Com Tickets To My Downfall - e ao lado de Travis Barker - músico revive o auge do estilo
Nos últimos meses,Machine Gun Kelly entrou de férias. Quem ocupou seu cargo foi Colson Baker, nome que a mãe deu para ele quando nasceu. O rap ficou um pouco de lado, e quem surgiu - de modo inesperado - foi o pop punk. Seu disco, Tickets To My Downfall, lançado em 25 de setembro, encaixaria perfeitamente no começo dos anos 2000, quando Blink-182 reinava nas rádios mais moderninhas
A coincidência, claro, não é à toa: Travis Barker , baterista do Blink,, é produtor do disco. “Bom,” disse Colson Baker em entrevista para Rolling Stone Brasil, “esse é o lado divertido da música. Você conhece gente que não faz o que você faz, porque se eles fizessem, seria mais fácil só trabalhar com você mesmo.”
Mas, embora Barker seja uma inspiração, o crédito da mudança vai mesmo para Machine Gun Kelly - quer dizer, Baker. Foi ele quem decidiu mudar, trazer mais instrumentos para a música, e apresentar uma gama de guitarras para uma geração que ainda não as conhece, “assim como fez Kurt Cobain.”
Aprende, ele também, novas maneiras de existir e fazer música ao dobrar-se em duas personalidades e mudar de rumo na estrada musical - e de si mesmo. “Basicamente, só estou começando a conhecer Colson, porque na verdade comecei a ouvir e usar esse nome faz só uns dois ou três anos. Mas sou Machine Gun Kelly desde meus 15 anos, até meus amigos me chamam assim. Sei que é estranho.”
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Tickets To My Downfall, porém, parece a nova aventura “emo” do rapper. Na entrevista, Baker contou como o disco nasceu, quando percebeu que queria fazer outro tipo de música, e os planos para 2021 (que incluem o Brasil, se a quarentena permitir). Veja:
Oie! Como você está? Está fazendo o que agora?
Eu estou bem… Estou abrindo meu porta malas para levar minha guitarra para dentro de casa.
Legal! Queria conversar com você sobre Tickets To My Downfall, seu disco novo... Você gravou durante a quarentena?
Gravei logo antes da quarentena começar e depois acrescentei “Concert for Aliens” e “Banyan Tree” depois disso. Essas duas eu coloquei só há umas duas semanas, foram acréscimos de último segundo ao álbum.
Para esse lançamento, você ficou bem próximo do Travis [Barker, do Blink-182]. Vocês gravaram juntos, fizeram um show online, e agora ele é seu produtor. Como isso aconteceu? Como vocês se conheceram?
Eu conheci o blink- 182 quando eu tinha uns 18 anos, quase 19. A gente fumou uns 20 beques juntos, e fiquei mais louco do que nunca antes na minha vida. Então, começamos a sair por aí em Los Angeles [depois]. Eu apareci e toquei com eles, umas duas vezes nesses anos, a gente gravou meio aleatoriamente “I Think I’m Okay” com YungBlud, e depois de uns meses ele me ligou e disse: “Ei, quer voltar pro estúdio?” E aí a primeira coisa que fizemos foi “Bloody Valentine.” Depois disso a gente estava bastante “p*ta m*rda, a gente devia fazer isso mais vezes.”
Olha, fico contente que vocês fizeram! Fiquei muito surpresa com esse disco, principalmente quando ouvi o single “Concert for Aliens”, porque é diferente de tudo que ouvi de você antes. Pode me contar um pouco do processo criativo dessa música, por favor?
O disco estava pronto naquela época, e eu senti… Parecia que me faltava um disco sobre a vida, algo com significados que não fossem só sobre amor ou só sobre mim, algo mais sobre o mundo e o momento estranho que estamos. Quer dizer, nem só sobre agora, mas.. O mundo é um lugar estranho. Está mais estranho que nunca em 2020, mas sempre foi um lugar super esquisito.
Então eu disse: “Travis, preciso voltar. Acho que precisa ter mais uma música nesse álbum." Ele disse: “Tá bom, tudo bem.” Aí eu fui lá e enlouqueci [na primeira linha de “against the world”]:" “A manchete diz: ‘O mundo acabou’”. E aí tudo.. Tudo meio que… Sabe? [Risos]
Acho que, na letra dessas músicas, você expressou que não se encaixa neste mundo. Queria saber se isso tem a ver com alguma coisa que aconteceu com você, ou se sempre se sentiu assim, mas agora sente à vontade para falar sobre…
Quer dizer, você sabe, eu cresci dividindo uma cama com meu pai durante uma idade que a maioria das pessoas já teria o próprio quarto. Sabe, teriam mais atenção sendo dada a elas. Alguém estar tão perto de você, mas dormir o tempo inteiro e estar ausente… Eu usava a mesma roupa dois, três, quatro dias seguidos na escola, e as pessoas percebiam isso. Era muito mais alto que todo mundo na época, era alto e bem magro. Também não tinha habilidades sociais porque me mudei várias vezes na minha vida, todas essas cidades diferentes, e também continentes e países... Então, quer dizer, foi uma criação estranha.
Então, obviamente, não é só porque você começa a fazer músicas que as pessoas vão ouvir que você de repente se convence: "Ah agora eu sou legal, consigo me encaixar, tudo faz sentido." A mente não funciona assim.
Sim... E, musicalmente, seu disco vai em uma direção muito diferente do que os anteriores. Quando você decidiu que era hora de mudar? Que era hora de fazer pop punk?
Para ser honesto, universo só me disse. Isso fluiu em mim como se eu não tivesse um plano. O mundo precisava disso, esse revival da música com instrumento, vindo de alguém parado em uma plataforma influente bastante para fazer adolescentes que não tem interesse nenhum em música se interessarem por isso. Foi a mesma coisa com Kurt Cobain, ou Jimi[Hendrix] ou Travis na bateria.
Então, parecia que as letras... Não é como se as estrelas tivessem se alinhado e me escolhido para fazer isso, mas eu sentia que não estava no controle na maior parte do tempo. Foi como se essas músicas só saíssem de mim. Foi que nem [no clipe] "Bloody Valentine". Sabe, você só apaga, e essas músicas me fizeram acordar no dia seguinte pensando "Ai meu Deus, isso é muito louco.”
Eu senti uma vibe meio Blink-182/Travis Barker nas suas músicas novas. Trabalhar com ele influenciou o seu novo trabalho o?
É claro que sim. Ele é uma das minhas influências, uma das maiores. Então, por que não? Seria a mesma coisa que ter Kendrick Lamar como uma das suas maiores inspirações e, então, não fazer raps de storytelling. Você sempre vai fazer algo que gravita por ali.
Sinto que é essas suas músicas não se encaixariam nos seus trabalhos anteriores, você não esperaria ouvi-las emHotel Diablo. Mas, quando você as lançou, a recepção foi incrível e todo mundo amou. Era isso que você esperava dos seus fãs? Você sempre achou que eles fossem gostar?
Não. Quer dizer, algumas das evoluções que tive durante a minha carreira foram recebidas com um blacklash. Mas real, eu sempre estou evoluindo e as pessoas sempre podem esperar algo novo de mim. Não podem sempre esperar a mesma coisa.
Se eles vão gostar ou não, isso é com eles. Mas, pelo menos vão sentir algo, e é isso que me importa. Arte boa nem sempre precisa ser amada. Também deve ser odiada. Então, não faço nada na esperança de alguém gostar. Só faço o que parece certo. E, neste momento, esse estilo de música pareceu certo.
Olha, acho que você evoluiu bastante como artista nos últimos anos, especialmente em diferentes tipos de música. Você trabalhou com tantos artistas diferentes, como Yungblud, Camila Cabello, e o próprio Travis. Como é gravar com pessoas que fazem músicas tão diferentes das suas?
Bom, esse é o lado divertido da música. Você conhece gente que não faz o que você faz, porque se eles fizessem, seria mais fácil só trabalhar com você mesmo. Mas eu não tenho essa variedade linda na minha voz, essa capacidade de subir tanto que nem a Camila. Também é divertido dar para quem ouve essa dinâmica, essa oposição.
É legal ver essa princesa do pop com, sabe, esse tipo de bad boy do rock… São dinâmicas divertidas. É como um filme… Você pode sassistir um com Brad Pitt, e aí um com Brad Pitt e Angelina Jolie.
No último mês, você disse para o New York Times que não quer mais ser conhecido como Machine Gun Kelly, que agora quer ser Colson Baker. Você pode falar um pouco sobre isso, são duas personas? Você sente que separa isso?
[Trecho do NYT: "Ele percebeu que não queria mais ser Machine Gun Kelly, pelo menos, não em todo lugar e sempre."]
Não sabia que tinha dito isso… Não é que não quero mais ser Machine Gun Kelly- é uma separação, porque amo ser Machine Gun Kelly. Se disse isso, não era o significado que eu queria.
Basicamente, só estou começando a conhecer Colson, na verdade comecei a ouvir e usar esse nome faz só uns dois ou três anos… Até meus amigos, que me conhecem desde sempre, mal me chamam assim. Sei que é estranho, mas tenho mais de uma personalidades, e conheço elas enquanto cresço. Mas sou Machine Gun Kelly desde meus 15 anos.
Para encerrar… Quero saber quais são os seus planos para 2021. Você vai fazer turnê, se puder? E.. Vem para o Brasil? Seria bem legal, já que nunca veio…
Não, nunca fui. E deixa eu te dizer algo: assim que puder fazer shows de novo, vou viajar até ter tocado em todos os países que existem porque eu me arrependo das noites que acordei e não estava em nenhuma cidade nova e pensar “cara, estou tão feliz de estar aqui e estar fazendo isso.” Então, fico super triste de dizer que nunca estive no Brasil porque o país impacta muito a cultura mundial. E vocês são incríveis, os fãs me tweetam, e conversam comigo sempre, até petição para eu tocar aí…
Você vai adorar aqui… Para encerrar, algo mais que queira dizer?
Tickets To My Downfall é “O” disco de 2020. Essa é minha última frase aqui.
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