Baterista e vocalista apresenta o quarto e mais “experimental” álbum da carreira no Sesc Pompeia, em São Paulo
A longa espera entre os lançamentos de discos de Curumin não é exatamente uma novidade. Da estreia dele, com o aclamado Achados e Perdidos (2003), até o último mês de maio, quando lançou Boca (2017), o baterista e vocalista publicou um total de quatro álbuns de estúdio, sendo que o intervalo mais curto entre um e outro foi de quatro anos, de Japan Pop Show (2008) para Arrocha (2012).
“Não fico escrevendo, fazendo música o tempo todo”, confessa o artista, cujo nome de batismo é Luciano Nakata Albuquerque, que apresenta o novo trabalho com dois shows no Sesc Pompeia, em São Paulo (na quinta, 29, e sexta, 30). “Tenho que ligar um ‘modo’ de composição. Até quero mudar isso porque, quando acabo um disco, eu fico: ‘Vou dar um tempo, mudar o foco’, e acabo abandonando as composições.”
Boca, contudo, começou a ser preparado já há algum tempo, em 2015. “Nosso plano era fazer três músicas só, com o intuito de gravar um compacto”, conta Curumin, referindo-se às faixas “Bora Passear”, “Terrível” e “Boca Cheia”. Segundo ele, a ideia era apenas “dar uma aquecida” no público, sedento por novas faixas desde 2012, mas as sessões acabaram se estendendo por todo o ano de 2016 e gerando Boca, realizado pela Natura Musical.
O LP foi feito a partir da cozinha: baixo e bateria. “Conforme eu ia tendo umas ideias de melodia, eu passava tudo para a linha de baixo”, explica o baterista. “O que seria a melodia principal – tipo a de voz –, acabou virando uma melodia de baixo, aí já fomos gravando. Eu cantarolava [a melodia], fazia um beat ali na hora mesmo, com a boca, e pintava as ideias. Já levei para o pessoal assim: ‘Ó, esse é o baixo e essa é a bateria.”
A “cama” criada por Curumin serviu como base para a inserção – e posterior retirada parcial – de teclados, guitarras, programações e outras melodias, em sessões com os músicos Lucas Martins e Zé Nigro, que participam de todo o álbum. Recheado de samples, batidas eletrônicas e construções incomuns, Boca chegou como o trabalho mais experimental do baterista, que é conhecido pela habilidade rítmica e pelos ganchos cativantes.
“Nos últimos anos, eu fiquei acompanhando muito o que estava acontecendo de novo na música brasileira”, comenta Curumin, citando nomes como Ava Rocha, Negro Leo, Karina Buhr e O Terno, entre outros. “Esses artistas foram mostrando um pouco que estamos num lugar onde não é preciso ser pop – no sentido de ser tão palatável. Podemos também ousar, ser experimental, e é isso que as pessoas esperam. Ouvindo eles, eu tive essa sensação: tenho que experimentar mesmo, ser provocativo.”
Não são só as esquisitices, porém, que dão as caras em Boca. O samba tradicional “Paçoca” – com participações de Iara Rennó e Anelis Assumpção, entre outros – e a grooveada “Terrível” – esta com Russo Passapusso, vocalista do BaianaSystem – são pérolas pop, enquanto “Tramela” – com Rico Dalassam – é puxada para o lado agressivo do hip-hop contemporâneo e “Boca Cheia” – com a espanhola Indee Styla – se aproxima do R&B e do soul.
Boca, cujo nome foi dada por Ava Rocha, é um pouco como a carreira de Curumin: incomum, ousado e sempre inclinado ao balanço e à música negra. Se Achados e Perdidos acenava sem receio a Jorge Ben e Arrocha remetia ao funk carioca, o novo LP é o Curumin mais amalucado. Nenhum disco do baterista, entretanto, soa como o anterior. “Pode ser essa coisa de me acomodar e acabar dando um tempo antes de criar – quando você volta, volta diferente”, ele tenta analisar. “Mas eu realmente não sei. Nunca fiz de outro jeito.”
Curumin no Sesc Pompeia
29 e 30 de junho (sexta e sábado), às 21h30
Sesc Pompeia | Rua Clélia, 99 – Pompeia
Ingressos: R$ 20 (há opções de meia-entrada)
Participações de Anelis Assumpção, Rico Dalasam, Max B.O., Saulo Duarte e Ava Rocha