A banda que incendiou o movimento do hardcore californiano se prepara para passagem por Curitiba, Americana, Recife e São Paulo, com quatro shows em quatro dias
Dentre todas as lutas e reivindicações da música politizada feita pelo Dead Kennedys, a batalha contra o tempo é em vão. O mundo já não é mais o mesmo desde 1978, quando o grupo foi fundado. O próprio DK alterou sua formação desde então: Ted, o baterista, e Jello Biafra, vocalista, não estão mais com a banda. Atualmente, os fundadores Klaus Flouride (baixo) e East Bay Ray (guitarra) somam-se a D. H. Pelegrino (bateria) e Skip McSkipster (voz). É com essa formação que eles voltam ao Brasil, para uma turnê de quatro shows em quatro dias.
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A mini-maratona passa por Curitiba (Music Hall, dia 18 de abril), Americana (Espaço Americana, 19 de abril), Recife (no Chevrolet Hall, como parte do festival Abril Pro Rock, 20 de abril) e São Paulo (Via Marques, 21 de abril). Segundo Klaus, é pouco para a banda que estava acostumada a seguir em turnês longas, com datas seguidas. Isso está longe de esbarrar na célebre frase de que “o punk morreu”, ou coisa do tipo, mas é um sinal dos tempos. “Infelizmente, passaremos com pressa por todos esses lugares”, lamenta o baixista, por telefone, de São Francisco, na Califórnia, onde mora atualmente. “Mesmo que não consigamos conhecer os lugares. Não temos mais 25 anos, mas faremos nossos melhores shows”, diz ele.
A turnê leva o nome do primeiro single lançado pela banda, “California Über Alles”, lançado em junho de 1979, e terá a abertura da banda Fang, outro grande grupo do circuito do hardcore californiano do início dos anos 80 – em São Paulo, elas ainda são antecedidas pela brasileira Oitão.
A escolha por batizar a série de apresentações pelo primeiro single diz muito sobre o próprio espírito da banda quando pega estrada. “Queremos conhecer as pessoas. Após os shows, depois de alguns minutos, queremos sair e conhecer as pessoas, nossos fãs”, diz ele. “Nos achem”, brinca. Também em São Paulo, no dia seguinte ao show,22, a banda fará uma tarde de autógrafos na loja de discos London Calling Discos (Rua 24 de Maio, 116, sobreloja 15), a partir das 14h.
Já no Abril Pro Rock, em Recife, o Dead Kennedys encontrará outro nome norte-americano quase contemporâneo a eles, a banda Television. Mas, enquanto o grupo de Klaus já vivenciava o punk combativo que deu origem ao harcore californiano, a trupe liderada por Tom Verlaine experimentava solos densos de guitarra numa cena pré-punk, que unia de Patti Smith a Blondie até Ramones, do outro lado do país, em Nova York. “Ficávamos sabendo que acontecia por lá através das rádios alternativas, das revistas”, relembra ele. “Mesmo antes da internet, havia um movimento underground que espalhava as músicas”. “O Television tem ótimas músicas, será interessante vê-los ao vivo”.
Os shows percorrerão os quatro discos de estúdio da banda, Fresh Fruit for Rotting Vegetables (1980), Plastic Surgery Disasters (1982), Frankenchrist (1985) e Bedtime for Democracy (1986). A maior mudança do grupo que passou por aqui em 2001, contudo, não está nas canções, e, sim, no vocalista da banda. Skip é o atual responsável por substituir Jello Biafra – posto pelo qual já passaram Brandon Cruz (de 2001 a 2003) e Jeff Penalty (de 2003 a 2008).
A banda já não lança músicas inéditas há algum tempo, já que compor é algo difícil para eles, que moram em pontos distantes nos Estados Unidos. Em 2010 veio “MP3 Get Off The Web”, uma música que critica a prática do download ilegal de música, responsável por devastar a indústria desde o início dos anos 2000. Trata-se também de uma versão nova de “MTV Get Off The Air”.
O surgimento do MP3 e da tal “música livre” é alvo do DK, não pela forma anárquica pela qual se dá a troca de arquivos. “Não queremos que as músicas saiam da web”, explica Klaus. “Sabemos que as músicas são coisas vivas, mas o MP3 tira a qualidade das canções, os músicos querem que elas sejam ouvidas como foram criadas.”
Klaus também acredita que é preciso pagar pela música. “Por exemplo: uma banda lança quatro músicas, uma de graça e outras três que precisam ser pagas. As pessoas dizem que as quatro deveriam ser liberadas. Mas se você quer ouvir, precisa pagar. Ou você pensa em tomar um vinho, vai até a loja, pega uma garrafa e vai embora sem pagar”, justifica ele. “A indústria está ferrada.”
Para Klaus, o conceito de anarquia, citado pelos apoiadores da pirataria musical, foi deturpado com o passar dos anos. “A anarquia não é aquilo que se diz na escola de ‘eu tenho uma bomba nas minhas mãos e posso fazer o que quiser’. Anarquia e tomar conta de si e das pessoas ao redor. Se você estiver dirigindo no meio do interior, vê um sinal vermelho no trânsito e não tem carro cruzando do outro lado, você poderia parar. Mas, na hora do rush, aquele mesmo sinal tem sua serventia. É preciso ter regras e entendê-las”, diz Klaus. “É até engraçado que um punk rocker diga que é preciso ter regras”, completa ele, rindo. De novo, um sinal dos tempos.
Dead Kennedys em Curitiba
Quinta, dia 18 de abril, às 20h
Abertura: Fang
Local: Music Hall – R. Engenheiro Rebouças, 1645 - Rebouças
Entrada: De R$ 75 a R$ 130 (quem doar um quilo de alimento não perecível poderá comprar meia-entrada).
Informações e ingressos: pelo telefone (41) 3026-5050 e pelo site
Dead Kennedys em Americana
Sexta-feira, dia 19de abril, às 22h
Local: Espaço Americana - Av. Bandeirantes, 2.345 - Centro
Entrada: de R$ 60 a R$ 200
Informações e ingressos: pelo telefone (19) 4122-3074 e pelo site
Dead Kennedys em São Paulo
Domingo, dia 21de abril, às 18h
Abertura: Fang e Oitão
Local: Via Marques - Av. Marquês de São Vicente, 1.589 - Barra Funda
Entrada: na pista, de R$ 80 (1º lote) a R$ 120 (na porta); no camarote, de R$ 120 (antecipado) a R$ 150 (na porta).
Informações e ingressos: pelo telefone (11) 3611-2696 e pelo site