Mulamba fala sobre a necessidade do ativismo musical e prepara show de lançamento do álbum

“A música, por ser um movimento por si, possui direções que transbordam qualquer delimitação”, diz Fernanda Koppe, violoncelista da banda

Igor

Mulamba (Foto:Luciana Petrelli)
Mulamba (Foto:Luciana Petrelli)

A banda Mulamba chamou a atenção do público lá em 2016, com a faixa P.U.T.A., música que carrega um instrumental que habita entre o erudito e a MPB, além de toda a sinceridade poética da letra com a qual as ideias são transmitidas na música. 

A força do sexteto curitibano, formado por Amanda Pacífico (voz), Cacau de Sá (voz), Caro Pisco (bateria), Érica Silva (baixo, guitarra e violão), Fer Koppe (violoncelo) e Naíra Debértolis (guitarra, baixo e violão), não se limitou a apenas um single. Elas lançaram em novembro o álbum homônimo de estreia, colocando em nove faixas verdades sobre o estado atual da sociedade, que precisam ser ditas, ouvidas e, neste caso, cantadas em alto e bom som.

Desde seu nascimento, em dezembro de 2015, a banda já fez parte do line up de grandes festivais nacionais como o Psicodália, Soma Sonora, SIM São Paulo e Festival Vento. Além do vídeo da música P.U.T.A. (que já chega a quase 3 milhões de visualizações), elas também lançaram, em outubro deste ano, o clipe de “Desses Nadas”, faixa que conta com a participação de Lio Soares, integrante do trio Tuyo.

A Mulamba vai comemorar a estreia do disco fazendo um show especial no Espaço Fantástico das Artes, em Curitiba, no próximo dia 10. Em 2019 elas vêm para São Paulo, e tocam no Sesc Pompéia dia 18 de janeiro. 

Leia abaixo nossa entrevista com a violoncelista Fernanda Koppe, que falou sobre a necessidade do ativismo musical, progresso social e as carências do cenário atual.

Qual é a sensação de ganhar destaque com um tapa na cara como a música P.U.T.A?  
Um tabefe simbólico através de uma música para lembrar a sociedade que todos dias um tapa real é dado na cara de muitas manas, que se repete pelo menos 15 vezes ao dia e muitas vezes acaba em feminicídio.
Estupros acontecem todos os dias, em todos os lugares e se é algo tão chocante ao ser falado, imagina ao ser vivido.
Que esse tapa na cara sirva de alerta e desperte mais diálogo sobre a cultura do estupro que na maioria das vezes vira “só” mais um caso.

O que está faltando no cenário musical atual?  
Atenção, valorização e reconhecimento aos projetos e talentos que estão circulando e fazendo sua arte maravilhosamente bem e muitas vezes fora das grandes mídias de maneira totalmente independente.

Todas as áreas da cultura têm sofrido rupturas, reformas e renovações. Qual é o papel da música em meio a esse turbilhão de mudanças?  
A arte como um todo pode ser usada como um meio de desalienação, de desconstrução e informação, ou não, depende da intenção de quem a propõe.  Ela é capaz de romper, reformar e renovar e se torna um argumento muito forte quando usada pra comunicar algo.

Como a música pode contribuir para um movimento em direção ao progresso?  
Costumamos pensar sempre no futuro sendo que o progresso de uns pode ser o regresso de outros, é construir impérios para se marginalizar pessoas e formas de vida. A música, por ser um movimento por si, possui direções que transbordam qualquer delimitação. 

E como o som da Mulamba pode contribuir para isso?  
O som transborda, o som é intangível e viaja longe, ele é democrático. Mulamba traz vivências, não só nossas como pessoas físicas mas também das pessoas que nos cercam, nos envolvem, compartilham conosco suas histórias e talvez seja essa uma das nossas possíveis contribuições, continuar atentas ao presente, ao nosso redor,  fazendo aquilo que acreditamos e dizendo sobre aquilo que nos toca. 
Somos só mais uma de tantas bandas, entre tantas outras formas de manifestação de arte discutindo, divagando sobre as mesmas questões, cada um a sua maneira.

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