Cantor, que se apresentou em São Paulo no último sábado, 29, confirmou que pretende escrever novo disco para 2018
Paolo Nutini entra na sala de entrevista no melhor estilo britânico, discreto, olhando para baixo e sem muita expressão. Mas, em instantes, começa a cumprimentar pessoas com dois beijos no rosto no melhor estilo mafioso italiano. E essa é a melhor definição do escocês de 30 anos – que já tem uma legião de fãs pelo mundo, e trouxe seu show ao Audio, em São Paulo, pela primeira vez no último sábado, 29 –, um dos britânicos mais apaixonados que você vai conhecer.
Essa disparidade de nacionalidades de Paolo (sua família é italiana mas ele sempre viveu na Escócia) fica muito evidente no show. No palco ele assume uma personalidade de rock star, no melhor estilo Joe Cocker: grita, ajoelha, gesticula, sofre com as duras canções sobre corações perdidos. A plateia percebe, responde à altura, o que transforma a apresentação em uma grande experiência sensitiva, e com certeza um marco em sua carreira. “Eu ouvi sobre a energia dos brasileiros nos shows”, conta.
Quando questionado sobre o que ele está achando de São Paulo, Nutini sorri e fala por dez minutos ininterruptos. O cantor foi para o Beco do Batman e ficou apaixonado pela cidade, disse que há muitos anos pensava em vir para a América Latina, mas nunca houve um convite. O brilho nos olhos fica ainda mais evidente quando ele começa a contar sobre como ele gosta de quadrinhos e arte. “Dois dos meus ilustradores favoritos são brasileiros, Fábio Moon e Gabriel Bah, pedi para eles fazerem o pôster do meu show aqui e eles toparam. Eu os convidei para o show, espero que tenham vindo, sou muito fã do trabalho deles”. Eles foram, e Nutini fez questão de tirar uma foto (abaixo) e agradecê-los durante o show.
Sobre o momento de vida atual, Nutini diz que quer um tempo para ele depois da mini turnê pela América Latina, que também incluiu Chile e Argentina. “Quero parar com as festas. Preciso chegar naquele ponto em que você consegue absorver as coisas da vida. Às vezes, se estou muito eufórico, acho difícil conseguir tempo para escrever”, explica. Sua ideia é parar e fazer um álbum para o ano que vem. “Prefiro ter tempo. Gosto de ter minhas experiências, porque senão o álbum se transformaria [em um relato] sobre a minha vida no ônibus da turnê, no avião, no backstage, eu não sei se as pessoas querem ouvir sobre isso”, completa.
Questionado sobre o processo de composição, Nutini enfatiza a importância de se conectar com o público. “Na escola em que cresci, nunca fui capaz de mostrar minhas vulnerabilidades, porque dizem que homens não podem chorar. Esse estereótipo atrapalha muito. Por isso que amo fazer música, porque é um jeito de mostrar as minhas vulnerabilidades de uma forma construtiva. E é isso que cria uma conexão entre mim e o público.”
A vontade de voltar ao Brasil é um ponto que Paolo Nutini enfatiza inclusive na hora de citar alguns artistas que está ouvindo no momento. “Sou muito fã de Cansei de Ser Sexy e Sergio Mendes. Sempre achei um pouco rebelde ouvir esse vinil que tinha na casa do meu avô. Acredito que esse foi o show para ter um primeiro contato com o Brasil. Quero voltar com certeza.”