bateria.
Ouça a íntegra de Macumba Afrocimética.