Maracatu de uma tonelada
Pernambucanos da Nação Zumbi comandaram cerca de três mil pessoas com músicas recentes e dos tempos de Chico Science; 2º dia de Demo Sul teve ingressos esgotados
Por Bruna Veloso, de Londrina
Publicado em 16/05/2011, às 12h41Na noite em que sons dançantes deram o tom, o público de Londrina foi à catarse com as batidas enraizadas na cultura pernambucana da Nação Zumbi. Em uma concentração de cerca de três mil pessoas (segundo dados não oficiais, a sexta-feira contou com 1,9 mil pagantes), os recifenses abriram o show, último do festival, com "Hoje, Amanhã e Depois", do aclamado disco Futura, de 2005. Ao som de "Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada" e "Bossa Nostra", dava para ver e ouvir, de longe, a massa pulando e cantando os refrãos em uníssono.
Diferente do público do Mudhoney (headliner da sexta), que se dividia entre adoradores e curiosos, a platéia inteira deste sábado, 11, entrou em sintonia ao peso de três alfaias e da guitarra de Lúcio Maia. O vocalista Jorge Du Peixe também comandou efeitos eletrônicos, mais experimentados que em fases anteriores da Nação. O povo seguiu a percussão em faixas como "Maracatu Atômico", do tempo de Chico Science, e "Blunt of Judah". Após mais de uma hora de show intenso, o grupo saiu do palco, para voltar menos de dois minutos depois. Du Peixe avisou que seriam apenas duas músicas. O vocalista pareceu emocionado com a energia emanada pelo público com o coro nas já mais do que conhecidas "A Praiera" e "Manguetown", e resolveu comunicar os técnicos que teria que matar a sede de som dos londrinenses com mais uma canção. A apresentação terminou em clima de apoteose com "Quando a Maré Encher".
Alternativas ao rock e música pra dançar
No palco menor, a banda Fabulous Bandits, primeira da noite, veio com contrabaixo acústico, guitarra havaiana (um pequeno instrumento de seis cordas, apoiado no colo) e sem bateria. As batidas eram levadas no cajon. Em uma mistura de bluegrass e rockabilly, a banda londrinense comandou um show animado. No início, todos os instrumentos estavam "estourados" na caixa de som. O vocalista, entre um gole e outro de uísque Jack Daniels, conseguiu se fazer ouvir, mas o banjo, assumido lá pelo meio do show pelo violonista, passou quase despercebido. Algumas meninas dançaram passinhos country perto do palco, seguindo o violino destacado, que lembrava a música rural norte-americana. Para os mais roqueiros, teve cover de "Ace of Spades", do Motorhead.
No palco maior, o The Name mandou ver em um pós-punk com baixo alto, boa bateria e vocalista de voz grossa, talvez inspirado em Ian Curtis, do Joy Division. No som, o The Name também parece olhar para a banda inglesa em alguns momentos, com ares soturnos e efeitos eletrônicos. Em faixas como "Older", a semelhança se desfaz, com algo de rock dançante. O grupo seguinte, no palco menor, fez punk e hardcore com letras sem muita profundidade. A VI Geração da Família Palim do Norte da Turquia cantou músicas despretensiosas como "Eu Acho que Ela Gostaria" (cujo verso principal continua com "foder comigo") e "Acre: Que Porra É Essa".
A instrumental Pata de Elefante foi muito bem recebida pelo público, que cresceu à frente do palco principal durante o show do trio. Três músicos muito competentes (Gustavo Telles na bateria e Gabriel Guedes e Daniel Mossmann dividindo os trabalhos entre guitarra e baixo), comandaram um ótimo show de rock. A clara influência dos anos 70 e músicas que remetem a Jimi Hendrix fizeram a platéia pedir mais um. Os curitibanos do Subburbia, que num primeiro momento chamaram a atenção dos marmanjos de plantão pela dupla de garotas que comanda bateria e uma das guitarras, faz new rave, brit pop e electro rock mesclando vocais masculinos e femininos. Foi a abertura da parte dançante da noite.
No palco maior, a pista virou uma grande reunião de amigos - que não necessariamente se conheciam - ao som do Terra Celta. Com o trio de violino, acordeon e guitarra baiana, a banda liderada por um vocalista vestido de duende (com kilt, assim como guitarrista), o espaço virou um pub em dia de Saint Patrick. Também teve solo de gaita de fole, instrumento típico escocês. Platéia lotada pulando e levantando canecas imaginárias - ou latas de cerveja - ao som do refrão "todo bêbado amigo aqui é meu irmão".
Batuque Muamba Fub, única representante do reggae no festival, fez o público dançar sem elementos tecnológicos. Congas faziam parte de uma percussão afinada, que também ditou levadas de samba e samba rock.
As duas bandas seguintes carimbaram os ares de festa da última noite do Demo Sul 2008, e poderiam, com competência, fazer parte de qualquer line-up de festivais eletrônicos. A local Trilöbit transformou a área aberta do Grêmio em uma enorme pista de dança, com electro rock mais electro do que rock, bateria pesada e um baixista vestido de macaco. Sem vocais, o trio arrancou aplausos do público. A dupla Palangueto não teve a mesma sorte - o som mais eletrônico, com guitarra secundária e pitadas de dance music, não agradou muito a platéia "pé vermelho". Sincronizado e dançante, o duo tocou apenas para algumas dezenas de pessoas - o restante foi saindo aos poucos, em direção ao palco principal.