Filme produzido em parceria pelos cineastas falará sobre o exílio de Caetano na Inglaterra; Marcelo Machado, de Ginga, fica a cargo da direção
Fernando Meirelles e a produtora Bossa Nova Films fecharam parceria com a Revolution Films, do cineasta britânico Michael Winterbottom (A Festa Nunca Termina), para produzir o documentário Tropicália.
A direção ficará a cargo de Marcelo Machado, que dirigiu Ginga, filme sobre a manha do futebol nacional que lá fora adicionou o predicado The Soul of Brazilian Football ao título. A produção da obra, de 2004, foi realizada pela O2, de Meirelles. Contudo, sem tradição em documentário, a produtora do cineasta fica de fora da novo filme.
O doc tratará do movimento cultural que tomou os anos 1960 e 1970, fortalecido por - e fortalecendo - nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Torquato Neto, Tom Zé e Gal Costa. De forte teor político e resistência cultural à ditadura, o tropicalismo influenciou gente de fora como David Byrne, líder do Talking Heads, Beck e Super Furry Animals.
A Rede Record, conhecida na época pelos grandes festivais que promovia (consagrou-se, então, com o slogan "Record, emissora dos musicais"), abastecerá a fita com vasto material de arquivo. Em 1968, Tom Zé poria o movimento em evidência após vencer uma das maratonas com a tropicalista "São São Paulo Meu Amor" (dividiu o prêmio com o "Bem-Vinda", de Chico Buarque). No ano anterior, Caetano e Gil já haviam causado incômodo aos tradicionalistas da MPB, que chiaram frente às influências do rock em "Alegria, Alegria" e "Domingo no Parque", respectivamente.
"A arte deles teve grande influência sobre mim quando era mais moço. Tudo era muito liberador", disse Meirelles ao site da revista Variety. O diretor é atualmente o cineasta brasileiro de mais prestígio lá fora, após o megasucesso de Cidade de Deus e com produções mundiais como O Jardineiro Fiel e Ensaio Sobre a Cegueira no currículo.
A Revolution Films entrará na parte inglesa do doc, que cobrirá o exílio de Caetano, fugido da ditadura, na Inglaterra. Ao site da Rolling Stone Brasil, o diretor, Machado, contou como rolou a parceria com os europeus. "Fernando conhecia o Michael (Winterbottom) e achamos que seria um parceiro bacana. Eles, em geral, não são uma empresa de base de produção, mas toparam entrar." O que isso signfica? Que, além do trabalho "braçal", o "input criativo de Michael" será mais do que bem vindo. "Vou ser o primeiro a me interessar pelas opiniões dele!", disse Machado.
O projeto, ainda em fase de captação, não sairá barato segundo cálculos do cineasta. "Envolve muito direito autoral, não tem jeito. Primeiro subimos a lona para só depois montar o circo." Segundo a Variety, 35% do orçamento de Tropicália vem do pólo cinematográfico de Paulínia; outros 15%, de órgãos municipais de São Paulo.