Cantora de folk, ícone da resistência às ditaduras militares na América Latina, tinha 74 anos
A cantora argentina Mercedes Sosa, uma das vozes mais respeitadas da música latino-americana e símbolo de resistência às ditaduras que assolaram o continente a partir dos anos 60, morreu no domingo, 4, em Buenos Aires. Ela tinha 74 anos.
Seu mais recente álbum, Cantora, ganhou três indicações, inclusive álbum do ano, na edição latina do Grammy, que acontecerá no mês que vem, em Las Vegas. Caetano Veloso, Shakira, Jorge Drexler e Julieta Venegas são algumas das participações.
Figura máxima do folk argentino, Sosa ficou conhecida por hinos como "Gracias a la Vida" e "Si se Calla el Cantor". Com o primeiro marido, Manuel Oscar Matus, gravou seu disco de estreia, Canciones con Fundamento, em 1965.
A carreira musical correu paralela ao ativismo sócio-político: expoente da Nueva Canción, movimento latino-americano que ganhou força nos anos 60 e que contou com artistas como o conterrâneo Victor Heredia e os chilenos Victor Jara (assassinado em 1973, após instalação da ditadura de Augusto Pinochet) e Violeta Parra, ela virou persona non grata para a junta militar de seu país. Um dos trabalhos mais marcantes dessa fase é o álbum Hasta la Victoria, de 1972.
Em 1979, durante concerto na cidade universitária La Plata, Sosa foi presa, assim como cerca de 200 estudantes presentes no local. "Estava cantando para universitários no último ano do curso de veterinária. Não era político", disse Sosa à agência de notícias Associated Press, em 2007.
Seguiu-se à detenção aperto do cerco militar contra a cantora. Proibida de gravar, ela partiu para exílio (Madri e Paris) e só retornou ao país natal em 1982, às vésperas do colapso da ditadura. Mais tarde, ela perpetuou sua luta por direitos humanos como embaixadora da Unicef.
Durante os anos 90, Sosa foi uma feroz crítica do governo de Carlos Menem. O casal Kirchner (do ex e da atual presidente da Argentina, Nestor e Cristina), em compensação, recebeu apoio da cantora.
Ao longo da carreira, "a voz da maioria silenciosa", como era conhecida, colaborou com Luciano Pavarotti, Sting e Joan Baez, entre outros. A popularidade no Brasil foi dilatada em 1976, quando gravou a faixa "Volver a los 17", para o álbum de Milton Nascimento Geraes. Ela também tem parceria com outros nomes da MPB, como Caetano Veloso, Chico Buarque e Gal Costa (confira vídeo abaixo).
Sosa estava internada há mais de duas semanas, devido a problemas renais. Sua morte causou comoção entre as autoridades internacionais - vários governos, inclusive o brasileiro, enviaram mensagens de condolências. O corpo foi velado no salão Passos Perdidos, no Congresso Nacional argentino. A cremação ocorrerá nesta segunda, 5, no cemitério de Chacarita.
Em estado de luto decretado pela mandatária Kirchner, Buenos Aires suspendeu uma série de atividades artísticas no domingo - inclusive as comemorações para a declaração do tango, na semana passada, como patrimônio cultural imaterial da humanidade, pela Unesco, braço cultural da ONU.
Assista, abaixo, à apresentação de Sosa com ícones da MPB: