Veneza, filme de Miguel Falabella, relembra vida cheia de sonhos, viagem e amor de dias mais felizes [ENTREVISTA]
Com Carmen Maura, Dira Paes e Eduardo Moscovis, Veneza mescla fantasia e poesia com pautas necessárias
Vitória Campos (sob supervisão de Yolanda Reis)
Seja como fuga da realidade ou uma espera por momentos melhores, sonhar nunca se fez tão necessário quanto nos últimos tempos. Com sensibilidade e magia, Miguel Falabella consegue trazer um clima lúdico e poético ao novo filme, Veneza (2021), o qual dirigiu e roteirizou.
Estrelado por Carmen Maura, musa conhecida dos filmes de Pedro Almodóvar, Dira Paes, Eduardo Moscovis, Carol Castro e Danielle Winits, Veneza conta a história de Gringa, dona de um bordel, mulher cega e muito doente, mas com o sonho de viajar à Itália em busca de um antigo amor.
“O filme transportará o público para outro lugar e devolverá a magia, o lúdico e o sonhar que anda tão apagado e esmagado,” disse Carol Castro ao descrever Veneza. Em entrevista à Rolling Stone Brasil, ela, Dira Paes, Eduardo Moscovis e Danielle Winits comentaram as experiências de filmar e como o longa apresentou temas delicados, como prostituição e transfobia.
Sonhar é preciso

Impossível não notar a emoção dos atores ao falarem de Veneza. O filme, como muitos outros agora, atrasou devido à pandemia de Covid-19. O sentimento no ar era de luta, dificuldade – mas era claro como o ato de sonhar continuou firme em cada um.
A grande sonhadora do filme é Gringa, quem conta com o desejo de viajar à “cidade flutuante” mesmo sem possuir as condições financeiras e físicas. No entanto, é visível como os personagens também nutrem a esperança ao lado dela, mesmo com a realidade dura impedindo de se entregarem totalmente à fantasia.
Quanto mais o filme passa, mais o telespectador é convidado a viver a fantasia dos personagens. Chegando ao ápice, quando flutuamos nas águas de Veneza – e concretizamos um sonho de uma vida.
Para Winits, Veneza devolve às pessoas a ideia de lutar pelos sonhos. Independente das circunstâncias, para ela e Castro, o longa foi lançado na melhor época possível, um momento no qual a esperança perdeu espaço para o medo e tristeza.
Já Moscovis destaca como a grande virtude do filme é como o diretor Falabella “consegue trazer assuntos importantes à tona sem carregar bandeiras.” Como se cada indivíduo pegasse para si a parte mais tocante, mas sem deixar de englobar um universo de temas.
“É muito difícil viver sem um sonho,” completou Paes. Na visão dela, o filme mescla a narrativa poética com pautas atuais, como o machismo, intolerância, discriminação, empoderamento feminino e até mesmo transfobia, um dos temas abordados de maneira mais crua e chocante.
A realidade não é tão mágica
Veneza é baseado em uma peça homônima do argentino Jorge Accame, e teve quase todos os personagens inspirados na obra original, menos dois: Madalena (Carol Castro) e Júlio (Caio Manhente).

Com tanta fantasia na produção, seria fácil para o diretor perder a realidade, mas não aconteceu. A magia de pano de fundo não camufla pautas importantes e necessárias, que possuem o próprio espaço para uma séria discussão.
Madalena e Júlio foram criados por Falabella, e são responsáveis pelo arco mais pesado do filme, com questão atual e urgente: a transfobia.
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“A transfobia [no filme] é um tapa de realidade, é uma questão que precisa ser levantada,” comentou Castro. Na opinião da atriz, as cenas de preconceitos são o ponto alto do longa, e exalam poesia e amor, mesmo com muita dor.
Participação ilustre

Cada ator traz originalidade aos personagens, e todos acrescentam à sua maneira. No entanto, não há como não destacar a presença ilustre da atriz espanhola Carmen Maura.
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A artista foi musa dos filmes do diretor Pedro Almodóvar, e estrelou longas como Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), Que Fiz Eu Para Merecer Isto? (1984) e Volver (2006). Agora, brilha com a direção de Falabella, que fez questão de ter a participação da atriz.
Maura não conseguiu vir ao Brasil para gravar devido a problemas com a vacina de febre amarela. Mas não abriram mão dela – ao contrário – mudaram as filmagens para Montevidéu, no Uruguai, para incluir a estrela.
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Paes adorou contracenar com Maura, por quem sentiu muito carinho: “A presença dela em cena e no set, mesmo calada, tinha uma potência de energia de quem pertence a esse universo há muito tempo, ela é uma diva,” elogiou.
Distribuído pela Imagem Filmes e produzido pela Ananã Produções, Veneza estreou em 17 de junho nos cinemas do Brasil.
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