Música por união

"Me dei conta de que a melhor música que tinha ouvido na vida foi a caminho do estúdio, e não nele", conta Mark Johnson, fundador do projeto Playing For Change

Por Patrícia Colombo

Publicado em 16/06/2011, às 19h29
Mark Johnson segue com o projeto Playing for Change e está no Brasil para a divulgação do álbum <i>Songs Around The World, Parte 2</i> - Divulgação
Mark Johnson segue com o projeto Playing for Change e está no Brasil para a divulgação do álbum <i>Songs Around The World, Parte 2</i> - Divulgação

"Uma vez nós fomos à África do Sul gravar com alguns músicos em Soweto. Para que ficassem interessados no projeto, eu mostrava um vídeo no meu iPod. Eu mostrei a esse dois caras, eles assistiram, ficaram surpresos e muito felizes. Quando foram embora, um amigo me disse que se tratavam dos gangsters locais que, como gostaram do que eu estavam fazendo, pediram para avisar que eu estaria seguro por lá." Quem conta a é história é o produtor e cineasta Mark Johnson, fundador do projeto Playing For Change. Ele narra a anedota para exemplificar o "poder da música".

A criação de Johnson se tornou conhecida: ele junta músicos (de rua ou não) do mundo todo e elabora covers de faixas conhecidas. As gravações são feitas ao ar livre e em diversos locais do globo. A equipe está atualmente em turnê pelo Brasil para divulgar o álbum Songs Around The World, Parte 2, que dá sequência ao material lançado em 2009 - cuja popularização, de certa forma, se deu a partir do vídeo do cover de "Stand by Me", que teve mais de 30 milhões de acessos no YouTube. Em entrevista à Rolling Stone Brasil, o produtor conta que a ideia do projeto, cuja função é a de conectar pessoas e culturas a partir da música, surgiu há dez anos, quando ele estava a caminho de seu estúdio, em um dia normal de trabalho. "Vi dois homens se apresentando no metrô de Nova York, um tocava guitarra e o outro cantava", ele lembra. "Percebi que as pessoas sorriam com lágrimas nos olhos e me dei conta de que a melhor música que tinha ouvido na vida foi a caminho do estúdio, e não nele. Criei um estúdio móvel e passei a viajar o mundo."

Ao realizar filmagens ao ar livre, Johnson conta que seu principal desafio é o de lidar com as condições climáticas. "Primeiro, tenho que me resolver com a mãe natureza", brinca, revelando que chuva e vento sempre acabam sendo um empecilho nos encontros. Tendo começado somente com artistas de rua, esta também foi uma outra dificuldade do projeto: a de encontrar figuras musicais. O fundador, no entanto, revela ter tido sorte. "Os primeiros com quem gravamos foram Roger Ridley e Grandpa Elliot", diz. "Há boa música em todos os lugares." E sobre ela, Johnson não economiza palavras. "A música é a melhor ferramenta para cura de países e corações partidos. É a melhor forma de comunicar um coração a outro. Não se trata de pregação, mas de uma real emoção humana. Podemos, com ela, destruir as paredes que nos separam - raças, religiões, políticas diferentes", ele filosofa.

O novo álbum do projeto (para o qual eles passaram por 15 países e gravaram com mais de 150 músicos) traz a brasileira Sandra de Sá na música inédita "Satchita" (cantando com o cabo-verdiano Ilo Ferreira). "As faixas escolhidas estão relacionadas com o local para onde vamos e quais estilos poderemos usar. Muitas das coisas do novo álbum começaram no oeste da África, então pegamos coisas de instrumentos típicos do lugar. Depois, como sabíamos que viríamos ao Brasil, queríamos algo relacionado ao país", explica o fundador. O mix de referências musicais - blues, reggae, samba, rock -, para ele, só dá certo e resulta em canções coesas porque não há ego envolvido por parte dos músicos. "Quando ouvem a canção, pensam: 'Como posso tornar isso melhor?' e não 'Como posso parecer melhor nisso?'", argumenta. O público poderá ouvir versões diferenciadas para faixas como "Three Little Birds" e "Redemption Song" (Bob Marley) e "Higher Ground" (Stevie Wonder).

Esta é a primeira turnê do Playing For Change no Brasil e a equipe, que tocou no Bourbon Street, em São Paulo na quarta, 15, passa ainda pelo 10º Jazz Festival Brasil, em Belo Horizonte (MG) nesta quinta, 16, e pelo 3º Bourbon Festival, em Paraty (RJ), no dia 18. "É um sonho porque você consegue entrar em contato com todas essas culturas diferentes", comenta Johnson, sobre suas viagens ao redor do mundo. "Você percebe que temos muitas semelhanças e também diferenças belas. Culturas e histórias diferentes. E quando você trabalha com a música, chega ao coração do local." A banda, atualmente, é composta por Mohammed Alidu (Gana - percussão), Clarence Bekker (Suriname - vocal), Peter Bunetta (Estados Unidos - bateria), Roberto Luti (Itália - guitarra), Mermans Mosengo (Congo - vocal), Soyaphi Mhlanga (África do Sul - guitarra), Juan Portillo (Venezuela - baixo), Grandpa Elliott (Estados Unidos - vocal e harpa), Jason Tamba (Congo - violão e vocal) e Ruth Tsira (África do Sul - vocal).

Playing For Change

São Paulo, SP

Quarta, 15, a partir das 22h

Bourbon Street - Rua dos Chanés, 127

Ingressos esgotados

Informações: (11) 5095-6100

Belo Horizonte, MG

Quinta, 16, a partir das 21h

Teatro Oi Futuro Klauss Vianna - Av. Afonso Pena, 4.001

Ingressos esgotados

Informações: www.soubh.com.br

Paraty, RJ

Sábado, 18, a partir das 23h, no palco da Matriz, ao lado da Igreja da Matriz

Evento gratuito

Informações: www.bourbonfestivalparaty.com.br