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Morre Suze Rotolo, ex-namorada e musa de Bob Dylan

Suze namorou o músico nos anos 60 e inspirou canções como "Boots of Spanish Leather", "Don't Think Twice, It's All Right" e "Tomorrow Is a Long Time"

Por Andy Greene Publicado em 28/02/2011, às 14h31

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Bob Dylan e sua musa Suze Rotolo na capa de <i>The Freehweelin' Bob Dylan</i>, de 1963 - Reprodução
Bob Dylan e sua musa Suze Rotolo na capa de <i>The Freehweelin' Bob Dylan</i>, de 1963 - Reprodução

Suze Rotolo, namorada de Bob Dylan nos anos 60, que aparece de braços dados com o músico na icônica capa do álbum The Freewheelin' Bob Dylan (1963), morreu no dia 24 de fevereiro após um longo período doente. A informação foi divulgada neste domingo, 27, pelo site da Rolling Stone EUA. Rotolo foi a musa inspiradora de diversas canções de amor compostas por Dylan, entre elas "Don't Think Twice, It's All Right", "Boots of Spanish Leather" e "Tomorrow Is a Long Time". Ela tinha apenas 17 anos quando eles começaram a namorar, em 1961.

Em Crônicas Volume Um, livro de memórias de Dylan, ele conta que conheceu Suze no backstage de um show em Nova York. "Desde o começo eu não conseguia tirar meus olhos dela", escreveu. "Ela era a coisa mais erótica que já tinha visto. Tinha a pele clara e cabelos dourados, puro sangue italiano. Começamos a conversar e minha cabeça começou a girar. A flecha do cupido tinha assobiado nos meus ouvidos antes, mas desta vez ela acertou meu coração e seu peso me arrastou para fora do barco."

Já no começo de 1962, Dylan e Suze Rotolo começaram a morar juntos em um pequeno apartamento. Suze vinha de uma família nova-iorquina de esquerda e teve um papel importantíssimo no despertar político de Dylan. Quando eles começaram a namorar, ele era bastante apolítico e seu repertório consistia, em sua maior parte, em músicas folk antigas. Ela o levou aos encontros do CORE (The Congress of Racial Equality - em português, Congresso da Igualdade Racial) e o ensinou muita coisa sobre o movimento dos direitos civis. "Muito do que dei a ele foi o olhar de como a outra metade vivia - coisas da esquerda que ele não sabia", disse ela em entrevista ao escritor David Hajdu, no livro Positively 4th Street. "Ele sabia sobre Woody [Guthrie] e Pete Seeger, mas eu estava trabalhando para o CORE e me envolvi nas marchas da juventude pelos direitos civis, e tudo aquilo era novo para ele."

Suze contou a Dylan sobre o brutal assassinato do menino afro-americano Emmett Till em 1955, inspirando-o a compor seu clássico de protesto "The Death of Emmett Till". "Acho que foi a melhor coisa que já escrevi", disse ele na época. "Quantas noites fiquei acordado compondo canções e as mostrando a Suze e perguntando 'Isto está certo?', porque sabia que a mãe dela era associada com os grupos, e ela estava envolvida com essa coisa de liberdades iguais muito tempo antes de mim. Eu checava as músicas com ela. E ela gostava de todas."

No verão de 1962, ela resolveu fazer uma longa viagem para a Itália, deixando Dylan em Nova York, sozinho e com o coração partido. Durante esse período ele compôs "Don't Think Twice, It's All Right", "Boots of Spanish Leather" e "Tomorrow Is A Long Time" - canções de amor sobre Suze. Ela retornou em janeiro de 1963 e semanas depois a gravadora Columbia enviou o fotógrafo Don Hunstein para fazer a capa de The Freehweelin' Bob Dylan. O jovem casal andou pelas ruas de Nova York por alguns minutos enquanto Hunstein fazia as imagens. "Bob enfiou suas mãos no bolso da calça jeans e se inclinou sobre mim", escreveu ela em seu livro A Freewheelin' Time: A Memoir of Greenwich Village in the Sixties, de 2009. "Em algumas imagens fica claro que estávamos congelando; certamente Bob estava, com aquele casaco fino."

A fama crescente de Dylan acabou atrapalhando o relacionamento dos dois, e ela se mudou para o apartamento de sua irmã em agosto de 1963. "Eu não podia mais lidar com toda a pressão, com as fofocas, verdades e mentiras", ela escreveu. "Eu era incapaz de encontrar um chão firme - estava em areia movediça e muito vulnerável." No final do mesmo ano, ela já não conseguia mais ignorar os boatos de que a relação de Joan Baez e Dylan ia além do lado profissional. Eles terminaram o namoro, permanecendo amigos por um curto período. Durante sua viagem à Itália em 1962, ela havia conhecido o editor de cinema Enzo Bartoccioli. Eles se casaram em 1970 e tiveram um filho chamado Luca. Ela viveu em Nova York sua vida inteira e trabalhou como professora, pintora e ilustradora de livros.

Durante anos Suze se recusou falar de Dylan em entrevistas, mas concordou em ser entrevistada no documentário No Direction Home, dirigido por Martin Scorsese. Em 2009 escreveu sua já citada biografia. Suze Rotolo morreu aos 67 anos.