“Apesar de não ser um filme autobiográfico, ele tem muitos elementos autobiográficos”, afirma Marina
O lado cineasta de Marina Person, ex-apresentadora dos áureos tempos da MTV e do programa Metrópolis, da TV Cultura, deu um novo passo com seu primeiro longa de ficção, Califórnia, que entra em circuito nacional nesta quinta-feira, 3 de dezembro. O trabalho, coescrito e dirigido por ela, se desenrola em 1984, em São Paulo, e acompanha o despertar da adolescente Estela (Clara Gallo) em relação a amizades, gostos, verdades familiares e sexo – tudo ao som de David Bowie, Joy Division, New Order, Titãs, Paralamas do Sucesso, Caetano Veloso e vários outros.
“Apesar de não ser um filme autobiográfico, ele tem muitos elementos autobiográficos”, afirma Marina, que teve essa adolescência extremamente musical dos anos 1980. “Tanto a Estela quanto o JM [amigo gótico dela, vivido por Caio Horowicz] têm obsessões minhas: era fanática pelo Bowie, como a Estela, e louca pelo The Cure, como o JM. Mas é acima de tudo a ambientação da época”, argumenta.
A fidelidade sonora ao período não foi fácil. A diretora relembra tudo que passou para conseguir os direitos das faixas do The Cure “Killing an Arab” e “Caterpillar” para a trilha. “‘Killing...’ foi particularmente difícil, o Robert Smith não queria autorizar de jeito nenhum. Convenci pelo cansaço e contando que li O Estrangeiro, de Albert Camus, por causa da música.”
Para recriar o clima da cidade daquela década, Marina contou com a excelente direção de arte de Ana Mara Abreu para os detalhes de interiores e, para algumas das externas, com cenas extraídas de produções como Pixote, a Lei do Mais Fraco, de Hector Babenco, e Cidade Oculta, de Chico Botelho. Com essa referência imagética a dois clássicos do cinema brasileiro, Marina finalmente assume a herança cinematográfica do pai, Luís Sérgio Person (do seminal São Paulo Sociedade Anônima), e aponta para o futuro: “No ano que vem será lançado o Canção da Volta, meu primeiro filme como protagonista, ao lado de João Miguel e dirigido pelo Gustavo Rosa de Moura”, comemora.