Grupo de Recife lança terceiro álbum de estúdio após período nebuloso em sua trajetória
Local isolado, silencioso e cercado pelo verde da natureza. Foi para Aldeia, região localizada na cidade de Camaragibe, que o Mombojó se deslocou com a intenção de elaborar uma prévia daquele que seria seu novo álbum, Amigo do Tempo, que acaba de chegar às lojas. Foi em clima de união, resgatado após os perrengues pelos quais a banda passou desde o lançamento de Homem-Espuma, de 2006 (que incluíram a morte do flautista Rafael Torres e a saída do multi-instrumentista Marcelo Campello), que a banda trabalhou no disco. Felipe S., Marcelo Machado, Chiquinho, Samuel e Vicente gravaram o álbum, terceiro da carreira, por conta própria, de forma independente, participando de todas as etapas de elaboração. Agora, mostrando-se mais experiente e reflexivo sobre a necessidade de deixar a vida rolar, o Mombojó volta à ativa fortalecido após quase quatro anos de hiato.
As gravações de Amigo do Tempo começaram em janeiro de 2009, com a ida do grupo ao sítio em Aldeia. A princípio, a intenção era "esboçar" o que seria o álbum, mas a banda percebeu que muito do que foi feito ali já poderia ser usado no disco. "Fomos pensando que seria uma pré-gravação, mas vimos com os técnicos, em São Paulo, que muita coisa dava para se aproveitar", conta o guitarrista Marcelo Machado, em entrevista à Rolling Stone Brasil. As gravações foram feitas em diversos estúdios em Recife e na capital paulista, oito no total, sendo que a finalização se deu em SP. Das 11 faixas que compõem Amigo do Tempo, cinco tiveram a produção de Pupillo, baterista da Nação Zumbi, enquanto seis foram produzidas pelo próprio Mombojó, junto aos técnicos Evaldo Luna e Rodrigo Sanches.
"Foi um aprendizado da porra. Acabamos fazendo o disco todo com dinheiro do nosso bolso", diz o tecladista Chiquinho. "E trabalhamos em tudo, desde a concepção da música até como gravar, finalizar, masterizar, capa, tudo." Ter retornado à produção independente colaborou para o grupo colocar em prática ideias novas. "Homem-Espuma [lançado pela gravadora Trama] foi gravado com uma estrutura foda de trabalhar e em um estúdio gigante, mas o tempo era curto, não tinha como fazer experimentações. Neste pudemos aprender muitas coisas, testar instrumentos", comenta. A banda afirma que a saída da Trama aconteceu sem nenhum tipo de conflito e que, apesar de Amigo do Tempo ter sido gravado de maneira independente, houve a utilização do estúdio da gravadora em alguns momentos.
A maioria das faixas foi composta em 2008, mas há músicas mais antigas, criadas antes da morte de Rafael, que aconteceu em 2007 (como "Entre a União e a Saudade", que abre o álbum). Em algumas delas, sente-se uma intensificação da melancolia que permeava algumas das faixas de discos anteriores. "Não fizemos querendo ser mais melancólico. Simplesmente soou assim, e isso é que é legal", diz Marcelo. As composições trazem uma reflexão positiva a respeito das esperanças com relação ao futuro. "Este disco vem como uma redenção", acredita o guitarrista. "Ele será nossa porta para ser banda de novo, depois de todas as dificuldades pelas quais passamos." Chiquinho complementa: "É um álbum que joga a gente para frente. Reflete muito a fase de vida pela qual passamos. Essa história de ter paciência e esperar dar tempo às coisas para arrumar a cabeça e aguardar para pensar na continuidade da nossa carreira."
Conhecidos pela mistura de gêneros musicais variados, indo do eletrônico à surf music, o Mombojó mostra um som mais simples - e talvez até mais pop - em Amigo do Tempo. "Acho que no segundo disco, por exemplo, chegamos ao auge de querer deixar as músicas muito complexas, com várias mudanças no decorrer delas", comenta Marcelo. "Neste, encontramos uma maturidade de curtir mais. Acredito que elas estão bem mais tranquilas para se ouvir também." Para Chiquinho, o grupo está mais comedido. "Estamos um pouco mais contidos, é um pouco mais fácil de dançar, assoviar e tocar no violão", comenta. A redução no número de integrantes (de sete para cinco) contribuiu bastante para tal mudança. "É uma formação que nunca tínhamos apresentado", sustenta Marcelo.
Semanas antes de lançar a versão física, o grupo liberou Amigo do Tempo para download gratuito no site oficial. "Sempre preferimos jogar ao lado do nosso público. Além disso, todo mundo do Mombojó é consumidor de música da internet", conta Marcelo. Para os integrantes, divulgar o disco antes na web é um benefício para o público e o próprio grupo. "A internet vai muito mais longe, e queremos que as pessoas escutem a nossa obra e que isso faça com que mais gente queira nos ver tocar nos shows", completa Chiquinho.
O Mombojó adianta que os fãs não precisarão aguardar mais quatro anos por outro álbum de inéditas, uma vez que a banda está "mais calejada e com mais amigos para ajudar no que for preciso". "Quem curte o grupo não pode viver de um disco a cada três, quatro anos", acredita Marcelo. Já existem planos para comemorar, em 2011, os dez anos de existência da banda, mas ainda não há nada concreto. Por enquanto, o público fica com um álbum novinho e shows pela frente. "Nunca seremos uma banda famosa por vender milhares de discos, e nem é o nosso objetivo", diz Chiquinho. "O que queremos é estar cada vez mais consolidados."