Documentário que relembra a trajetória dos Mamonas Assassinas estreia nesta sexta, 17; leia entrevista com Cláudio Kahns, diretor do filme
O plano era fazer um filme de ficção bastante popular. Uma amiga o alertou para a possibilidade de filmar a história dos Mamonas Assassinas. E assim tudo começou - embora não tenha sido assim que tudo terminou, pelo menos por enquanto. O diretor Cláudio Kahns ainda não desistiu da ideia de rodar um longa com atores interpretando a trajetória do quinteto, mas o trabalho de pesquisa deu tanto caldo que se tornou um longa em si, o documentário Mamonas Pra Sempre, que estreia nesta sexta, 17. "O que me motivou mesmo a fazer esse filme foi ver o resultado das entrevistas. Fomos filmando tudo para fazer o roteiro, elas iam ser só material de pesquisa", explicou Kahns em entrevista à Rolling Stone Brasil. "Achei bom ter o registro, mas não tinha a menor intenção de fazer um documentário. Eu nem estava presente, os roteiristas que gravaram. Mas, assistindo, fiquei muito interessado." Enquanto as gravações eram realizadas, Kahns desenvolveu o projeto da ficção, o qual ele ainda pretende levar aos cinemas.
Mamonas Pra Sempre conta de forma despretensiosa e divertida tudo que aconteceu com o quinteto que foi fenômeno na década de 90, valendo-se da mesma personalidade e estética brincalhona do grupo. "Tentei usar uma linguagem de acordo com o que os Mamonas eram, algo bem moleque", definiu o cineasta. Kahns ilustrou os depoimentos com muitos vídeos raros e de arquivo, material obtido por meio de um longo trabalho de investigação.
"Foi bem demorado. Não só para localizar os materiais, mas também para conseguir as autorizações. Tem muita gente que aparece, são muitas emissoras e fontes diferentes. Teve uma outra questão: tínhamos muitas cópias em VHS e não sabíamos onde estavam os originais. Eles eram legais e acabaram entrando no filme. Por acaso, um dia, na casa do pai do Sérgio e do Samuel [os irmãos Reoli, respectivamente o baterista e o baixista dos Mamonas Assassinas], pedi se tinha algum material interessante e ele me trouxe uma caixinha com os originais."
E a demora foi além. Há tempos que o filme está pronto, ou quase pronto, sendo exibido em festivais, mas sua estreia em circuito foi adiada muitas vezes. Além disso, segundo Kahns, foram alguns anos no processo de confecção. "Levei uns três ou quatro anos, mas fui fazendo em paralelo a outros projetos. Foi coincidência quase casar com os 15 anos de morte dos integrantes. Demorou mais por causa de burocracias com a Ancine [Agência Nacional de Cinema]. Atrasou quase um ano por causa disso", contou o cineasta.
Aliás, após ver o filme, fica bem claro que a efeméride dos 15 anos de morte pouco importa para a história que é contada ali. Optando pela ordem cronológica, o doc não dá destaque excessivo ao tão falado, estudado e "sensacionalizado" acidente que matou os cinco integrantes. "Quando você morre, vira herói. A família não queria que eu tratasse da morte e eu também não, porque isso foi superexplorado na televisão. Não queria bater nessa tecla. O que me interessou foi a vida, o percurso, desde a banda Utopia, não a tragédia. Quis mostrar como eram engraçados e talentosos, como o Dinho era irreverente, rápido, esperto. Bem brasileiro, bem moleque."
A história de vida e morte desses garotos de Guarulhos carrega em si dois ingredientes que, misturados, são um prato cheio para uma trama de sucesso. O primeiro, é uma boa dose de nostalgia, que deverá levar aos cinemas muita gente que se lembra dos Mamonas e os associa com a infância, e ao fato de que os pais torciam o nariz para o quinteto desbocado e piadista. O outro, é o quê de Cinderela - garotos que venceram na música, alcançando rapidamente fama, sucesso e dinheiro.
Um dos destaques na estrutura narrativa do documentário são as falas do produtor Rick Bonadio, que acabam, de certa forma, trabalhando como fio condutor da história. Mesmo com a presença constante do produtor, o roteiro não dá foco à indústria musical da época e não teoriza sobre o complexo contexto que incentivou a vendagem surpreendente de CDs dos Mamonas. "Não entrei nessa parte mais sociológica. Senão, para fazer direito, teria que fazer uma pesquisa profunda dos motivos que explicassem a razão do país estar propício a receber um grupo de humor. Não quis fazer isso, não era a proposta. Quanto às falas do Rick, não foi intencional. Foi porque eram engraçadas e ele sabe do que está falando. Então, as falas dele acabaram dando essa autoridade."
"Daria para o filme ser maior, tinha material", afirmou ainda Kahns. "Mas achei que ele não poderia ser chato, tinha que ter uma dinâmica interessante. Sempre ficam algumas coisas fora, mas estamos aproveitando bastante coisa para que se tornem extras do DVD", revelou. No mais, Kahns arriscou um palpite do que teria acontecido com os Mamonas, caso aquele acidente de avião na Serra da Cantareira não tivesse acontecido em março de 1996. Diferente do que a maioria prevê, ele não acha os integrantes se separariam tão logo. "Eles eram muito amigos entre si. Poderia até ter uma rusga ou outra, mas não acredito que teriam desfeito o grupo. Acho, seguramente, que teriam feito um segundo disco. Isso já estava até meio engatilhado. A partir daí, não dá para prever mais muita coisa", disse o diretor, aproveitando para destacar o vocalista. "Acho que o Dinho, possivelmente, teria uma carreira na televisão. Eles, sobretudo ele, foram um pouco precursores do programa Pânico na TV, as brincadeiras que faziam tinham um lado Pânico." A previsão do diretor condiz com a declaração do pai de Dinho, Hildebrando Alves, durante o programa Conexão Repórter, do SBT, exibido na última quarta, 15, de que o cantor já estava tocando um projeto de humor ao lado do comediante Tom Cavalcante.