Música e clipe politicamente carregados adiantam disco, que, segundo o vocalista Matt Bellamy, será o “melhor álbum” da banda
O Muse não está nem perto de terminar as gravações do próximo disco, o oitavo da banda, mas eles deram uma prévia do que os fãs podem esperar, lançando o clipe do novo single “Thought Contagion”. A música é, como de costume recentemente entre as composições do grupo, politicamente carregada, e, depois de “Dig Down”, é o segundo single do próximo álbum ainda sem nome.
É uma grande mudança para a banda lançar singles dessa forma, uma vez que eles costumavam segurar todas as faixas até que o álbum inteiro fosse disponibilizado. Mas perto de completarem um quarto de século de carreira, o trio está mudando um pouco o processo que adotava anteriormente. “É legal ter essa rápida reviravolta, em vez de esperar pelo disco inteiro para lançar qualquer material”, conta o vocalista Matt Bellamy em entrevista à Rolling Stone EUA. “O álbum vai ser bem diverso, as músicas serão bem diferentes entre si. Estamos interessados também em fazer um pouco de mistura de gêneros e mistura de eras.”
Antes do lançamento do novo single, “Thought Contagion”, Bellamy contou sobre frustrações na era-Trump, ser atração principal do festival Bonnaroo na véspera do aniversário e porque ele acha que o próximo álbum do Muse será o mais forte.
Qual é a história por trás de “Thought Contagion”?
É uma faixa bem recente, acho que escrevi a letra no fim do ano passado. Criei a linha de baixo e, inicialmente, usei um teremim para fazer a melodia que seguiria por cima. Só quando começamos a gravar a música, em novembro, que tive a ideia de que a melodia do teremim ficaria legal como um vocal com pegada de hino, então o Chris [baixista da banda] e eu gravamos essa parte umas dez vezes para criar o efeito de multidão no vocal. Originalmente, a sonoridade do verso era muito mais pesada do que é agora. Mas quisemos experimentar com a bateria eletrônica, e puxar o som para o trap, o que acabou levando a música para um caminho diferente.
Qual foi a inspiração para a letra? Versos como “É tarde demais para uma revolução/ Se preparem para a solução final” chamaram minha atenção.
Provavelmente assistir a canais de notícias norte-americanos. Vivemos em uma época em que essas ideologias e sistemas de crença, independente se falsos ou verdadeiros, estão sendo bastante exibidos na TV, especialmente os que se encaixam no lado das mentiras. Acho que estamos vivendo em uma época em que ideias malucas estão ganhando muito tempo de transmissão, além de ser uma época em que apontar os erros de alguém, pela ciência por exemplo, está se tornando cada vez mais difícil. Às vezes é até considerado algo insensível de se fazer.
No verso, eu libero minhas ansiedades e sentimentos que, ao longo da música, acabo me questionando se são realmente meus ou não. Não sei até que ponto sou influenciado pelos outros. As ansiedade em relação ao mundo e ao futuro, por várias vezes, podem ser amenizadas apenas por desligar a televisão e o celular por alguns dias. Aí você percebe que está tudo bem.
O verso-chave da música é “Você foi mordido por alguém que realmente tem fé/ Você foi mordido por alguém que está mais faminto que você/ Você foi mordido pelas falsas crenças de alguém”. Isso resume aonde eu quero chegar, no sentido de que, diversas vezes na vida, a gente se depara com situações em que alguém com ideologias e crenças que não são nem um pouco verdadeiras terá mais poder que você, terá poder sobre você e mais espaço na TV que você. A música é sobre isso. Sobre como falsas ideologias podem acabar infectando a gente e até nossos sentimentos.
“Thought Contagion” e “Dig Down” estarão no próximo álbum ou são apenas singles soltos?
Todas a músicas que estamos lançando estarão no próximo disco. Estamos mais ou menos na metade do processo. Vamos lançar no meio desse ano ou no começo do próximo, mas queremos divulgar mais dois singles antes disso.
É uma abordagem bem diferente da que vocês costumavam fazer. Por que a mudança?
Sim. Para nós é renovador trabalhar em uma música por vez. Estamos escrevendo, gravando, mixando e até fazendo o clipe de cada uma das músicas antes de ir para a próxima. É bom para nós não precisar fazer 12 músicas ao mesmo tempo e estar toda hora pensando no álbum como um todo.
Acho que nos últimos dois ou três álbuns, trabalhamos pensando no todo. “Qual o conceito? Quais os temas? Qual a sonoridade? Em quais texturas vamos focar no disco?”. Foi bom a gente voltar a pensar em uma música por vez. Cada faixa que você ouvir ao longo do próximo ano será totalmente única em sua sonoridade, abordagem, texturas e por aí vai.
Vocês vão tocar em vários festivais nos próximos meses. Vocês vão preencher o calendário com apresentações regulares?
Esse ano vamos fazer apenas uns quatro ou cinco shows, para conseguir realmente usar as energias no estúdio. É basicamente um ano para fazer música nova, e fazer esses shows vai ajudar a nos manter ativos, não nos deixando esquecer o que é uma apresentação ao vivo.
Ano que vem, quando o álbum já estiver disponível, faremos nossa própria turnê mundial, ou algo do tipo.
Quem está produzindo o álbum?
Vai ser uma mistura. Fizemos “Dig Down” com Mike Elizondo e “Thought Contagion” com Rich Costey. Acho que vamos fazer ainda algumas outras faixas com esses dois, mas também procurar outros produtores para o material que ainda será feito.
Vocês estão animados para o Bonnaroo?
Totalmente. É um dia antes do meu aniversário, então vou comemorar no palco.
Alguns fãs podem ver essa abordagem de lançar singles como um não comprometimento com a ideia de álbum, como era de costume para vocês.
Esse não é o caso. É só uma abordagem diferente. Se alguma coisa vai mudar, é que teremos um disco em que todas as músicas serão melhores. Ainda não decidimos se o álbum vai ter um conceito, mas acho que já fizemos dois ou três seguidos com conceito. Acho que vai ser o nosso melhor álbum, em termos de qualidade de cada uma das músicas.
Assista abaixo ao clipe do novo single "Thought Contagion".