SEAN COMBS

Mulher relembra suposta ameaça de Diddy: ‘Eu sou o diabo e poderia matar você’

Bryana ‘Bana’ Bongolan processou Combs em US$ 10 milhões (R$ 56,1 milhões na cotação atual) por supostamente pendurá-la na varanda

Nancy Dillon e Cheyenne Roundtree

Sean "Diddy" Combs (Foto: Paras Griffin/Getty Images)
Sean "Diddy" Combs (Foto: Paras Griffin/Getty Images)

Uma mulher que alega que Sean “Diddy” Combs a pendurou pela sacada do 17º andar do apartamento de Casandra “Cassie” Ventura depôs na última quarta, 4, e contou aos jurados que Combs também a ameaçou uma vez em uma praia, declarando: “Eu sou o diabo, e poderia te matar”. As informações são da Rolling Stone.

Em um depoimento perturbador, Bryana “Bana” Bongolan relembrou a noite de setembro de 2016, quando Sean Combs supostamente a encurralou na sacada do apartamento de Ventura, em Los Angeles, a ergueu e a “segurou” sobre a borda, enquanto ela temia pela própria vida. Ela disse que Combs estava furioso, gritando: “Você sabe que porra você fez?”. Enquanto lutava desesperadamente para se segurar e não cair para a morte, ela disse que respondeu a Combs que não fazia ideia do que ele estava falando. Após cerca de 15 segundos, Combs finalmente cedeu e a “jogou” em cima de alguns móveis, segundo seu testemunho. Ela afirmou que a agressão lhe causou hematomas, dores nas costas e no pescoço, além de profundo sofrimento emocional.

“Tenho terrores noturnos, paranoia e grito enquanto durmo”, disse ela aos jurados, no julgamento de tráfico sexual e extorsão contra o magnata, em Nova York.

Aparentando nervosismo, Bongolan falou suavemente e de forma hesitante. Ela contou que conheceu Ventura enquanto trabalhava na marca de streetwear Diamond Supply Co., por volta de 2015. A designer de moda e consultora criativa disse que “não gostava muito” do que via no relacionamento da nova amiga com Combs. Ela relatou que Ventura parecia angustiada enquanto falava com Combs ao telefone.

Ela disse que, uma vez, Ventura ligou para ela por FaceTime enquanto se preparava para a estreia de seu filme The Perfect Match, em março de 2016. Isso foi poucos dias após Combs supostamente ter dado um soco no rosto de Ventura no Hotel InterContinental e depois chutá-la e arrastá-la pelo corredor do hotel, em uma agressão registrada por câmeras de segurança. Bongolan contou que Ventura moveu a câmera de um lado para o outro, mostrando claramente um olho roxo.

“Lembro de ter dito: ‘Sinto muito’”, relembrou Bongolan. Ventura revelou a lesão silenciosamente, aparentemente resignada, segundo ela.

Bongolan também relembrou outra noite, quando estava hospedada no apartamento de Ventura, e Combs supostamente começou a bater na porta. Ela disse ter visto Combs atirar uma faca em Ventura, que jogou a faca de volta. Bongolan afirmou que ninguém foi atingido pela faca e que não chamou a polícia. “Eu tinha medo do Puff”, declarou.

Bongolan ainda relatou a ameaça sinistra que Combs supostamente fez a poucos centímetros de seu rosto, na praia de Malibu, em abril de 2016. Ela disse aos jurados que não fazia ideia do que motivou Combs a se autodenominar “o diabo” e ameaçá-la.

Antes do início de seu depoimento, Bongolan invocou seu direito da Quinta Emenda contra a autoincriminação, levando o juiz federal Arun Subramanian a assinar uma ordem de imunidade. Não ficou imediatamente claro por que ela poderia precisar dessa proteção, mas Bongolan posteriormente testemunhou que frequentemente usava drogas com Ventura, fornecendo a ela pílulas prescritas, cocaína e cetamina.

Durante o contra-interrogatório, Bongolan concordou que ela e Ventura compartilhavam um sério “problema com drogas” no auge da amizade, frequentemente consumindo maconha, cocaína e cetamina juntas. Ela lembrou de uma ocasião em que conseguiu “centenas” de pílulas para Ventura, dizendo que a quantidade a assustou.

A advogada de defesa de Combs, Nicole Westmoreland, tentou enfraquecer a credibilidade do depoimento de Bongolan. Ela alegou que o advogado inicial de Bongolan enviou uma carta de demanda a Combs afirmando que o magnata teria dito “eu poderia te matar” durante o suposto ataque na sacada, e não na praia. Bongolan respondeu que os dois incidentes eram distintos, então a carta não refletia seu relato. Ela disse que trocou de advogado após isso.

Westmoreland também sugeriu que Bongolan não mencionou a frase “eu poderia te matar” durante sua primeira reunião com os promotores. Bongolan disse que não se lembrava do que contou aos investigadores. Pressionada sobre detalhes específicos do suposto incidente na sacada, Bongolan repetiu várias vezes: “Não me lembro”.

Bongolan reiteradamente afirmou que não se lembrava ou não sabia detalhes sobre outros eventos mencionados por Westmoreland. No final da audiência de quarta-feira, uma Westmoreland aparentemente exasperada pediu à designer de moda que tentasse recordar o que poderia ter dito aos promotores em uma entrevista realizada apenas dois dias antes. Bongolan disse que não conseguia se lembrar.

Bongolan foi uma das amigas próximas de Ventura enquanto a atriz e cantora de R&B namorava Combs, na segunda metade do turbulento relacionamento do casal. Em um processo de US$ 10 milhões movido em novembro de 2024, Bongolan afirmou que o “ultrajante” incidente na sacada a deixou profundamente traumatizada.

“O único propósito de pendurar alguém sobre uma sacada é realmente matá-la ou intencionalmente aterrorizá-la e privá-la de qualquer conceito de domínio sobre sua própria autonomia corporal e segurança”, dizia a queixa apresentada em Los Angeles.

No processo de 17 páginas, obtido pela Rolling Stone, Bongolan relatou que ela e sua namorada estavam dormindo no apartamento de Ventura em 26 de setembro de 2016, quando Combs apareceu de surpresa e começou a causar tumulto. Bongolan disse que pediu à namorada que se escondesse no banheiro de hóspedes e trancasse a porta.

Assim que viu Bongolan, Combs supostamente a agarrou na sacada, virou-a de costas para o peito dele e apalpou seus seios enquanto ela gritava para que ele a deixasse em paz, segundo o processo. Bongolan afirmou que Combs a ergueu sobre o parapeito da sacada enquanto gritava incoerentemente. Medindo pouco mais de 1,50 metro de altura, Bongolan disse que não tinha como resistir ao magnata da música.

“Ele imediatamente a levantou mais alto e sobre a sacada do 17º andar do apartamento da Sra. Ventura, sendo apenas o aperto de Combs que a impediu de cair para a morte”, dizia o processo. Bongolan contou que Ventura eventualmente saiu do quarto e gritou para Combs parar, informando que a namorada de Bongolan também estava no apartamento.

“Reconhecendo, aparentemente, a ameaça de tantas testemunhas para sua agressão, [Combs] puxou a Sra. Bongolan de volta para dentro”, dizia a queixa. Nesse momento, Combs supostamente “arremessou” Bongolan sobre os móveis do pátio, incluindo uma mesa.

Sr. Combs nega firmemente essas graves acusações e continua confiante de que elas serão, em última análise, consideradas infundadas”, disse, na época, um representante legal de Combs.

O suposto incidente na sacada foi inicialmente revelado na bombástica ação de tráfico sexual movida por Ventura contra Combs, em novembro de 2023. Bongolan não foi identificada nominalmente na queixa, e Ventura chegou a um acordo privado com Combs no dia seguinte.

Bongolan também foi mencionada, embora não pelo nome, na acusação adicional contra Combs, bem como na declaração de abertura dos promotores. Os promotores alegam que Combs usou violência e ameaças de violência como forma de promover e proteger a suposta organização criminosa no centro da acusação de extorsão.

Bongolan testemunhou na quarta-feira que Combs fez uma chamada de vídeo para ela um ou dois dias após o incidente na sacada, mas foi evasivo. Ela disse que não relatou o episódio à polícia porque estava com medo. “Eu disse a ele que não queria problemas”, relatou.

Ela disse que a última vez que viu Combs foi em janeiro de 2018. Lembrou-se de visitar a cobertura dele no One Hotel, em Miami, com Ventura, para uma celebração de Ano Novo, e de ter usado cetamina com o casal por oito horas. Após essa experiência, ela decidiu ficar sóbria e fez uma tatuagem para marcar a data.

Bongolan contou que seu contato com Ventura ficou “esporádico” depois disso, mas que continuaram amigas. Ela disse que o produtor musical Rob Holladay ligou para ela da residência de Combs, em 2024, após a ação de Ventura ter sido ajuizada, e afirmou que estava autorizado a discutir um acordo. A questão não foi resolvida, e ela acabou entrando com sua própria ação judicial. Disse aos jurados que apresentou o processo “para buscar justiça pelo que me aconteceu”.

Na manhã de quarta-feira, um perito forense em vídeo também declarou aos jurados que o infame vídeo das câmeras de segurança do hotel, mostrando Combs arremessando Ventura ao chão e depois chutando e arrastando-a pelo corredor do Hotel InterContinental, em 2016, não foi adulterado manualmente. O especialista Frank Piazza afirmou que o material de vídeo que recebeu dos promotores representava fielmente o que ocorreu naquele dia. Ele disse que um processo automatizado de conversão acelerou levemente algumas partes da ação, mas ele conseguiu corrigir isso. Informou também que o sistema de vigilância ativado por movimento no hotel causou alguma pixelização e problemas no registro de data e hora.

A compilação do vídeo também mostrou, pela primeira vez, o final do episódio. Nas novas imagens, Combs, ainda enrolado em uma toalha, é visto saindo da suíte do hotel, aparentemente verificando se Ventura ainda estava perto dos elevadores. Ele então se vira e imediatamente faz uma ligação telefônica.

Os promotores também divulgaram uma série de mensagens extraídas do telefone de Combs, mostrando comunicações com o segurança D-Roc em setembro de 2015. A troca de mensagens parece mostrar Combs enviando D-Roc para monitorar Ventura. “É hora do gelo”, escreveu Combs em uma delas. “Fique em cima da Cassie. O olho dela já está melhor?… Por que ela não está escondida?”

Em um depoimento relacionado, na terça, 3, o segurança do hotel Eddy Garcia contou aos jurados que Combs e sua chefe de gabinete, Kristina Khorram, o pressionaram fortemente para apagar o vídeo do sistema do hotel e entregar a única cópia, armazenada em um pen drive. Garcia disse que Combs pagou US$ 100 mil em dinheiro e o fez assinar um acordo de confidencialidade com uma multa de US$ 1 milhão em caso de violação.

Combs, de 55 anos, foi preso em setembro e se declarou inocente das acusações de conspiração para extorsão, tráfico sexual de duas mulheres e transporte para fins de prostituição. As autoridades alegam que ele pagou dezenas de acompanhantes masculinos para manter relações sexuais forçadas com suas supostas vítimas. Se for condenado por todas as acusações, Combs poderá passar o resto da vida na prisão.

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